Criando-os corretamente - Conselhos sobre a formação de crianças (parte 1)
SÃO TEÓFANO, O RECLUSO
Raramente,
um livro do passado chega às nossas mãos. Velho, quer de décadas, séculos, ou
até da era pré-cristã. Entretanto, sente-se, às vezes, nele, uma
atemporalidade. Apesar da sua época, sua mensagem é mais nova, atual do que as
do jornal do dia a dia. Provérbios, do
AntigoTestamento, seria um livro desses. Também, A Escada Santa, do
século VI d. c., escrito por São João Clímaco. Porém, acho que encontrei outro.
Muitos anos atrás, um monge chamado
Teófano, mais conhecido pelos seus escritos sobre oração e combate espiritual,
escreveu um livro clássico intitulado The Path To Salvation. Esse livro
é um sumário dos ensinamentos de São Teófano sobre a espiritualidade e
desenvolvimento cristãos. Inclui um incrível material sobre como criar crianças
para que elas venham a ser seguidoras de nosso Senhor Jesus Cristo e
mantenedoras da chama dentro de Sua Santa Igreja. Pelos esforços de Lawrence
Willians, uma tradução desta parte do The Path To Salvation foi
publicada como livro nos primeiros anos da década de 80 (1980). Recentemente, o
Sr. Willians procurou a Conciliar Press com o livro disponível para
revisão e republicação. Acrescentamos então a divisão em capítulos, os
subtítulos, partes introdutórias e intitulamos o trabalho Raising Them Rigth
(Criando-os Corretamente).
Duas coisas me impactaram quando li
esse material. Primeira: trata-se de sabedoria ortodoxa clássica sobre
como formar crianças para Cristo. Segunda: não estou seguro em como responder,
pois como pode um recluso monástico saber tanto sobre famílias e crianças?
Acredito que Raising Them Right
é profético para o nosso tempo. Sua mensagem é um frescor de esperança e
promessa para pais e outros responsáveis por crianças. Que ele seja usado para
a formação de incontáveis milhares de nossas crianças, e de nós, adultos, mais
completamente à imagem e semelhança de Deus.
Fr. Peter
E. Gillquist
Santa
Bárbara, Califórnia
Teófano, o
Recluso (1815-94), nasceu em Chernavsk, perto de Orlov, na província central
russa de Viatka. Seu nome de batismo foi George Vasilyevich Govorov. Seu pai
foi um padre paroquial. Sua mãe, gentil e devota. Depois de freqüentar a escola
Clerical, foi mandado a um seminário a fim de ser treinado para o Sacerdócio.
Foi um aluno brilhante, terminando entre os primeiros de sua classe. Ainda nesse
período de vida, seus professores descreveram-no como "disposto para a
solicitude, gentil e silencioso." Depois do seminário, estudou quatro anos
na Academia Teológica de Kiev. Nessa cidade, visitou as Grutas da Lavra
Kievo-Pechersk (berço do monaquismo russo) e recebeu impressões duradouras da
vida monástica.
Depois de graduar-se na academia,
Teófano fez os votos monásticos e foi ordenado Presbítero. Seu grande preparo
acadêmico fez com que avançasse rapidamente. Primeiro, em 1841, tornou-se
professor principal da Academia Eclesiástica de São Petersburgo. Finalmente,
foi feito Reitor do seminário Olenetz, em 1855, e da Academia São Petersburgo,
em 1857.
Em 1847, Teófano foi enviado para
servir durante sete anos na Palestina, Constantinopla e no Oriente Próximo como
membro da Missão Ortodoxa na Terra Santa. Durante esse período, aprendeu grego
e, através da leitura de muitos livros espirituais, encontrados nas bibliotecas
do Oriente Próximo, tornou-se mais familiarizado com os Padres. Os últimos
escritos de Teófano derivam, fortemente, desse contexto patrístico.
A 1º de junho de 1859, Teófano foi
sagrado bispo. Serviu quatro anos na Cátedra de Tambov. Depois, transferido
para a diocese de Vladimir. Dois anos após a sagração de Teófano, São Tikon de
Zadonsk foi canonizado. Desde sua infância, o bispo Teófano nutriu um amor
especial por São Tikon. A partir da canonização deste, conscientemente, começou
a imitar seu exemplo de ascetismo.
