TRADIÇÃO: UMA CONEXÃO VIVA ENTRE GERAÇÕES
tradução de monja Rebeca (Pereira)
Quando as pessoas ouvem a palavra "tradição", os modernos, especialmente os jovens, frequentemente expressam perplexidade e até ceticismo. "Tradição" e "tradicional" são frequentemente associados a algo antigo, desnecessário e interferente. No entanto, na realidade, a tradição não é apenas uma memória do passado, mas uma forma viva de transmitir valores genuínos de geração em geração.
O que é tradição? São conhecimentos, costumes, visões e normas historicamente formados e transmitidos. Mesmo o estudante mais radical abre um livro didático escrito não por seus colegas, mas por uma pessoa que pode não estar mais viva. Conhecimento e experiência lhe foram transmitidos pela tradição. A tradição é uma forma de preservar e transmitir valores. Isso não significa que ela seja chamada a preservar tudo o que pertenceu ao passado. Assim como jogamos fora o lixo, a história filtra tudo o que é desnecessário. Mas o verdadeiro valor só é transmitido pela tradição.
Se a Igreja se baseia em tradições antigas, isso não significa que ela está atrasada? A Igreja Ortodoxa Universal de fato se baseia em muitas tradições que remontam aos primórdios do Cristianismo. Em primeiro lugar, isso diz respeito aos fundamentos da doutrina — os fiéis modernos professam a mesma fé que os discípulos do Senhor. A adesão firme a essa doutrina não é sinal de "fossilização", como às vezes se afirma. A teologia ortodoxa se desenvolveu ao longo da história, não na direção de reinterpretar dogmas, mas na direção de sua revelação mais completa e proteção contra erros. Nesse sentido, a Igreja Ortodoxa não deve ser considerada petrificada, mas sim estabelecida sobre uma rocha: sobre a rocha da fé, sobre Cristo.
Ao mesmo tempo, muitas tradições eclesiásticas – litúrgicas, iconográficas, arquitetônicas, pedagógicas – não são absolutamente imutáveis. Elas se desenvolvem e mudam, preservando o principal: sua correspondência com o espírito da Ortodoxia. Basta comparar a arquitetura de igrejas antigas e modernas ou de ícones antigos e tardios para se convencer disso.
Às vezes, você pode ouvir que a Ortodoxia é apenas uma entre muitas tradições cristãs. No entanto, tal visão é imprecisa. A fé ortodoxa é uma fé baseada na percepção correta e verdadeira da Revelação salvadora dada por meio do Senhor Jesus Cristo e Seus apóstolos. É a única verdadeira e salvadora. Outras comunidades que também se autodenominam cristãs frequentemente se baseiam em uma percepção distorcida da Boa Nova e surgiram muito depois dos tempos apostólicos. Somente aquela que foi fundada pelo próprio Cristo e é, segundo as palavras das Escrituras, "a coluna e baluarte da verdade" (1 Tm 3:15) pode ser chamada de Igreja Verdadeira. Portanto, a Ortodoxia não é uma das tradições, mas sim Cristianismo genuíno e incorrupto.
São Teófano, o Recluso, deixou-nos reflexões profundas sobre o significado dos costumes e tradições: "Os costumes, tanto eclesiásticos quanto civis, constituem uma classe especial de regras. Eles nos atraem tão agradavelmente, nosso espírito se sente tão em paz neles, com uma sensação de segurança, proteção e imutabilidade milenar. Os costumes devem ser sagrados para nós: a estabilidade da nossa vida depende deles; aquele que se desvencilhou deles é abalado como que pelo vento. Mas, a rigor, não entram incondicionalmente no número de regras legais e obrigatórias: precisamente por isso é necessário que concordem em tudo com a lei moral e o espírito do Cristianismo... A memória dos antepassados nos obriga à submissão silenciosa. A experiência mostra que a violação de tais costumes está sempre intimamente ligada à corrupção da moral... Aquele que é corrompido de coração e mente quase sempre começa com desprezo pelos costumes e, então, por ignorância, embora não sem desejo, começa a considerar tudo um costume, isto é, tanto a fé quanto a moral, e também começa a desprezá-las. Portanto, é necessário conhecer seus limites. O que está ao redor, você ainda pode tocar, mas não toque o cerne da vida moral — os deveres."
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