SÃO PORFÍRIO KAVSOKALIVITIS (PARTE I)

tradução de monja Rebeca (Pereira)



‘Agora deves estar pensando, pelo que eu lhe disse, que – bem, eu não sei – eu sou alguma coisa. Bem, eu não sou nada, embora eu tente e esteja apenas começando, ao que parece, a ter uma ideia das coisas sobre as quais falo. Eu tento, eu quero, e realmente sinto amor pelos outros, embora não queira me forçar. Mas muitas vezes experimento tais coisas pela Graça de Deus e não falo. Não me é permitido. Eu digo tudo o que me é permitido dizer, mas nem sempre posso falar. Bem, a vida sem Cristo não vale a pena ser vivida. Não há dúvida sobre isso.’

O Ancião Porfírio nasceu em 1906 na aldeia de Agios Ioannis, na província de Carístia, na Eubeia, sendo batizado como Evangelos. Estudou apenas dois anos. A doença de sua professora e a pobreza da família o forçaram a ganhar a vida cuidando dos poucos animais que possuía. Pouco depois, com cerca de nove anos, trabalhou na mina de carvão local e, em seguida,  numa mercearia no Pireu, de propriedade de um conhecido da família. Seu pai havia ido trabalhar no Canal do Panamá para sustentar a família.

Aos oito anos, ainda pastor, adquiriu um livreto sobre a vida de São João de Calixto, que leu com grande dificuldade. Este santo impressiona profundamente o jovem Evangelos e o enche de um forte desejo de levar uma vida semelhante à sua. Assim, aproximadamente aos doze anos, parte secretamente para o Monte Athos e, a caminho, num navio, conhece o homem que logo se tornaria seu Ancião - o hieromonge e confessor espiritual Panteleimon, que vivia como asceta na kalivia de São Jorge, no Skete de Kavsokalía, no Monte Athos.

Foi a esse Ancião e a seu irmão natural, o monge Ioannikios, que o jovem noviço prestou plena e alegre obediência. Poucos anos depois, foi considerado digno de ser tonsurado monge e de aprender os segredos da vida espiritual por meio da experiência prática.

Consequência de seu grande amor a Cristo e aos seus Anciãos, bem como de sua obediência e ascetismo, o faz ser visitado pela Graça de Deus e, ainda jovem, receber o dom da clarividência, isto é, a capacidade de ver, por meio da Graça de Deus, coisas ou espíritos invisíveis, eventos passados ou presentes, ou às vezes até eventos futuros.

Enquanto no Monte Athos, sofre uma crise de pleurisia por volta dos dezoito anos, levando seus Anciãos a o enviarem a um mosteiro nos arredores de Athos para tratamento. Nesse mosteiro, na Eubeia, conhece o Arcebispo do Sinai, Porfírio, que, após observar que o jovem monge havia sido visitado pela Graça de Deus, o ordena sacerdote aos vinte anos. Pouco depois, o bispo metropolitano local o torna confessor espiritual, e assim o dom da clarividência com que Deus havia dotado Porfírio foi colocado a serviço dos fiéis. Com esse dom, o jovem hieromonge e confessor espiritual Porfírio ajudava as pessoas a escapar de várias armadilhas do diabo, a entender o que estava acontecendo em suas almas, a rejeitar as alegações enganosas das bruxas que drenavam todo o seu dinheiro sob o pretexto de que poderiam quebrar os feitiços que as afligiam, a discernir e curar suas doenças físicas e suas causas e, em geral, a ver e entender coisas que as ajudariam em suas vidas.

Em 1940, Porfírio é nomeado capelão da Policlínica de Atenas, na Rua Sokratous, perto da Praça Omonoia. Permanece nesse cargo por trinta e três anos, confessando pacientes e outras pessoas, orando, aconselhando e, em não poucas ocasiões, curando pacientes que lhe pediam ajuda através da Graça de Deus e da oração. Embora ocultasse cuidadosamente seus dons, torna-se conhecido por um grupo relativamente pequeno de fiéis que gradualmente cresce em número.

Em 1950, aluga o pequeno mosteiro abandonado de São Nicolau Kalission, no Monte Pendelis, e até 1978 dedica-se ao cultivo das terras ao redor. Em 1979, estabelece-se em Milesi, na Ática, perto de Oropos, onde, após obter as licenças legais necessárias, põe-se a construir a Ermida da Transfiguração do Salvador. Aqui, ele recebe visitantes de todas as esferas da vida e telefonemas do mundo inteiro para discutir uma variedade de problemas, dá conselhos, reza, ouva confissões e cura as almas e, muitas vezes, os corpos das pessoas que dele se aproximavam.

Em junho de 1991, sentindo que o fim de sua vida se aproximava e desejando evitar um grande funeral público, parte para a kaliva de São Jorge em Kavsokalyvia, no Monte Athos, onde havia sido tonsurado monge cerca de setenta anos antes. Às 4h31 da manhã de 2 de dezembro de 1991, entrega seu espírito ao Senhor, a Quem tanto amou durante sua vida. Lá, foi sepultado em uma simples sepultura monástica, na presença apenas de seus companheiros monges, pois havia pedido, muito humildemente, que seu falecimento não fosse conhecido até depois do sepultamento. Atualmente, esta sepultura é ocupada por outro monge, pois os restos mortais do Ancião Porfírio foram ocultados em um local inacessível, de acordo com uma instrução que ele deixa a seus noviços.

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As principais características do caráter do Ancião Porfírio ao longo de sua vida foram sua extrema humildade, seu amor perfeito por Cristo e seus semelhantes, e seu senso de pertencimento à Igreja, com sua completa obediência a ela em Cristo, sua absoluta unidade com todos os homens, e seu senso de imortalidade e liberdade do medo e do inferno da vida aqui na Terra. A estas devem ser adicionadas sua paciência inquebrantável diante de dores insuportáveis, seu sábio discernimento, seu inconcebível poder de clarividência, seu amor ilimitado pelo aprendizado, a surpreendente amplitude de seu conhecimento (que era um dom de Deus e um fruto de Sua Graça e não um resultado de estudo), sua laboriosidade e amor inesgotável pelo trabalho árduo, suas orações constantes, humildes e, portanto, eficazes, sua mentalidade supremamente ortodoxa, embora não fanática, seus conselhos sensatos, a diversidade de seus ensinamentos, sua profunda piedade, a majestosa solenidade dos serviços religiosos que ele conduzia e o grande cuidado com que ele mantinha suas numerosas boas obras em segredo.


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