Apesar de ser um bispo bondoso, um
bom administrador e um poderoso pregador, Teófano tornou-se, progressivamente,
enfastiado com o serviço público. Desejava uma vida de oração e reclusão. Em
1866, resignou ao trabalho ativo de administração da Diocese. Depois de pregar
sua mensagem final para uma enorme multidão na Catedral de São Vladimir,
retirou-se para um mosteiro remoto, escondido na grande floresta em Vishen. Aí
permaneceu, em reclusão, até a sua morte vinte e oito anos depois.
Teófano foi feito Abade do mosteiro.
Durante os primeiros seis anos de sua vida ali, teve participação ativa nos
serviços monásticos. No entanto, no início de 1872, Teófano tornou-se um
recluso. Manteve-se estritamente recluso, nunca saindo de sua cela, não vendo
ninguém a não ser o confessor e o superior de seu mosteiro. Sua vida era uma
vida de completa solidão. Como recluso pelo resto de sua vida, Teófano
devotou-se à oração e ao ascetismo, à correspondência e trabalhos literários.
Sua disciplina pessoal era
assombrosa. Sua alimentação diária consistia em nada mais que o rudimentar
essencial: chá e uns poucos pedaços de pão. Durante os períodos de não jejum,
um pouco de leite e um ou dois ovos. O mínimo suficiente para manter a saúde.
Sua cela tinha dois espaços mobiliados muito simplesmente, incluindo uma
pequena capela doméstica com tão somente os itens litúrgicos básicos
necessários.
Durante os últimos anos de sua vida,
celebrou a Sagrada Liturgia diariamente em sua capela, sozinho, sem nenhum
auxiliar. Rezava continuamente a oração do coração e empenhou-se em se
aperfeiçoar na prática da "oração da mente no coração."
Em acréscimo aos seus trabalhos
ascéticos, gastava horas, todos os dias, correspondendo-se com pessoas de toda
a Rússia. Recebia de vinte a quarenta cartas por dia e respondia a todas,
fielmente. Apesar de nunca ter encontrado frente a frente as pessoas, com quem
se correspondeu, deu orientações perspicazes para seus filhos espirituais
através dessas cartas. Também ganhou com elas uma compreensão dos problemas
contemporâneos que, de outra forma, lhe seria negada por seu estilo de vida recluso.
Seu discernimento sobre situações contemporâneas e sobre a vida era, por
natureza , profético. Uma boa parte dessa correspondência foi salva e
compilada, encontrando-se, parcialmente, publicada em dez volumes. A
maravilhosa antologia espiritual The Art Of Prayer deriva,
principalmente, dessa correspondência.
Teófano levou com ele, para a
reclusão, um conjunto de literatura espiritual, incluindo desde os primeiros
padres até a teologia e filosofia contemporânea. Os pensamentos e os espíritos
dos Padres preencheram seus conselhos e escritos. Gastou muito tempo traduzindo
várias obras espirituais para o russo, tornando-as acessíveis àquele povo . Não
foi só tradutor; escreveu muitos trabalhos ascéticos. Especialmente importantes
são seus ensinamentos sobre o uso da "oração do coração." Escreveu
material teológico e catequético num nível simples, básico, compreensível aos
menos educados. Também escreveu comentários sobre as epístolas de São Paulo.
Por anos e anos, os fiéis da Rússia
(e outros ao redor do mundo, quando seus trabalhos escritos tornaram-se
conhecidos) reconheceram em Teófano um verdadeiro homem cheio de espírito e uma
luz-guia na área da espiritualidade pessoal. Ainda, há pouco tempo, foi, final
e oficialmente, reconhecido pela sua santidade de vida. Foi-lhe dado um lugar
de honra especial na Igreja. Em um ato oficial do Sínodo local da Igreja
Ortodoxa Russa, a 6 de junho de 1988, o bispo Teófano, o Recluso, juntamente
com outros oito fiéis ortodoxos russos, foi oficialmente canonizado.
Que a vida
de São Teófano seja um exemplo para nós todos!
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