QUANDO ORAMOS PELOS OUTROS, O CÉU INTERCEDE POR NÓS

THEODORE El-Ghandour, Bispo
                        Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro 


A vida cristã é essencialmente uma vida de comunhão. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e o Deus que nos criou é comunhão de amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Por isso, nenhuma oração é verdadeiramente cristã se for egoísta, fechada apenas sobre as nossas próprias necessidades. Quando aprendemos a elevar nossas súplicas pelos outros, o céu inteiro se move em nosso favor, pois tocamos o coração do próprio Deus.

Desde o Antigo Testamento, vemos o poder da intercessão. Abraão ousou interceder por Sodoma, pedindo que Deus poupasse a cidade se nela houvesse alguns justos (Gn 18,23-33). Moisés intercedeu pelo povo de Israel quando este caiu na idolatria, chegando a dizer a Deus: “Perdoa-lhes este pecado, ou então, risca-me do livro que escreveste” (Ex 32,32). O Senhor atendeu à súplica de Seu servo.

No Novo Testamento, Cristo Se revela como o Intercessor por excelência. Ele mesmo disse a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22,31-32). E até hoje, como afirma o apóstolo Paulo, “Cristo Jesus é Quem morreu, ou melhor, Quem ressuscitou, o Qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8,34).

O apóstolo Tiago exorta a comunidade cristã: “Orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5,16). A oração intercessora, mais que caridade espiritual, é também um remédio para nós mesmos.

Os Santos Padres da Igreja Ortodoxa aprofundaram o mistério da oração pelos outros. São João Crisóstomo ensina:

“Nada nos assemelha tanto a Cristo quanto cuidar dos outros. Ele não buscou a sua própria salvação, mas a de todo o mundo. Assim também, quem ora pelos irmãos se torna semelhante ao Senhor.”

Santo Isaac, o Sírio, dizia que o coração de quem verdadeiramente ama a Deus é “um coração que arde de compaixão por toda a criação, pelos homens, pelos animais, até pelas plantas; e ele ora com lágrimas até pelos inimigos da verdade.”

São Siluan do Monte Athos, em nossos tempos, repetia que a oração pelo próximo é a medida do amor em nós: “O Senhor escuta com alegria a oração de quem ama, porque nessa oração há o sopro do Espírito Santo.”

Assim, a intercessão abre espaço em nossa alma para a graça divina e nos torna participantes da vida do próprio Cristo, que “sempre vive para interceder por nós” (Hb 7,25).

Quando nos esquecemos de nós mesmos e colocamos diante de Deus os sofrimentos, doenças, tentações e necessidades dos outros, então tocamos a essência do amor divino. O céu inteiro — anjos e santos — se une a essa súplica, pois a Igreja é una, viva, no céu e na terra.

Os Padres nos recordam que quando oramos pelos irmãos, o Senhor suscita intercessores por nós. Muitas vezes não sabemos como pedir ou o que necessitamos, mas, ao rezarmos pelos outros, abrimos espaço para que os anjos e santos apresentem também nossas necessidades diante do trono divino. São João Clímaco afirma: “Aquele que reza pelos outros é como quem acende uma lâmpada para iluminar o próximo; mas sua própria casa se enche de luz primeiro.”

Orar pelos outros não é somente uma prática piedosa, mas um caminho de salvação. Quem intercede participa do sacerdócio real de Cristo e experimenta o milagre da comunhão dos santos. Ao levantarmos as mãos pelos irmãos, encontramos nós mesmos sustentação invisível do céu.

Assim, quando oramos pelos outros, o céu intercede por nós. Esta é a dinâmica do amor divino: ninguém se salva sozinho, mas todos juntos, em Cristo, nos tornamos herdeiros da vida eterna.

12.09.2025

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