Prefiro o Paraíso

THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro


Você já parou alguma vez para pensar nas decisões da sua vida? Já pensou em dizer: “prefiro o Paraíso”? Essa é uma proclamação de fé, uma decisão radical que molda toda a vida. É recusar as vaidades passageiras do mundo para abraçar a eternidade com Deus. É escolher a Luz em meio às trevas, a Cruz em vez do conforto, o Reino de Deus em vez do império do ego.

A Epístola aos Hebreus nos diz: “Pela fé, Moisés, já adulto, recusou ser chamado filho da filha do Faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus a gozar, por pouco tempo, os prazeres do pecado. Considerou como riqueza maior o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito, pois contemplava a recompensa” (Hebreus 11:24-26).

Moisés escolheu o que era invisível. Renunciou ao palácio para unir-se ao povo escravizado. Ele preferiu o Paraíso. Sua escolha antecipa a decisão que cada cristão precisa fazer todos os dias: viver segundo o mundo ou segundo Deus?

O próprio Senhor nos ensina: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33).

Não há paraíso sem Cristo. Ele mesmo disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6).

Seguir Cristo é deixar para trás as ilusões e escolher o que é eterno. São João Clímaco escreveu : “Renunciar ao mundo é odiar aquilo que nele nos pode afastar de Deus. Quem renuncia por amor, já está no limiar do Paraíso”.

Durante séculos, os mártires da Igreja fizeram essa escolha com sangue. Santo Inácio de Antioquia escreveu aos Romanos antes de seu martírio: “Deixai-me ser pasto das feras, por meio das quais me será dado alcançar a Deus. Nada me encantam os prazeres do mundo e os reinos desta terra. Melhor é para mim morrer por Jesus Cristo do que reinar até os confins da terra. É a Ele que procuro — Aquele que morreu por nós. Quero Aquele que ressuscitou por nós. Minha partida se aproxima... deixai-me alcançar a luz pura”.

Eles também disseram: “Prefiro o Paraíso”.

São João Crisóstomo advertia: “Este mundo é como um teatro: quando o espetáculo termina, tudo volta ao pó — os papéis, as vestes, os aplausos. Por que então desejas tanto o papel e esqueces tua verdadeira alma?”

Quantos hoje vendem sua alma por um instante de prazer, poder, dinheiro  ou fama? Esquecem que tudo isso passará. Como escreveu o Apóstolo João: “O mundo passa, bem como a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 João 2:17).

Um antigo ditado ortodoxo diz: “O monge não foge do mundo — ele foge da mentira do mundo para encontrar a verdade de Deus”.

Mas essa escolha não é exclusiva dos monges. Todo cristão é chamado a dizer com seus atos: “Prefiro o Paraíso”. Isso significa amar quando é mais fácil odiar. Orar quando é mais cômodo dormir. Perdoar quando tudo em nós grita vingança. Significa colocar Deus em primeiro lugar em vez do próprio ego.

No alto do Gólgota, ao lado do Salvador crucificado, um ladrão morria. Não tinha boas obras. Não tinha passado exemplar. Mas tinha fé e humildade. Ele olhou para Jesus e disse: “Lembra-te de mim, Senhor, quando entrares no teu Reino” (Lucas 23:42).

E Cristo respondeu: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:43).

Ele, no último momento, preferiu o Paraíso — e o encontrou.

“Prefiro o Paraíso” não é uma frase poética. É uma decisão de vida. É resistir a um mundo que idolatra o prazer imediato. É um ato de fé num tempo de incredulidade. E é, sobretudo, um caminho de cruz, porque para entrar no Paraíso, temos que segui-Lo até o fim.

Como disse São Serafim de Sarov: “O verdadeiro objetivo da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo. Tudo o mais é meio. O Espírito Santo é o próprio começo do Paraíso”.

Então, ao acordar, ao sofrer, ao perdoar, ao amar, ao jejuar, ao cantar na Igreja ou ao calar no sofrimento, que nosso coração diga, com verdade, com fé e com firmeza: Prefiro o Paraíso.

03.08.2025

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