A GRANDEZA DA MÃE DE DEUS - 3
ARSENIOS, Monge do Skete de Koutloumousiou
tradução de monja Rebeca (Pereira)
Se vemos que alguns santos desfrutam de maior glória do que outros, isso se deve ao fato de possuírem um pouquinho mais da humildade de Cristo, nada mais. Há santos que têm feitos ascéticos impressionantes em seu nome, mas têm menos glória do que outros que realizaram menos feitos ascéticos, e isso se deve à quantidade das abençoadas vestimentas divinas. Perdoai-me, mas quanto mais escrevo sobre as abençoadas vestimentas da divindade, que a Mãe de Deus possuía em sua totalidade, mais me apavoro, porque minha indignidade faz minha mão vacilar, e é perfeitamente possível – aliás, esta é a circunstância mais provável – que seja meu próprio orgulho que me motivou a ousar escrever sobre a humildade de Cristo. Rezai, então, por mim, para que eu não sofra uma mal terrível, miserável que sou. Por outro lado, minha consciência não me permite parar o que já comecei, então provavelmente terei que completá-lo. Que o Senhor tenha piedade de mim e que tudo isso seja para o meu bem. E se, se Deus quiser, algo inesperadamente bom acontecer e pelo menos uma alma se beneficiar da minha pobre palavra escrita, isso me trará grande alegria.
Temos que fazer uma distinção para entender por que essa abençoada vestimenta da divindade não é encontrada em outras pessoas como na Mãe de Deus. A resposta é fácil e simples: a humildade de Cristo é prejudicada por uma única coisa: até mesmo os maiores santos agiram contra a vontade de Deus, seja em pensamento, palavra ou ação. Vejamos alguns exemplos. Quem é maior do que São João Evangelista, o amado Apóstolo e virgem? E, no entanto, quando lhe coube a tarefa de pregar o Evangelho de Cristo na Ásia, ele hesitou, resultando num naufrágio por cerca de 40 dias, para se redimir, e muito mais sofreu nas mãos de pessoas sem coração. Quem não reverencia a santidade de São Basílio, o Grande, de quem poderíamos dizer que ele próprio é a Igreja? Este grande santo disse: "Nunca conheci uma mulher e não sou virgem". Limitar-nos-emos a estes exemplos, porque a história da Igreja está repleta de casos semelhantes, que demonstram a grande distância que separa os nossos santos do ápice da santidade, a Mãe de Deus. Se é verdade que nosso Senhor teve São João Batista como Seu precursor, então, da mesma forma, Nossa Senhora teve como precursoras todas as mulheres virtuosas do Antigo Testamento, especialmente Judith, que, através da sua virtude e sabedoria, conseguiu decapitar o perverso idólatra Holofernes e, assim, salvar Israel do extermínio certo. Assim, Judith deu ao povo de Deus a perspectiva de vida e felicidade, em um momento de grande perigo, com a decapitação do sanguinário Holofernes, porque seu exército entrou em pânico e foi então derrotado pelo exército do povo de Deus. Assim, quando Nossa Senhora dá Seu consentimento ao Arcanjo Gabriel, os magníficos eventos que todos conhecemos acontecem e o fato do nascimento de Cristo decapitou o senhor deste mundo, isto é, o diabo. E assim como todo o povo de Israel foi revivido pela decapitação de Holofernes pela justa Judith, da mesma maneira, com o nascimento de Cristo do ventre da Mãe de Deus, o diabo foi decapitado e não apenas Israel, mas todas as nações foram revividas.
Então, quem é igual em santidade à Mãe de Deus? Se Deus não tivesse previsto que Nossa Senhora viria da raça humana, Ele não nos teria criado. E por mais que Ele tenha pensado em destruir a raça humana em tempos de terrível apostasia durante a era do Antigo Testamento, a vinda da Mãe de Deus mudou Sua mente e, por amor a Ela, Ele nos preservou. E assim, em certo sentido, a Mãe de Deus foi uma bússola para Deus! Ela acalmou Sua justificada ira contra a raça humana. Quando ocorreu o dilúvio, na época de Noé, Deus poderia muito bem não ter deixado nenhum vestígio da raça humana na Terra. Ele não deixou um remanescente por amor a Noé, mas por causa da futura vinda da Mãe de Deus. Isso por si só trouxe grande alegria a Deus e é por isso que Ele nos preservou.
É difícil transmitir o grande amor e afeição que os monges da Santa Montanha do Athos têm pela Mãe de Deus. Não se trata de uma Imaculada Conceição, pois isso tornaria Nossa Senhora mais – ou menos! – do que humana. Em vez disso, Ela é vista como a pessoa humana perfeita, a pessoa que Deus imaginou que fôssemos. Esta é uma resposta àqueles que dizem que Deus "cometeu um erro" com Adão e Eva no Paraíso, que as coisas não aconteceram como Ele esperava. Pode ter sido assim que as coisas pareciam na época do Antigo Testamento, mas com o nascimento de uma pessoa, Nossa Senhora, que Se submete totalmente à vontade de Deus, o destino que Deus sempre planejou para nós – nossa entrada no paraíso eterno, o Reino de Deus – tornou-se possível.
Isso é ilustrado pelo famoso diálogo entre o Imperador Teófilo e a jovem Kassiani, que mais tarde se tornaria abadessa, poetisa e compositora de hinos:
Teófilo: ‘Ἐκ γυναικὸς τὰ χείρω’ (De uma mulher [Eva] vieram as piores coisas).
Kassiani: Kαὶ ἐκ γυναικὸς τὰ κρείττω (E de uma mulher [Nossa Senhora] o melhor).
E em seu livro ‘Milagres’, C. S. Lewis afirma o seguinte: [O Cristianismo] não fala de uma busca humana por Deus, mas de algo feito por Deus para, e sobre o Homem. E a maneira como isso é feito é seletiva, antidemocrática, no mais alto grau. Depois que o conhecimento de Deus foi universalmente perdido ou obscurecido, um homem de toda a terra (Abraão) é escolhido. Ele é separado (miseravelmente, podemos supor) de seu ambiente natural, enviado para um país estranho e feito ancestral de uma nação que deve carregar o conhecimento do Deus verdadeiro. Dentro dessa nação, há mais seleção: alguns morrem no deserto, alguns permanecem na Babilônia. Há ainda mais seleção. O processo se estreita cada vez mais, aguçando-se finalmente em um pequeno ponto brilhante como a ponta de uma lança. É uma jovem judia em Suas orações. Toda a humanidade (no que diz respeito à sua redenção) se reduziu a isso. (De Milagres, Capítulo 14).
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