MENSAGEM NO INÍCIO DO ANO NOVO ECLESIÁSTICO

Metropolita TIKHON de Toda América e Canadá
tradução de monja Rebeca (Pereira)



Ao Clero, Monásticos e Fiéis da Igreja Ortodoxa na América,
Meus Amados Filhos no Senhor,
Feliz festa e feliz Ano Novo!

Tu visitaste a terra e a embriagaste; Tu a enriqueceste abundantemente. O rio de Deus está cheio de águas; Tu preparaste o seu sustento, pois assim é a sua preparação. – Salmo 64:9

O mundo celebra seu Ano Novo civil em meio ao inverno do Hemisfério Norte, no frio e escuro do início de janeiro. De fato, de acordo com a antiga cronologia romana, esse período do ano era tão sombrio que era praticamente acalendário: março era originalmente o primeiro mês do calendário romano, e dezembro o décimo e último, com aqueles dias sombrios de inverno rigoroso, nossos janeiro e fevereiro, situando-se fora do horário social normal.

Na Igreja, por outro lado, celebramos nosso Ano Novo no auge da colheita, na estação de maior abundância: "A primavera é bela, mas o outono é abundante", parafraseando um ditado russo. Isso se reflete na salmodia que cantamos nesta festa: "Abençoas a coroa do ano com a Tua bondade, e os Teus campos se fartarão de riqueza" (Sl 64:11).

“O rio de Deus” – “teus campos”. Essas palavras nos lembram que o mundo natural, com toda a sua abundância e beleza, é criação de Deus e pertence a Ele. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam” (Sl 23:1). O homem é colocado neste mundo como seu administrador, não como seu mestre ou proprietário final, e a criação ao nosso redor nos é dada não como um direito, mas como uma dádiva. Além disso, embora nos seja dado o domínio temporal sobre o nosso meio ambiente, o mundo natural, como todas as coisas que vêm de Deus, encontra seu verdadeiro significado quando é oferecido de volta a Ele. Somos chamados a ser não apenas administradores, mas sacerdotes, tomando o que nos é dado e oferecendo-o de volta ao Doador.

Neste ato de sacrifício – o sacramento, o mistério – encontramos e recebemos um dom ainda maior, o próprio Doador. A criação, a obra supérflua do amor de Deus, torna-se o próprio meio de encontro com Deus. No maior sacramento, a Eucaristia, oferecemos pão e vinho — a dádiva da terra de Deus, o trabalho de nossas mãos na administração — e recebemos de volta a Carne e o Sangue do próprio Deus.

Portanto, a criação é sagrada, não por alguma qualidade intrínseca, mas por sua origem e seu destino: ela vem de Deus e, quando usada corretamente, é devolvida a Deus. Assim, ao celebrarmos as dádivas do mundo natural neste Ano Novo eclesiástico, agradecendo devidamente a Deus, também somos chamados a avaliar nossa administração do mundo natural. Devemos garantir que usamos todos os bons dons deste mundo de forma responsável e moderada, sem explorar nossa administração ou abusar de nosso domínio.

Ressalto que este trabalho de administração, embora tenha dimensões comunitárias e sociais, é antes de tudo obra de cada ser humano, de cada cristão. Cada um de nós é chamado a oferecer nosso ambiente, nosso trabalho, nosso dia a dia, nossos espaços e lugares, nosso tempo, nossa própria respiração, de volta a Deus por meio da virtude, da generosidade, da ação de graças e da oração. Somos, todos nós e cada um de nós, chamados a compartilhar nossa generosidade, embelezar nosso domínio e exercer uma administração prudente das coisas confiadas aos nossos cuidados.

Assim, ao celebrarmos o Ano Novo, colhendo as bênçãos da terra, oro para que sempre participemos da extraordinária abundância da natureza com moderação, gratidão e generosidade para com os outros, exercendo adequadamente nosso papel de sacerdote e mediador — em e por meio de Cristo, o Grande Sumo Sacerdote e verdadeiro Mediador — oferecendo a Deus o que Lhe pertence, para que as próprias colinas se revestissem de alegria e os vales entoassem cânticos de hinos (Sl 64:13).

Ao nosso grande e eterno Deus, que coroa o ano com bondade e abundância, que por Seu poder criou as eras e ainda governa para sempre, antes, depois e além de todas as estações e tempos, que é um em Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo: a ele toda a glória, toda a gratidão e toda a adoração, agora e sempre e pelos séculos dos séculos.

Desejando a todos um abençoado Ano Novo e muitos anos abençoados pela frente,
Atenciosamente em Cristo,

+Tikhon
Arcebispo de Washington
Metropolita de Toda a América e Canadá



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