ADQUIRINDO A MENTALIDADE DA IGREJA

VLACHOS Hierotheos, Metropolita de Nafpaktos
tradução de monja Rebeca (Pereira)


Todos os cristãos, clérigos e leigos, muitas vezes se deram conta de que, se há um tema candente e uma grande necessidade contemporânea - é a necessidade de adquirir a mentalidade da Igreja. Nossa mente deve ser permeada pela mentalidade da Igreja. Nosso pensamento, vida, modo de viver, nosso desejo, nossa vontade devem ser alterados pela boa transformação efetuada pela vida da Igreja.

O apóstolo Paulo exorta: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Fp 2:5). Mas, visto que a Igreja não é uma organização humana, antes o santo e bendito Corpo de Cristo, também nós somos ordenados a pensar com a mentalidade católica da Igreja e a ser animados pela vida da Igreja, a não fazer nada à parte de sua vida e de seus ensinamentos.

Isso está ligado a dois fatos. Primeiro, há muitos cristãos hoje que não têm a mente da Igreja, isto é, sua mente está nas "coisas terrenas" (Fp 3:19). Sua mente está afastada da mente da Igreja; é simplesmente mundana. Sua vida não está em sintonia com a mente da Igreja. O outro fato é que adquirir a mente da Igreja está relacionado à "formação" de um homem, que está ligada à sua deificação. Na medida em que o homem tem uma mente impura e obscurecida, ele é uma criança e um bebê. À medida que cresce na iluminação de sua mente, ele também se torna homem, o que significa que ele é "cristificado" e "feito Igreja".

Nessa perspectiva, podemos analisar as palavras do apóstolo Paulo: "Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino; mas, logo que me tornei homem, acabei com as coisas de menino" (1 Co 13:11). Se esta passagem estiver associada ao que o Apóstolo disse antes e depois dela — onde ele estava falando do “perfeito” em relação ao que é “em parte” e sobre ver Deus “face a face” em relação a “ver em um espelho obscuramente” — então podemos entender que a mente da Igreja está conectada com a realização espiritual do homem, que consiste em participar da energia purificadora, iluminadora e deificante de Deus.

Muito se fala hoje sobre adquirir a mente da Igreja.

Às vezes, porém, não sabemos exatamente o que é a mente da Igreja. Identificamo-la com uma obediência cega a algumas leis gerais ou então a associamos a coisas exteriores. Geralmente pensamos que é a mente da Igreja quando outros nos aceitam. Mas se ousam questionar nossas ações, consideramos que lhes falta a mente da Igreja. Assim, dividimos as pessoas entre serem da Igreja ou não, por coisas externas e por características que construímos de acordo com nossas paixões.

Todos os santos Padres ensinam que a salvação do homem é uma combinação de sacramentos e ascetismo. Não podemos compreender os sacramentos sem ascetismo em Cristo, e não podemos viver uma vida ascética real sem os sacramentos da Igreja. Além disso, toda a vida na Igreja é a experiência de um grande mistério. Ascetismo é, na realidade, experiência dos mandamentos de Cristo, que se alcança pela participação na energia purificadora, iluminadora e deificante de Deus. Na medida em que alguém experimenta a energia purificadora, iluminadora e deificante de Deus, ele está experimentando corretamente a vida sacramental.

Ter uma mentalidade ortodoxa (phronema) significa a completa mudança de mentalidade de um homem em todas as coisas, desde a maneira como vive até o relacionamento que tem com Deus. E, literalmente, se o nous (intelecto espiritual, "olho" da alma) está obscurecido, então toda a mente é carnal. Mas se o nous está iluminado, o que significa que tem o Espírito Santo dentro dele, então toda a mente é uma mente espiritual e, claro, uma mente da Igreja.

Quando falamos em ter uma mente ortodoxa, queremos dizer principalmente que nosso nous é o nous de Cristo, como diz o apóstolo Paulo, ou pelo menos que aceitamos a experiência dos santos e temos comunhão com eles. Este é o caminho da vida da Tradição Ortodoxa e o caminho da vida de Cristo. A mentalidade ortodoxa é expressa pelos dogmas da Igreja, porque, por um lado, os dogmas expressam a vida que a Igreja tem e a revelação que os santos receberam e, por outro lado, eles conduzem as pessoas apaixonadas à unidade e comunhão com Deus.

Devemos dizer, neste ponto, que a teologia da Igreja é ascética, isto é, define os métodos de cura para que o homem alcance a deificação. Assim, os dogmas expressam a revelação e a vida que a Igreja possui, e também curam o homem e o conduzem à deificação. São sinais espirituais. Nesse sentido, podemos dizer que os dogmas salvam o homem e o santificam. Isso acontece porque o curam e lhe dão a orientação correta em seu caminho para Deus.

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