VOCÊ NÃO PODE VOLTAR E MUDAR O COMEÇO, MAS PODE COMEÇAR DE ONDE ESTÁ E MUDAR O FINAL

THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro


Muitos cristãos, em determinados momentos da vida, são assaltados pelo peso das escolhas erradas, pelas quedas espirituais e pelos pecados cometidos. Surge, então, uma tentação perigosa: acreditar que o passado define para sempre o destino, como se não houvesse mais possibilidade de restauração. No entanto, a fé cristã, iluminada pela Sagrada Escritura e pelo ensinamento dos Santos Padres da Igreja Ortodoxa, nos mostra que, embora não possamos voltar atrás e reescrever o início da nossa história, podemos — com arrependimento sincero, humildade e confiança em Deus — mudar radicalmente o fim.

O Senhor Jesus Cristo proclama no Evangelho:“Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (Lc 5,32).

Estas palavras revelam o coração da mensagem cristã: Deus não nos pede um passado sem falhas, mas um presente aberto ao arrependimento e um futuro convertido ao Seu amor. O arrependimento não é um sentimento de culpa estéril, mas uma metanoia, ou seja, uma mudança de mente, de direção e de vida.

São João Crisóstomo ensina: “Não te envergonhes de voltar-te para Deus, mesmo depois de muitas quedas. Não é o pecado em si que nos leva à perdição, mas a falta de arrependimento”.

Aqui está o grande segredo: mesmo que nossa história esteja manchada por fraquezas e erros, sempre há a possibilidade de uma página nova, escrita com lágrimas de arrependimento e a graça de Deus.

A transformação do final da história de cada pessoa só é possível se houver humildade. O orgulho nos faz permanecer no erro, buscando justificativas para nossas falhas. A humildade, ao contrário, nos leva a reconhecer que somos fracos, necessitados da misericórdia divina.

O salmista, arrependido de sua queda, proclama:“Um coração contrito e humilhado, ó Deus, não desprezarás” (Sl 51,19).

Santo Isaac, o Sírio, confirma esta verdade ao dizer: “O arrependimento é a segunda graça, e nasce do coração quebrantado. Ele é o caminho que nos conduz à vida eterna”.

Assim, a humildade diante de Deus e dos irmãos é a porta que abre o coração para a cura e para a salvação.

Não podemos apagar o que foi feito, mas podemos decidir, a cada instante, como viver daqui para frente. O ladrão arrependido na cruz é o maior exemplo: sua vida foi marcada por crimes e injustiças, mas, no instante final, sua humildade e fé em Cristo o levaram a ouvir:“Hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lc 23,43)

Isso nos ensina que nunca é tarde demais para mudar o final. A cada respiração, o Senhor nos concede a oportunidade de recomeçar, de transformar as lágrimas de arrependimento em sementes de salvação.

Não podemos voltar e mudar o começo, mas podemos — com arrependimento sincero, humildade verdadeira e confiança em Deus — mudar o final. Este é o mistério da misericórdia divina: Deus escreve uma nova história a partir do momento em que reconhecemos nossos pecados e nos voltamos para Ele.

Como diz São João Clímaco na Escada Espiritual: “O arrependimento é o pacto com Deus para uma vida nova. É a reconciliação com o Senhor pela prática das boas obras contrárias às faltas cometidas.”

Portanto, que cada um de nós, reconhecendo suas fraquezas, volte-se para Cristo, o Médico das almas. Se não podemos alterar o ontem, podemos hoje decidir pelo caminho da vida, e, assim, pela graça, alcançar a salvação que nunca nos é negada quando buscamos com coração sincero.

17/09/2025

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