PENTECOSTES, A FESTA DA IGREJA

SCHMEMANN Protopresbítero Alexander
                                            tradução de monja Rebeca (Pereira)




A característica peculiar da Liturgia do dia de Pentecostes é que ela é imediatamente seguida por um serviço de Vésperas, comumente chamado de "orações de genuflexão". Este serviço de Vésperas marca a transição do primeiro tema principal — a alegria da vinda do Espírito — para o segundo — a oração pela permanência do Espírito em nós, por Seu auxílio em nossa vida terrena.

Súplicas em litania são acrescentadas: "Por aqueles aqui presentes que aguardam a Graça do Espírito Santo... para que o Senhor nos fortaleça para alcançarmos um bom fim ... Por aqueles que precisam de ajuda."

Nas Estikeras para "Senhor, eu clamei a Ti" (que repetem as laudes de Matinas) e no grande prokimenon, "Quem é um Deus grande como o nosso Deus?", a plenitude da alegria se repete.

Mas imediatamente após o prokimenon, o povo é convidado a se ajoelhar. Esta primeira flexão de joelhos após a Páscoa significa a conclusão do Triodion — o fato de que a Igreja agora entra no "caminho estreito" da luta e das difíceis aquisições diárias do Espírito Santo.

Portanto, nesta primeira oração, trazemos a Deus nosso arrependimento e orações intensificadas pelo perdão dos pecados — a primeira condição para entrar no Reino, na alegria perfeita. Na segunda oração, oramos ao Espírito Santo por ajuda, para que Ele nos ensine a orar e a seguir o verdadeiro caminho, para que Ele nos ilumine na noite escura e difícil de nossa vida. Por fim, na terceira oração, lembramos nossos pais e irmãos que partiram, que terminaram sua jornada terrena, mas que estão unidos a nós no amor eterno da Igreja.

A cada uma dessas orações, juntam-se as orações vespertinas habituais. Assim começa novamente a noite da história do mundo, na qual a Igreja deve vagar.

Nesta "noite", as ciladas dos inimigos nos aguardam: as tentações, todo o peso do pecado e a nossa fraqueza. A alegria da Páscoa se completou, e novamente temos que aguardar a aurora do dia eterno do Reino de Cristo. Por isso, oramos de joelhos por ajuda e proteção, para que possamos passar esta noite e alcançar a manhã.

No entanto, assim como conhecemos a nossa fraqueza, também conhecemos a alegria do Espírito que vem: sabemos que não ficamos órfãos. A bênção ao final do serviço das Vésperas dá testemunho disso:

“Ele Se despejou… desceu à terra para assumir completamente nossa natureza humana e deificá-la… enviou Seu Espírito sobre Seus Santos Apóstolos, que foram iluminados pelo Espírito e por meio dos quais o mundo inteiro foi iluminado.”

No Serviço de Completas do mesmo dia, canta-se um cânone especial dedicado ao Espírito Santo, onde vivenciamos mais uma vez a festa de Sua vinda e Sua permanência na Igreja. É significativo que todos os Hirmos deste cânone, exceto o primeiro, sejam retirados do cânone da Natividade! A vinda do Espírito cumpre o que começou quando o Verbo Se faz carne:

“Cristo nasceu, agora o Espírito Santo desce como se nos devolvesse Cristo, que ‘está e estará’ na Igreja conosco para sempre.”

Seria impossível enumerar todos os detalhes dos Serviços que comemoram a Festa de Pentecostes, que se fundem numa harmonia perfeita, fazendo-nos sentir verdadeiramente o sopro do Espírito Santo. Essa harmonia se revela plenamente apenas na Liturgia, apenas no ato comum de adoração. Como dissemos, a Festa de Pentecostes conclui o Triodion, e entramos no "tempo comum" do ano. No entanto, não existem dias comuns para a Igreja. Cada semana tem seu ciclo, que se conclui com sua própria pequena Páscoa — o "Domingo".

A Igreja vive sempre uma vida divino-humana. Céu e terra, promessa e cumprimento, unem-se misteriosamente nEla. Na Festa de Pentecostes, adornamos nossas igrejas com flores e ramos verdes, pois a Igreja é verdadeiramente uma árvore perene. Portanto, no Primeiro Domingo após Pentecostes, celebramos a memória de todos os Santos, cuja santidade é a glória da Igreja e um testemunho do Espírito Santo, que está sempre presente nela.

A vida da Igreja é um Pentecostes eterno, a vinda eterna do Espírito Santo, e assim, “quem tem sede, venha e beba” (João 7:37).

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