NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS: PROGRESSO ESPIRITUAL
ZACHAROU Zacarias, Arquimandrita
tradução de monja Rebeca (Pereira)
Assim como Cristo desceu primeiro às partes mais baixas da terra e depois ascendeu acima dos Céus, o amor humilde ergue uma escada no coração do homem. A mesma escada que Cristo usou para descer até o homem, o homem usa para ascender a Deus, pois "em seu coração ele propôs subir".[1] O homem, então, guiado pelo Espírito de Deus, reprime práticas pecaminosas, erradica desejos e maus pensamentos que são inimizade contra Deus. Ele é curado da pestilência do pecado, cultivando o anseio pelos bens celestiais, realizando obras que agradam a Deus, entrando na expansão celestial do santo amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ele progride "de força em força"[2], tornando-se filho e herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo.
Deus sabia que ninguém, por si só, seria capaz de receber toda a riqueza dos Seus dons. Por isso, Ele não abandonou o homem na desolação da sua queda, mas enviou Seu Filho Unigênito ao mundo e aperfeiçoou um Corpo na história, a Igreja, à Qual comunicou toda a glória e perfeição dos Seus dons. Tornamo-nos membros da Igreja pela fé na palavra de Cristo e pelo arrependimento, para que possamos conformar as nossas mentes e corações à Sua vontade salvadora. A cada pessoa que se arrepende é concedido um dom único do Espírito Santo. Este mantém-na unida ao maravilhoso Corpo de Cristo e torna-a participante de todos os dons de todos os membros desta sublime comunhão da graça, dos santos no céu e dos eleitos de Deus na terra. Nesta comunhão divino-humana, o homem é enriquecido e nisto tem o seu ponto de referência, que o guia e o mantém inabalável no caminho da verdade que foi revelado por Cristo. As relações entre os membros do Corpo distinguem-se pelo amor que opera neles na medida em que os mandamentos de Cristo são cumpridos. Dentro do Corpo, como diz o Apóstolo, “consideramo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e às boas obras”.[3] A perfeição espiritual só é possível no Corpo da Igreja, na comunhão dos dons de todos os seus membros.
Isto é confirmado pelo Apóstolo quando diz que somente “com todos os santos” seremos capazes de compreender “qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade”[4] do amor de Cristo.
Em miniatura, vemos o mesmo progresso espiritual realizado no vínculo harmonioso em Cristo entre marido e mulher, quando os dois vivem juntos, lutando com humildade para se completarem mutuamente com seus dons específicos e, assim, chegarem à perfeição do amor altruísta, que é a antecâmara do Reino Celestial.
Em nossos relacionamentos e na comunhão com Deus e com os homens, onde devemos trabalhar para cumprir nosso propósito, a liberdade da pessoa tem grande importância. Em Deus, a liberdade é absoluta, visto que Ele é capaz de criar do nada. Nada Lhe falta. No entanto, por amor transbordante, Ele não apenas criou o homem, mas para a sua salvação também Se humilhou, assumindo a forma de servo e salvando os pecadores do inferno mais profundo.[5] No homem, a liberdade é do coração e segundo a medida do dom de Deus. Quanto mais ele se esforça para viver sem pecado, mais ele se liberta da tirania das paixões.
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[1] Sl 83:6 (LXX).
[2] Sl 84:7.
[3] Hb 10:24.
[4] Ef 3:18.
[5] Sl 86:13.
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