SÃO PORFÍRIO KAVSOKALYVITIS (PARTE II)

tradução de monja Rebeca (Pereira)



Suas características mais essenciais:

Em nossa opinião, as características mais essenciais da personalidade do Ancião Porfírio eram as seguintes: em primeiro lugar, o fato de sua filiação à Igreja ser substancial e não nominal; em segundo lugar, seu amor ilimitado por Cristo e, por meio d´Ele, por seus semelhantes, acompanhado de uma humildade santa; em terceiro lugar, sua experiência de alegria mística em Cristo; e em quarto lugar, seu senso de imortalidade em Cristo.


a) Filiação à Igreja

O Ancião Porfírio costumava dizer, como todos os santos, que Cristo deveria estar na Igreja. Isso significa que os fiéis devem estar unidos a Cristo e a todo o Seu povo, e particularmente ao Seu sacerdote, que é o representante de Cristo. No entanto, ser membro da Igreja não deve ser meramente um ato formal. Isso, aliás, deve ser o que o Ancião Porfírio quis dizer em seu último testamento, no qual ora para que possamos entrar na Igreja de Deus terrena e incriada, mesmo que respondêssemos superficialmente que já estamos na Igreja como resultado do nosso batismo.

De fato, estamos na Igreja, embora apenas na medida em que um viajante estrangeiro que acaba de cruzar a fronteira para a Grécia pode ser considerado como estando na Grécia. Embora esse viajante esteja formal e essencialmente na Grécia e possa viajar para onde quiser dentro do país e conhecê-lo por completo, é como se ele não estivesse no país, visto que tudo o que fez foi dar alguns passos para dentro e ainda não sabe nada sobre ele. Da mesma forma, um cristão que entrou na Igreja apenas uma vez não pode ser considerado como tendo nela ingressado, a menos que ele se aprofunde cada vez mais para explorá-la até chegar ao trono de Deus.

O Ancião tinha visto na prática que a Graça de Deus opera dentro da Igreja, que os fiéis devem estar unidos em um único corpo, o Corpo de Cristo, que ninguém pode ser salvo se buscar apenas a própria salvação, que a experiência, o desejo e a demanda do fiel pela unidade são a característica básica da Igreja e o requisito peculiar para a salvação, e que o amor, que impele a alma a buscar a unidade, é essencial para que se possa entrar e obter a salvação na comunidade que é a Igreja incriada de Deus na Terra.


b) Amor

A força motriz que nos permite compartilhar nossa existência terrena e alegria com os outros, que pode transmitir a própria vida, é o amor. Quem pensa que outras pessoas apenas tirarão parte de seu conforto e alegria pessoais não está pensando como Deus, que criou a humanidade, mesmo que o homem tenha continuado a entristece-Lo profundamente (falando em termos de sofrimento humano). A única atitude que convém às pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus, portanto, é o amor – abrir o coração aos outros, tanto a Deus quanto aos seus semelhantes.

Há muitas maneiras pelas quais a Igreja tenta persuadir as pessoas a seguir o caminho certo na vida. No entanto, o caminho real da alma sensível, poética e nobre que o Ancião Porfírio nos mostra é o caminho do amor, do eros divino por Jesus Cristo e da abnegação, ou seja, a ausência de preocupação sobre se o seu amor por Cristo significa experimentar alegria ou dor. É um caminho nobre e superior, desprovido de mesquinharia, interesse próprio calculista e medo, um caminho nobre, digno da majestade de Deus e de plena confiança no amor benevolente de Cristo.

Seguir esse caminho também implica adotar uma abordagem esclarecida na própria luta espiritual como cristão, algo sobre o qual o Ancião frequentemente falava e ilustrava com inúmeros exemplos, alguns dos quais são os seguintes:

"Quando estiver em um quarto extremamente escuro, não bata na escuridão para fazê-la desaparecer. Não é assim que ela desaparece. Abra a janela e deixe a luz entrar; Em outras palavras, submeta-se ao amor de Cristo e então a escuridão desaparecerá sem esforço.

Quando um pensamento ruim ou sombrio, um medo ou uma tentação ameaçar afligi-lo, não lute contra ele para tentar se livrar dele. Abra seus braços ao amor de Cristo e ele o abraçará, e então tudo desaparecerá por si só.

Quando o jardim da sua alma estiver cheio de cardos (isto é, paixões), não tente arrancá-los, pois enquanto se preocupar com eles, sempre acabará sendo ferido e infectado por germes. Concentre toda a sua energia nas flores da sua alma, regue-as e então os cardos murcharão. E a melhor flor de todas é o seu amor por Cristo. Se a regar e ela crescer, todos os cardos morrerão."


c) Alegria

O Ancião Porfírio amava a todos com o amor de Cristo, que é único para cada indivíduo. Mas o rico coração de Cristo e os ricos corações de todos aqueles que se assemelham a Ele são capazes de amar todos os homens de uma maneira única, sendo cada indivíduo uma imagem do Cristo amado. E esse amor atrai a Graça Divina, que cai sobre a pessoa amada na forma de uma grande e ilimitada alegria. Quem ama sente alegria porque amar é dar e dar é uma bênção, como o próprio Senhor disse (‘Há maior felicidade em dar do que em receber’ – Atos 20:35).

Foi assim que o Ancião experimentou a alegria que nada, nem mesmo a dor ou a tristeza, pode tirar de quem se submeteu plenamente ao amor de Cristo. Ao viver no amor de Cristo, o Ancião vivenciou na prática o que São João Evangelista escreveu: "O perfeito amor expulsa o medo" (1 João 4:18), e é isso que o leva a enfatizar com tão serena convicção em uma entrevista gravada: "Nosso amigo, nosso irmão (Cristo)...! Quão alto Ele proclama isso...! Quão alto...! Quão profunda é esta declaração...! É extremamente profunda! É a coragem que Ele nos dá. Cristo não quer que tenhamos medo, Ele simplesmente não o quer!"




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