Monasticismo Evangélico - parte 3

KAPSANIS Georgios, Arquimandrita
tradução de monja Rebeca (Pereira)



O fruto imediato do amor de Deus é o amor à imagem de Deus, às pessoas e a todas as Suas criaturas. Através de anos de esforço ascético, os monásticos adquirem um "coração misericordioso", que ama como Deus ama. De acordo com Abba Isaac, o Sírio, um coração misericordioso é "um coração que arde em nome de toda a criação, isto é, pessoas, pássaros, animais, demônios e todas as outras criaturas, à lembrança ou visão da qual os olhos derramam lágrimas e, de tanto sofrimento e misericórdia, o coração da pessoa misericordiosa recua e é incapaz de suportar ou ouvir qualquer mágoa ou tristeza que tenha sido infligida à criação. É por isso que tais pessoas rezam com lágrimas, mesmo pelos animais irracionais, pelos inimigos da verdade, por aqueles que lhes fazem mal, para que Deus os preserve e tenha misericórdia deles. Eles também rezam pelos répteis devido ao excesso de misericórdia que flui além da medida em seus corações" (Discurso 81).

No Gerontikon (Coleção de Ditos e Obras dos Padres do Deserto), encontramos figuras de sacrifício e amor, que lembram e manifestam o amor de Cristo. O Abade Agatão costumava dizer que desejava encontrar um leproso e assumir seu corpo. "Amor perfeito, percebes?", comenta o Abade Isaac, o Sírio.

Além disso, a organização de um mosteiro cenobítico baseia-se no amor, seguindo o modelo das primeiras comunidades cristãs de Jerusalém. Como o Senhor com Seus doze apóstolos, e como os primeiros cristãos, os monásticos têm em comum seus bens e suas vidas em Cristo. O abade não possui mais do que um jovem noviço. Ninguém tem dinheiro para distribuir como quiser, exceto o que recebe como bênção do abade para uma necessidade específica.

A propriedade comum, a igualdade, a justiça, o respeito mútuo e o sacrifício de um por todos e de todos por um elevam a vida em um cenóbio ao reino do verdadeiro amor e da liberdade. Aqueles que viveram, mesmo que por apenas alguns dias, em um verdadeiro cenóbio sabem a graça que existe no amor mútuo entre os membros da comunidade e o quanto isso alivia as almas. Sente-se estar vivendo com os filhos dos anjos.

Grande organizador do sistema cenóbio, Basílio o Grande, fala incisivamente do amor em Cristo que abunda nos mosteiros: “O que se pode comparar a este estilo de vida? Existe algo mais abençoado? O que é mais verdadeiro do que a conjunção e a união? Ou mais civilizado do que uma mistura de caracteres e almas?” Pessoas partem de vários países e de diferentes raças e se adaptam à vida em conjunto em um só lugar, com tal meticulosidade que parecem ser uma só alma em muitos corpos e instrumentos com uma só e mesma voz. Aqueles com uma doença corporal têm outros para sofrer ao seu lado. Aqueles de disposição doentia que são fracos na alma, têm muitos outros para curá-los e corrigi-los. Cada um deles é servo dos outros, cada um é mestre dos outros e todos, com liberdade inatacável, competem entre si para serem os mais meticulosos em seus deveres. Esses deveres não forçam nenhuma grande discórdia, nem causam ansiedade entre os responsáveis, mas foram criados a partir de uma livre expressão de opinião.” O amor submete os livres uns aos outros e garante a liberdade pela escolha individual de cada um. Foi assim que Deus nos quis inicialmente e foi por isso que Ele nos criou. Os monges restituem nossa antiga beleza, porque remediam o pecado de nosso antepassado Adão, pois não haveria divisão, nem alienação, nem guerra, se o pecado não tivesse dividido nossa natureza em duas. Eles, portanto, imitam o Salvador e Sua vida encarnada. Assim como Ele, por exemplo, quando reuniu Seu grupo de discípulos, fez com que tudo fosse mantido em comum pelos Apóstolos, inclusive eles próprios, assim os monges – aqueles que observam a vida cuidadosamente, é claro – em sua obediência ao Abade, imitam precisamente a vida dos Apóstolos e do Senhor. Eles invejam a vida dos anjos, porque observam cuidadosamente a vida comum destes últimos. Entre os anjos não há conflito, nem discórdia, nem dúvida: tudo pertence a cada um, e todos eles acumulam para si as bênçãos de todos (Ordenanças Ascéticas, 18, 2).

Na cenóbia, os monges podem vivenciar apostolicamente e puramente o mistério da Igreja, como um mistério de comunhão e união entre Deus e os homens; podem experimentar a unidade da fé e a comunhão do Espírito Santo, que é o desejo de todos os cristãos. Eles sabem por experiência que a Igreja não é uma fundação religiosa ou uma instituição, mas uma comunidade em Cristo, o Corpo de Cristo, a Assembleia dos filhos de Deus antes dispersos (Jo 11, 52), sua família em Cristo. Essa experiência eclesiológica dá aos monges a oportunidade de ver seus semelhantes como membros do mesmo corpo e honrá-los como a Cristo. Esta é a explicação para a generosa hospitalidade oferecida a peregrinos e visitantes, e a oração contínua e chorosa em favor de companheiros vivos e falecidos, conhecidos e desconhecidos.

Os monges expressam seu amor pelas pessoas no mundo de diferentes maneiras, como o revigoramento da alma e o apoio espiritual que oferecem. Muitas pessoas sobrecarregadas e cansadas de alma recorrem aos mosteiros, e particularmente à Montanha Sagrada, para encontrar paz para suas almas com Anciãos e Padres Espirituais que já encontraram a paz com Deus. E não é incomum que padres espirituais athonitas experientes saiam pelo mundo para aliviar outros cristãos e apoiá-los na fé.




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