REFLEXÃO SOBRE O ENCONTRO DE DOIS BISPOS NO CORAÇÃO DA IGREJA VIVA
THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro No silêncio sagrado de um vilarejo antioquino, onde repousam as relíquias de São Rafael de Brooklyn, o tempo parece se diluir. O passado, o presente e a eternidade convergem na memória viva da Igreja Ortodoxa. Ali, um bispo santo que percorreu mares e terras para levar a fé até as Américas encontra espiritualmente um bispo vivo, herdeiro da mesma tradição e chamado à mesma missão.
O encontro é profundamente real: porque a Igreja não vive em fragmentos de séculos, mas numa única respiração que atravessa as gerações. O bispo santo, cuja vida foi marcada pelo zelo pastoral, pelo cuidado dos imigrantes e pela fidelidade à Igreja Mãe de Antioquia, olha com ternura para o bispo de hoje, que carrega nos ombros as angústias e esperanças do seu povo no meio de um mundo instável.
Naquele instante, não há distância: a mesma graça que sustentou São Rafael sustenta também o sucessor da mesma fé. O bispo vivo contempla as relíquias e compreende que não está sozinho, que o testemunho dos santos é uma corrente inquebrável que sustenta cada passo de seu serviço episcopal. São Rafael é mais que uma memória, é um irmão que permanece presente, intercedendo, inspirando, corrigindo e fortalecendo.
Essa cena é ícone da própria Igreja Ortodoxa: uma comunhão diacrônica. As mãos levantadas de um bispo no Brooklyn do início do século XX continuam levantadas no gesto litúrgico e pastoral de um bispo do século XXI. As lágrimas de compaixão derramadas por um pai espiritual em Nova Iorque se tornam as lágrimas de oração de um pastor no Rio de Janeiro, no Líbano, na Síria ou em qualquer outro lugar onde a Igreja de Cristo se manifesta.
No vilarejo, o silêncio é um diálogo. O bispo vivo diz: “São Rafael, ensina-me a amar meu rebanho como tu amaste o teu.” E o bispo santo responde no coração: “Sê fiel até o fim, porque o mesmo Cristo que me fortaleceu é Aquele que caminha contigo.”
Assim, a Igreja mostra sua beleza: ela não é uma mera instituição, mas um organismo vivo, onde os santos continuam a ser mestres e companheiros. O encontro entre os dois bispos é a prova de que a sucessão apostólica não é somente uma linha histórica, mas uma corrente de vida no Espírito Santo, que une, fortalece e envia.
E o bispo vivo, saindo daquele lugar, compreende com mais clareza: sua missão é continuar a escrever, com a própria vida, as páginas da mesma história que começou com os Apóstolos e que se perpetua nos santos. Uma história que nunca envelhece, porque é a própria vida de Cristo que pulsa em Sua Igreja.
25.08.2025
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