Retorna para casa, filho

THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro


“Retorna para casa, filho”. Essas são palavras que tocam o coração humano como um chamado que atravessa os séculos. Não são apenas um convite à reconciliação familiar, mas a voz amorosa de Deus que, desde a criação, chama cada um de nós de volta ao lar eterno.

Na Bíblia Sagrada , o “lar” não é meramente um lugar físico, mas o estado de comunhão com Deus. Adão e Eva, criados para viver no Paraíso, perderam o lar pela desobediência (Gênesis 3). Desde então, toda a humanidade carrega no coração uma saudade profunda desse lugar de amor, paz e plenitude.

O Profeta Jeremias transmitiu o clamor de Deus ao povo: “Convertei-vos, filhos rebeldes, e Eu vos curarei da vossa infidelidade” (Jeremias 3:22).

A "casa” é a presença de Deus; estar longe d’Ele é estar perdido, mesmo que cercado de conforto terreno.

Na parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32), Nosso Senhor Jesus Cristo revela o drama de todos nós: o filho que abandona a casa do pai, gasta sua herança em prazeres e acaba na miséria, longe do amor que o sustentava. Mas, ao cair em si, ele decide: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti” (Lucas 15:18). São João Crisóstomo comenta que o arrependimento é o início da volta e que Deus, ao ver o primeiro passo, corre ao nosso encontro, “não esperando que cheguemos até o portão, mas vindo a nós com abraço e beijo”.

Deus nunca deixa de nos chamar. Mesmo quando o coração está endurecido, Ele nos chama com sua voz. Santo Isaque, o Sírio, diz: “Não há pecado que supere a misericórdia de Deus, assim como não há gota de água que possa apagar o sol.” A Igreja, através de seus sacramentos, é o lugar onde o Pai nos espera de braços abertos. Na Confissão, ouvimos ecoar a mesma alegria que houve no céu pelo filho que retorna.

Santo Efrém, o Sírio, escreve: “Quem retorna para Deus está vivo, mesmo que seu corpo morra; quem O abandona está morto, mesmo que respire.”

A verdadeira vida está em estar “em casa” com o Senhor. Fora d’Ele, experimentamos apenas uma falsa liberdade que conduz à escravidão do pecado.

O caminho de volta envolve: 
• Reconhecer que estamos longe – O filho pródigo só voltou quando caiu em si e admitiu sua miséria.
• Arrependimento sincero – Não apenas remorso, mas decisão de mudar.
• Humildade – Voltar sem exigir direitos, mas confiando na misericórdia.
• Abraçar a vida da Igreja – Participar da oração, dos sacramentos, da vida comunitária.

A voz de Deus hoje nos diz: “Retorna para casa, filho.”

O lar é o coração do Pai, revelado em Cristo e acessível na Igreja. Por mais longe que tenhamos ido, a estrada de volta sempre está aberta, e o Pai nunca se cansa de esperar.

Que possamos ouvir, como ensina São Gregório Palamas, não apenas com os ouvidos, mas com a alma, este chamado eterno, e dar o passo que falta para voltarmos ao abraço que nos dá a vida.

06.08.2025

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