A PARÁBOLA DOS TALENTOS - Mateus 25:14–30
KOZLOV Maxim, Arcipreste
tradução de monja Rebeca (Pereira)
Acredito que o significado geral da Parábola dos Talentos é claro para todos. O Senhor nos mostra que uma pessoa que deseja usar sua vida para o bem deve cultivar o que lhe foi dado por Deus — multiplicar seus talentos em todos os sentidos da palavra. O trabalho desta vida retorna a ela cem vezes mais, como uma recompensa na vida eterna, acima de tudo, e para muitos, até mesmo nesta vida — na forma de riqueza espiritual interior e firmeza, que ninguém pode tirar.
Ao mesmo tempo, esta parábola também fala da pessoa que, por algum motivo, se recusa a aceitar o presente de Deus. Tal pessoa age de forma errada e se conduz à destruição. Esse tipo de comportamento — em termos modernos, "redução de marcha" — a evitação da possível realização do que Deus lhe deu, não é apenas um mau uso da vida aqui e agora, mas uma ameaça à própria vida na eternidade.
Além desses pontos óbvios, podemos tirar outras conclusões.
A primeira é esta: devemos atentar para o fato de que Deus concede talentos de forma desigual — a um, Ele dá cinco, a outro, três, a outro, dois e, ao último, um. A desigualdade que vemos aqui na terra não se refere apenas à riqueza material, mas também aos dons, aos caminhos da vida humana e às oportunidades que estão disponíveis às pessoas desde o início. E essa desigualdade não é resultado de alguma injustiça mundana, mas de um arranjo divino.
Portanto, seria errado tentar tornar todos iguais — não apenas em um sentido material ou sociopolítico grosseiro, como tentaram fazer os organizadores das revoluções francesa ou russa — mas até mesmo tentar alcançar a igualdade no âmbito da vida espiritual, no ser interior do homem.
Não se deve imaginar o Reino dos Céus como um lugar onde todos marcham em formação e habitam na mesma fileira entre os justos salvos. O apóstolo Paulo ensina que, no Reino dos Céus, uma estrela difere em glória de outra estrela (1 Coríntios 15:41). Os justos habitarão lá não porque tenham alcançado algum nível padrão — como +30 ou +50 graus —, mas porque revelaram em si a plenitude e a grandeza da imagem e semelhança de Deus.
Nesse sentido, eles não se tornam como soldados ou policiais uniformizados, mas, ao contrário, tornam-se extremamente diferentes uns dos outros, tendo atingido o mais alto grau de individualidade possível para uma pessoa que descobriu e cultivou o talento que lhe foi dado por Deus. Talvez eles se assemelhem uns aos outros na luta ascética — mas, ao mesmo tempo, alcançam a individualidade pessoal absoluta.
Não se pode alinhar os justos em fileiras militares.
Isso fica claro mesmo se considerarmos a questão do outro lado: no pecado, a pessoa perde a personalidade e se torna como um animal de rebanho, reduzido a instintos básicos comuns compartilhados por todos, pronto para entoar slogans com a multidão — esquecendo que, como pessoa, ela carrega seu próprio talento diante de Deus.
Se cremos em Deus, que é Amor e Sabedoria perfeita, então devemos aceitar que Ele sabe a quem dá cinco talentos, a quem três e a quem um. Cada pessoa pode usá-los para o bem ou para o mal. Pois receber cinco talentos não garante sua realização. E se aquele que recebeu apenas um talento o usa, pode desenvolvê-lo e ganhar ainda mais do que aquele a quem inicialmente foram dados muitos, mas enterrou todos eles no chão.
O Novo Testamento nos diz que é difícil para um rico entrar no Reino dos Céus (Lc 18,25). Dando continuidade a esse pensamento evangélico, podemos também dizer: Não é fácil para aqueles que são muito talentosos, bem-sucedidos, bonitos ou prósperos entrarem no Reino dos Céus. O Evangelho, de fato, nos alerta sobre isso.
Mas a parábola de hoje também nos alerta sobre algo mais: você pode perder sua alma mesmo que possua muito pouco. Alguém pode ser uma pessoa comum, comum, sem riqueza, sem talento, sem possuir nada de valor — e ainda assim perecer. Isso pode acontecer se alguém decidir que o pouco que recebeu de Deus é arriscado demais para tocar, que é melhor guardá-lo em uma caixa e não fazer nada com a própria vida, e simplesmente seguir por inércia rumo ao Reino dos Céus. Mas mesmo que você tenha muito pouco, você deve trabalhar por ele. Este é o mandamento claro do Evangelho de hoje.
Por que, em última análise, o homem que recebeu um talento pereceu?
Porque ele formou dentro de si uma falsa imagem de seu Mestre — uma ideia não sustentada pela palavra de Deus — sobre Aquele que lhe dera o talento em primeiro lugar.
O Evangelho diz que o mestre que distribuiu os talentos era bom, que os distribuiu por amor próprio. Não vemos nada que indique que ele tenha sido duro ou cruel, que os tenha dado com segundas intenções ou por indiferença. Mas aquele que recebeu um talento não refletiu sobre o fato de que sua porção havia sido dada de acordo com a lei da bondade e do amor. Em vez disso, ele acreditava que era perigoso, e que aquele que o deu a ele era severo e, acima de tudo, com a intenção de puni-lo.
Um renomado teólogo do século XX observou com grande precisão que uma pessoa pode passar décadas pensando que está orando a Deus, quando, na realidade, está apenas se voltando para o canto sagrado de sua casa — e não se lembrando de Cristo, o Cristo do Evangelho.
Outro escritor do século XX, Maxim Gorky — que não era de forma alguma um teólogo —, no livro Infância (que a maioria dos russos lê na escola), escreve que seu avô e sua avó — lembram-se? — tinham dois deuses diferentes. O Deus do avô era severo e cruel, punindo até o menor erro. Mas o Deus da avó era amoroso e gracioso, perdoando tudo, independentemente do que a pessoa tivesse feito.
Mas, na verdade, tanto o avô quanto a avó criaram para si uma espécie de fantasma, um deus não baseado no Evangelho. Nem o ensinamento de um Deus que permite qualquer pecado, nem a imagem de um Deus como um senhor severo que pune impiedosamente, se baseiam no Evangelho — são invenções de pessoas, que impõem seus próprios preconceitos a algo que não pode ser contido em suposições ou limitações humanas.
E assim, devemos, especialmente à luz da leitura do Evangelho de hoje, refletir se a nossa fé em Deus, a nossa relação pessoal com o Criador, não se baseia no que imaginamos que Deus seja (“Eu gostaria que Deus fosse assim”), mas no testemunho objetivo da Revelação Divina, que, para o cristão, é sempre a Sagrada Escritura.
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