CATEQUESES DO METROPOLITA HILARION (ALFEYEV) - II PARTE

ALFEYEV, Metropolita Hilarion
tradução de monja Rebeca (Pereira)


A FILOSOFIA BUSCA O CRIADOR DO UNIVERSO
Em todo tempo, sobre a terra o homem aspira descobrir em seu ser a verdade, compreender o sentido da vida. Na Grécia antiga os filosofos se lançavam na exploração das leis do universo bem como das leis do pensamento humano, com a esperança de atingir assim o conhecimento das causas primárias que regem todas as coisas. Os filosofos não analisam somente as leis da razão e da lógica, mas estudam igualmente a astronomia e a física, as matemáticas e a geometria, a música e a poesia. A diversidade de conhecimentos ia de par com uma vida religiosa e ascética, sem a qual não saberia atingir a purificação do espírito, da alma e do corpo, ou catharsis.

Ao estudar o mundo visível, os filosofos chegam a conclusão de que nada é por acaso no universo, onde cada parcela tem seu lugar e cumpre sua função, estando submissa a leis estritas: os planetas jamais desviam de sua orbita, e os satelites não abandonam os planetas. Harmonia e finalidade reinam em toda parte no munco, ao ponto de os anciãos lhes darem o nome de Cosmos, o que quer dizer “beleza, ordem, harmonia”, oposto a caos, desrodem, desarmonia. O cosmos fazia figura de enorme mecanismo cujo movimento seguia o ritmo imutavel, cujo polo não enfraquecia nunca. Ora um mecanismo deve ser criado por alguem, um relógio deve ser fabricado e remontado. Os filosofos, pela via da dialética, chegam então à ideia de um Construtor único do universo. Platão o chama de Criador, Pai, Deus, Demiurgo, este ultimo termo designando um Mestre de obra, um chefe de trabalhos.

Os filosofos falam igualmente de um Logos (em grego, logos significa “palavra, razão, pensamento, lei”), concebido primitivamente como uma lei eterna e universal, sobre o fundamento do qual todo mundo está estruturado. Todavia o Logos não é somente um conceito, uma ideia abstrata, mas igualmente uma força criativa divina, intermediária entre Deus e o mundo criado. Tal era o ensinamento de Filon de Alexandria e dos neo-platocianos.

Junto a Plotino, o representante da escolar neo-platociana, a filosofia se transforma quase em religião; ele insiste sobre a transcendência, o infinito, o absoluto e a incognoscibilidade da divindade; algumas definições não podem conceber, algumas propriedades não podem ser-lhe atribuidas. Sendo a plenitude do ser, o Uno (é assim que Plotino nomeava Deus) engendra todas as outras formas de ser, cuja primeira é a inteligência, e a segunda a alma do mundo; para além da esfera da Alma do mundo se estende o mundo material, quer dizer o universo do qual a Alma insulfla a vida. Da sorte o mundo aparece como o reflex da realidade divina e traz nele traços da beleza e da perfeição. O Uno, a Inteligência e a Alma formam conjuntamente a Triade divina (Trindade). Por meio da purificação, a catharsis, o homem pode se elevar até a contemplação de Deus, contudo o que quer que façamos, Deus permanence inconcebível e inascessível, o que quer que façamos, Ele permenece um mistério.

A filosofia antiga investe mais pela dialética as verdades que serão reveladas definitivamente no Cristianismo, o Deus único, o Criador do mundo, o Filho Logos divino, a Trindade Santa. Não é à toa que os primeiros autores cristaos chamavam a filosofia de "o Cristianismo antes de Cristo”.

A RELIGIÃO DA REVELAÇÃO DIVINA
A maioria dos povos vivos no mundo pré-cristão estavam mergulhados nas trevas do politeismo.

Todavia, houve um povo eleito de Deus, a quem Deus havia confiado o mistério do conhecimento acerca d’Ele próprio, sobre a criação do mundo, sobre o sentido da vida. Os antigos judeus conheciam Deus não pelos livros, nem pelos raciocínios dos sábios, mas por sua própria experiência multisecular. Eles deixaram um grande livro, a Bíblia, que não saiu da imaginação dos homens mas antes foi dado do Alto, por uma revelação direta de Deus. Noé, Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Elias, uma multidão de justos e de profetas não se contentavam em meditar acerca de Deus, eles Lhe oravam, eles O viam com seus próprios olhos, eles falavam com Ele face a Face.

Todas as revelações de Deus no Antigo Testamento têm um caráter pessoal. Deus se revela ao homem não como uma força abstrata, mas como um Ser vivo que fala, escuta, vê, pensa, Se mostra disponível em ajudar.

Deus toma uma parte ativa e animada na vida do povo de Israel. Quando Moisés conduz o povo para fora do Egito à terra prometida, Deus, Ele próprio o precede na coluna de fogo, Deus habita no meio do povo, dialoga com ele, reside na casa que Lhe constroem.

O mais maravilhoso na religião revelada é que Deus permanence sob a coberta do mistério, no desconhecimento, e ao mesmo tempo tão próximo das pessoas que podem chamá-Lo “nosso Deus”e “meu Deus”. Um abismo separa aqui a revelação de Deus dos cumes atingidos pelo pensamento humano: o Deus dos filósofos permanence abstrato e inerte, enquanto o Deus da revelação é vivo, próximo e pessoal. Tanto um como o outro caminho nos levam a compreender que Deus é inconcebível e que Ele é mistério; a filosofia deixa o homem no pé da montanha sem lhe dar a possibilidade de se elevar mais alto, enquanto a religião o conduz até o cimo, onde Deus vive nas trevas, ela o introduz ao interior da nuvem, quer dizer, acima de todas as palavras e deduções da razão, ela apresenta diante dele o mistério de Deus…

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