O JOVEM RICO - LIBERTAÇÃO DAS POSSES

BLOOM Anthony, Metropolita de Sourozh
tradução de monja Rebeca (Pereira)


Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

O Senhor nos adverte hoje sobre quão difícil é para um homem rico entrar no Reino de Deus.

Isso significa que o Reino de Deus está aberto apenas aos destituídos, aos que são materialmente pobres, aos que carecem de tudo na terra? Não. O Reino de Deus está aberto a todos os que não são escravizados pelas posses. Quando lemos a primeira bem-aventurança, "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus", nos é dada uma chave para essa afirmação: os pobres de espírito são aqueles que compreenderam que não possuem nada de si mesmos. Fomos criados como um ato de Deus, amados à existência; Deus nos oferece comunhão com Ele, à qual não temos direitos. Tudo o que somos, tudo o que possuímos não nos pertence, no sentido de que não o fizemos, não criamos o que é aparentemente nosso — tudo o que somos e temos é amor — o amor de Deus e o amor das pessoas. E não podemos possuir nada, porque tudo é um dom que nos escapa no momento em que queremos tomar posse dele e dizer: “É meu”.

Por outro lado, o Reino de Deus é, na verdade, o reino daqueles que têm consciência de serem infinitamente ricos, porque podemos esperar tudo do amor divino e do amor humano. Somos ricos porque não possuímos nada, somos ricos porque recebemos todas as coisas. Assim, é difícil para alguém que se imagina rico por direito próprio pertencer àquele reino em que tudo é sinal de amor e nada pode ser possuído, por assim dizer — tirado dos outros; porque, no momento em que dizemos possuir algo que não nos é dado por Deus ou pelo cuidado humano, subtraímo-lo do mistério do amor.

Por outro lado, no momento em que nos apegamos a qualquer coisa, tornamo-nos escravos dela. Lembro-me de quando era jovem, um homem me disse certa vez: "Você não entende que, no momento em que você pega uma moeda de cobre e não está preparado para abri-la e soltá-la, você perde o uso de uma mão, o uso de um braço, o uso do seu corpo? Porque toda a sua atenção estará concentrada em não perder essa moeda de cobre — o resto será esquecido."

Quer tenhamos em nossas mãos uma moeda de cobre, quer nos sintamos ricos de tantas outras maneiras — intelectual, emocional ou materialmente — é irrelevante. Somos prisioneiros, perdemos o uso de um membro, o uso da mente, o uso do coração; não podemos mais ser livres, e o Reino de Deus é um reino de liberdade.

Por outro lado, como é difícil para alguém que nunca teve falta de nada, que sempre possuiu mais do que precisa, estar ciente da pobreza ou da necessidade do outro — sua pobreza material, emocional ou intelectual, ou qualquer outra carência. Isso requer muita compreensão e compaixão, exige de nós que aprendamos a estar atentos aos movimentos do coração de outras pessoas e às suas necessidades materiais para podermos atendê-las. Há um antigo ditado russo: Uma pessoa satisfeita não entende mais uma pessoa faminta. Quem de nós pode dizer que está com fome em algum aspecto? E é por isso que não entendemos as necessidades das pessoas — aqui, ou das pessoas além dos limites da nossa congregação.

Então, reflitamos sobre isso. Pobreza não significa miséria. Significa liberdade da escravidão à ilusão de que somos autossuficientes, autocontidos, criadores do que somos e possuímos. É também liberdade da escravidão ao que nos é dado, para nos tornar administradores de Deus.

Refletamos sobre isso; porque se aprendermos isso, se aprendermos o que São Paulo disse, que quer seja rico, quer seja pobre, é igualmente rico porque sua riqueza está em Deus e no amor humano. Então seremos capazes, quer possuamos bens materiais ou não, de nos libertar deles e de pertencer ao Reino de Deus — que é um Reino de amor mútuo, de solidariedade mútua, de compaixão uns pelos outros, de dar uns aos outros o que nos foi dado gratuitamente. Amém.
 

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