Ninguém Bagunça a Sua Casa Se Você Não Der a Chave
THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro
São Macário do Egito fala da alma como um santuário, um templo, e adverte: "Assim como a casa de um rei tem muitos tesouros e guardas em volta, assim deve ser tua alma: bem guardada, vigiada, selada com oração e jejum, para que nenhum ladrão entre." A “casa” que somos é templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6,19), e por isso deve ser tratada com reverência e discernimento. Entregar a chave a qualquer um — isto é, permitir que pessoas, pensamentos ou influências nocivas invadam tua paz — é abdicar da responsabilidade como guardião do templo de Deus.
Os Santos Padres nos ensinam a importância do discernimento. São João Cassiano dizia que "sem discernimento, até as boas intenções podem levar à ruína." Muitos problemas espirituais começam quando abrimos portas indiscriminadamente: deixamos entrar conselhos errados, amizades destrutivas, emoções não purificadas e até doutrinas falsas. Por isso, a vigilância ("nípsis" ou "népsis", na tradição oriental) é uma virtude monástica essencial, mas também indispensável para todo cristão. Jesus mesmo alertou: "O que vos digo a todos: vigiai!" (Marcos 13,37).
O Apocalipse nos dá uma poderosa imagem: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir Minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele" (Apocalipse 3,20). Cristo é o único digno de ter a chave do nosso coração. Ele não força a entrada, mas espera que Lhe demos livremente o acesso. Ao contrário do ladrão que vem para matar, roubar e destruir (João 10,10), Cristo entra para restaurar, ordenar e santificar.
São Teófano, o Recluso, alerta que o inimigo de nossa alma não invade à força, mas espera brechas, descuidos, momentos em que deixamos a porta entreaberta. Uma palavra não perdoada, uma ira mal resolvida, um desejo não confessado — tudo isso pode ser uma chave nas mãos erradas.
Por isso, é necessário cultivar a oração incessante, a confissão frequente, a comunhão com os santos e a leitura das Escrituras como formas de manter a casa espiritual limpa e bem trancada.
Se a sua vida estiver em desordem, pergunte-se: a quem entreguei as chaves? A quem estou permitindo acesso ao meu templo interior?
A maturidade espiritual exige vigilância e firmeza. Com o auxílio de Deus, da oração e do ensinamento dos Santos Padres, podemos aprender a dizer "não" às vozes do mundo e "sim" à voz de Cristo, guardando nossas portas com sabedoria.
Afinal, ninguém bagunça a sua casa se você não der a chave.
Que possamos dar, então, a chave ao nosso verdadeiro Senhor, para que Ele reine em paz sobre a casa que somos.
"Guarda, pois, tua alma com toda diligência." (cf. Provérbios 4,23)
"Cristo deve habitar em nossos corações como em um trono, e não como em uma casa abandonada", como diz São João Crisóstomo.
29/07
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