A VIRGEM MARIA NÃO MORREU, MAS ADORMECEU. TODAVIA, A VIDA NÃO DORME UM SEGUNDO SEQUER...

monja ELIZABETH (Senchukova)

tradução de monja Rebeca (Pereira)

Por que a Santíssima Virgem permaneceu invulnerável à morte? 

O que significa que ela adormeceu, e os apóstolos, abrindo seu túmulo, não encontraram nada?

Por que suas orações não são apenas poderosas, mas também salvadoras?

A memória dos justos é geralmente celebrada no dia de sua morte terrena. A Santíssima Virgem Maria não é exceção, portanto, podemos considerar a Dormição como Sua festa principal. E não é assim chamada por acaso: Ela não morreu, mas adormeceu. O que isso significa?

A questão é que Sua partida foi temporária e de curta duração – como um sonho, após o qual vem o despertar.

A morte é uma consequência direta do pecado, ou melhor, da pecaminosidade. "Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte" (Rm 5:12). Esse homem foi chamado Adão, que significa "homem". Até certo ponto, podemos dizer que o pecado entra no mundo com cada pessoa, e seu pecado, a morte. Mas a Virgem Maria não trouxe o pecado ao mundo, o que significa que a morte não pode vir d´Ela, nem mesmo a Sua própria. Mas, como o homem é vulnerável à morte desde o início da história, Ela, o Querubim mais honroso e o Serafim mais glorioso, também não pôde escapar. Acontece que a morte foi, por assim dizer, "sufocada" por Sua justiça. Isso se tornou possível após a vitória de Cristo sobre a morte – Ele foi o primeiro a quebrar seus grilhões, e desde então a onipotência da decadência foi minada. A decadência é temporária, até a ressurreição geral. Que, aliás, já começou – começou com a Virgem Puríssima.

O corpo da Mãe de Deus não pode se decompor, porque Sua alma não foi corrompida, e alma e corpo estão conectados (sua ruptura é chamada de morte).

O ensinamento ocidental sobre a ascensão corpórea da Mãe de Deus, aceito pela Igreja Católica como verdade doutrinária, precisa ser esclarecido. A Virgem morreu, a separação da alma do corpo era natural: Seu corpo adormeceu, mas a alma ascendeu ao Céu – e, por assim dizer, atraiu-a para si, porque não tem lugar na terra. O Senhor a priva daquela densidade na qual a decadência parasita – a fim de encontrar a Mãe.

Simbolicamente, isso se expressa no ícone festivo, onde Cristo segura Sua alma, envolta como um bebê inocente. Assim, Ele toma a Mãe para Si, e Ele é a Vida.

É por isso que os apóstolos, como testemunha a Santa Tradição, ao abrirem Seu túmulo, não encontram ninguém nem nada. A carne, as vestes de couro dadas a Adão após a queda, foram para o céu, ao qual o homem liberto deveria pertencer.

É sobre isso que se canta o tropário da festa: "Ela adormeceu para a Vida, sendo a Mãe da Vida". Tendo sido introduzida na Vida eterna, Ela Se torna parte dela e, sendo a Mãe Perfeita do Deus Perfeito, Ela abraça a todos com Seu cuidado. É por isso que Ela não abandona o mundo com Suas orações, e é por isso que Suas orações não são apenas poderosas – elas são salvadoras, assim como a própria vida o é.

A vida sempre confronta a morte e sempre vence – isso acontece em todos os níveis da existência, desde as bactérias até as Forças Celestiais lutando contra as forças das trevas.

Se não fosse assim, o universo já seria um túmulo contínuo. A vida nunca dorme por um segundo.

A Mãe de Deus é a personificação da vida e Ela também não fecha os olhos na batalha contra a morte por nossas almas.