Do Túmulo ao Trono: A Escolha que Molda a Eternidade
THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro
“Se você der toda a sua vida à terra, a terra lhe dará um túmulo; mas se você der a sua vida ao céu, o céu lhe dará um trono.” Santo Efrém, o Sírio
Vivemos em um mundo sedento por conquistas visíveis, efêmeras e tangíveis: sucesso, status, conforto e segurança. Mas os Santos Padres da Igreja nos alertam, com clareza profética, que essas coisas têm um preço e um fim. As palavras de Santo Efrém, o Sírio, são especialmente urgentes para nós: a vida dada à terra termina no pó; a vida dada ao céu floresce na glória eterna.
Nosso Senhor Jesus Cristo, em Sua infinita sabedoria, nos ensinou sobre essa escolha:“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu...” (Mateus 6,19-20)
Cada ato nosso, cada desejo, cada esforço é uma semente plantada ou na terra que passará, ou no Reino que não tem fim. A vida centrada no ego, no prazer ou no acúmulo, cedo ou tarde se revela vazia. Ao contrário, uma vida entregue a Deus, cultivada com oração, humildade e amor ao próximo, germina em frutos eternos.
Os que vivem apenas para os prazeres terrenos são como o rico da parábola contada por Jesus (Lucas 16,19-31), que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava todos os dias, mas ignorava Lázaro, o pobre à sua porta. O rico morreu, foi sepultado e, na eternidade, experimentou o vazio de uma vida vivida apenas para si mesmo.
São João Crisóstomo advertia: “A riqueza é boa quando está nas mãos; mas quando entra no coração, ela nos cega.”
A terra nos oferece apenas um destino: o túmulo. Mesmo os impérios caem. Os corpos voltam ao pó. Os monumentos se tornam ruínas. O coração que pertence à terra, com ela perecerá.
Em contraste, os que vivem para Deus recebem outro destino. Como nos diz São Paulo: “Se com Ele sofremos, com Ele também seremos glorificados.” (Romanos 8,17)
Os mártires, os monges, os pais e mães santos, os fiéis silenciosos que ofereceram sua vida a Deus, são hoje chamados "reis com Cristo", pois “reinarão com Ele” (Apocalipse 20,4). A renúncia ao mundo, por amor ao Reino, não é perda, mas troca gloriosa.
Santo Isaque, o Sírio, afirma: “O coração que provou do amor de Deus não deseja mais nada neste mundo.”
Não se trata de abandonar o mundo exterior, mas de redirecionar o mundo interior. Um médico, uma dona de casa, um estudante — todos podem dar sua vida ao céu, se viverem com retidão, oração, arrependimento e serviço. Santo Efrém nos convida a essa vigilância interior, a essa entrega contínua da vontade própria para viver na vontade de Deus.
Como disse Santo Antônio, o Grande: “Haverá um tempo em que os homens ficarão loucos, e quando virem alguém que não é louco, eles o atacarão dizendo: ‘Você é louco!’ — porque não é como eles.”
Ser de Deus num mundo voltado para si mesmo parece loucura. Mas é loucura santa, que conduz ao trono celeste.
O túmulo ou o trono, a terra ou o céu. Deus nos deu a liberdade de escolher, mas nos revelou o fim de cada caminho. Santo Efrém nos recorda que tudo nesta vida é provisório, menos a decisão que tomamos de a quem pertencemos.
Vivamos com os olhos no céu, com os pés na terra, e com o coração no Senhor. Pois como disse São Serafim de Sarov: “O objetivo da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo."
A terra guarda os que vivem para ela.
O céu coroa os que vivem para Deus.
E nós, o que escolheremos?
23.07.2025
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