VIVER EM UMA FAMÍLIA NÃO ORTODOXA E MANTER SUA FÉ

THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro


“Mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24,13).

Viver em uma família que não compartilha da fé ortodoxa é, muitas vezes, uma cruz pesada. A solidão espiritual, o silêncio diante de opiniões contrárias, a ausência de oração comum ou da participação na vida litúrgica familiar são desafios diários. Porém, esse “lugar estranho” onde você vive pode ser justamente o campo fértil em que Deus quer que você cresça.

A história da Igreja nos mostra que muitos santos passaram por essa mesma realidade. Santa Mônica, por exemplo, viveu anos de oração silenciosa e perseverante por seu filho Agostinho, que havia se afastado da fé. Ela não pregava com discursos, mas com lágrimas, paciência e amor. Seu testemunho de perseverança fez florescer, no tempo de Deus, a conversão daquele que se tornaria um dos maiores exemplos da Igreja.

Nosso Senhor também nos deixou o ensinamento: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em secreto” (Mt 6,6). Muitas vezes, a vida espiritual nesse contexto exige recolhimento. Você pode não ter ao redor de si uma comunidade familiar que reze unida, mas seu coração pode se tornar um altar invisível, sempre elevado a Deus.

Mais do que palavras, sua vida deve ser o maior testemunho. “Você pode ser a única Bíblia que sua família vai ler”, diz o ditado. Mais ainda: no contexto brasileiro, não raramente o convertido é o único ortodoxo que a família vai conhecer. Paz, paciência e alegria autêntica são sinais que falarão mais alto do que longos discursos.

É importante lembrar que o verdadeiro inimigo não é a descrença de sua família, mas os pensamentos que surgem dentro do coração:

• O desânimo sussurra: “É inútil”.
• A raiva protesta: “Por que eu tenho que carregar tudo sozinho?”.
• O orgulho sorri: “Eu estou certo. Eles estão errados”.
Esses pensamentos são armadilhas espirituais que podem sufocar seu testemunho. Até mesmo Cristo passou pela incompreensão de seus irmãos, que “não criam nele” (Jo 7,5).

Nos momentos em que você ora e continua amando, mas nada parece mudar, lembre-se de José no Egito: mesmo vendido e esquecido, ele estava no lugar onde Deus o queria, preparando-o para um grande propósito (Gn 50,20). 

Também você pode ser transformado em um ícone, mesmo em silêncio, irradiando a presença de Cristo.

A promessa permanece: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e tua casa” (At 16,31). Ainda que hoje não veja frutos, “os que semeiam com lágrimas, colherão com alegria” (Sl 126,5).

Você não está sozinho. A Escritura nos lembra: “Estamos rodeados por uma tão grande nuvem de testemunhas” (Hb 12,1). Os santos e os anjos caminham ao seu lado, sustentando sua perseverança.

Sua vocação nesse contexto é simples, mas exigente: amar com paciência, esperar sem cessar e confiar no Salvador, que pode alcançar qualquer coração, mesmo aquele que parece o mais distante. E, quando chegar o dia de Deus, você verá que nenhuma lágrima, nenhuma oração e nenhum gesto de amor foi em vão.

19.08.2025

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