THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro
Em todas as épocas, a humanidade enfrentou o dilema entre escolher o caminho fácil, repleto de vantagens imediatas, e o caminho estreito da verdade, que exige coragem, renúncia e fé. Essa tensão se manifesta claramente entre duas atitudes opostas: a do bajulador e a do homem honesto. O primeiro escolhe o lado da conveniência, moldando suas palavras para agradar os poderosos, conquistar benefícios e manter-se protegido. O segundo escolhe a verdade, mesmo que esta lhe custe a reputação, a segurança e, em alguns casos, a própria vida.
A Sagrada Escritura é clara quanto ao perigo da bajulação. O livro dos Provérbios adverte: “O homem que bajula seu próximo arma-lhe uma rede aos passos.” (Provérbios 29,5)
O bajulador não busca o bem do outro, mas o seu próprio interesse. Ele é como uma serpente que se arrasta entre os corredores do poder, dizendo o que convém, omitindo o que é justo, e defendendo o indefensável, contanto que sua posição pessoal seja preservada.
Os Santos Padres da Igreja Ortodoxa condenam firmemente essa atitude.
São João Crisóstomo escreve: “Nada é tão nocivo à alma quanto a lisonja. O bajulador, com palavras doces, envenena como o escorpião, destruindo a verdade e a justiça.”
Para o bajulador, o bem e o mal não existem como absolutos, mas como instrumentos para obter vantagem. Ele adapta seu discurso ao sabor dos ventos, e sua fidelidade pertence àqueles que o beneficiam. No fundo, ele trai a Deus para ser aceito pelos homens.
Em contraste, a honestidade é uma forma de martírio contínuo. É escolher a verdade, não por conveniência, mas por fidelidade a Cristo, que disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (João 14,6)
O homem honesto não teme perder a aprovação do mundo, porque sabe que seu Juiz é o Senhor. Ele não teme denunciar o pecado, nem apontar as injustiças, ainda que isso o isole, o empobreça ou o faça ser perseguido.
São Máximo, o Confessor, foi torturado e teve a língua cortada por não se calar diante da heresia, porque escolheu a verdade, não a vantagem.
Santo Atanásio foi exilado cinco vezes por resistir ao arianismo.
São João Batista foi decapitado por ter a coragem de dizer a Herodes: “Não te é lícito ter a mulher de teu irmão.” (Marcos 6,18)
Esses exemplos mostram que a honestidade na fé é incompatível com a covardia. A verdade cristã não é negociável. Como afirma São Basílio, o Grande: “Os tempos exigem não só palavras, mas coragem. Não devemos ser cães mudos nem sentinelas sonolentas.”
A vantagem do bajulador é passageira. Ele pode conquistar o favor dos homens, mas perderá o favor de Deus. O homem honesto pode ser rejeitado aqui, mas será acolhido no Reino dos Céus.
O Salmo 1 resume bem essa realidade: “O Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.” (Salmo 1,6)
A verdade, mesmo perseguida, permanece. A vantagem, mesmo protegida, se dissolve. Como disse São Gregório de Nissa: “Não é a multidão que torna algo verdadeiro, mas a Verdade que resplandece, mesmo se for dita por um só.”
A vida cristã é uma escolha contínua entre o conforto da mentira e a cruz da verdade. O bajulador prefere o presente; o honesto vive para a eternidade. Diante das injustiças do mundo, das pressões políticas, das manipulações sociais e eclesiásticas, somos chamados a seguir o exemplo dos profetas, dos apóstolos, dos mártires e dos santos. A fidelidade a Cristo nos custa caro, mas o preço da desonestidade é infinitamente maior.
Que cada fiel ortodoxo, em sua consciência, se pergunte diariamente: estou escolhendo o lado da vantagem ou da verdade?
“Sede firmes, inabaláveis, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, vosso trabalho não é vão.” (1 Coríntios 15,58).
31.07.2025
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