ENSINAMENTOS DA IGREJA ORTODOXA
FITZGERALD Thomas
tradução
de monja Rebeca (Pereira)
Desde o início, a Igreja Ortodoxa manteve uma
continuidade de fé e amor com a comunidade apostólica fundada por Cristo e sustentada
pelo Espírito Santo. Os fiéis ortodoxos são aqueles que ela preservou e a quem
ensinou a fé histórica cristã, livre de erros e distorções, desde o tempo dos
Apóstolos. Acreditamos que nela não há nada de contrário à Verdade nem que
iniba a união real com Deus. O ar de antiguidade e atemporalidade que
geralmente caracteriza a Igreja Oriental é uma expressão de seu desejo de
permanecer leal à autêntica fé cristã.
Os fiéis
ortodoxos acreditam que a fé cristã e a Igreja são inseparáveis. É impossível
conhecer Cristo, compartilhar da vida da Santíssima Trindade ou ser considerado
um cristão fora da Igreja. É no
interior da Igreja que a fé cristã é proclamada e mantida. É através da Igreja
que somos alimentados na fé.
REVELAÇÃO
Deus é a fonte da fé na Igreja Ortodoxa. A
Ortodoxia acredita que Deus revelou-Se a nós, mais especialmente através de
Jesus Cristo, Que conhecemos como Filho de Deus. Esta Revelação de Deus, Seu
amor, Seu propósito, faz-se constantemente manifesta e contemporânea na vida da
Igreja pelo poder do Espírito Santo.
A fé
ortodoxa não se origina com especulações humanas a respeito da religião, nem
com as chamadas “provas” da existência de Deus, nem mesmo ainda com uma busca
humana pelo Divino. A origem da Fé Cristã Ortodoxa é a autodivulgação de Deus.
A cada dia, as Orações Matinais da Igreja afirmam e nos recordam disso, “Deus é
o Senhor e Ele Se nos manifestou (a nós)”. Enquanto o Ser interior de Deus
sempre permanece desconhecido e inacessível, Deus Se manifesta a nós, Igreja
conhece Deus como Pai, Filho e Espírito Santo. A doutrina da Santíssima
Trindade, cerne da fé ortodoxa, não é um resultado de especulação piedosa, mas
antes a experiência incomensurável de Deus. A doutrina afirma que só existe um
único Deus, em Quem existem três Pessoas distintas. Em outras palavras, quando
reunimos o Pai, o Filho e o Espírito Santo, estamos fazendo experiência de
contato com Deus. Enquanto a Trindade Santa é um mistério que não pode nunca
ser compreendido completamente, a Ortodoxia acredita que podemos participar
verdadeiramente na Trindade através da vida da Igreja, especialmente através de
nossa celebração da Eucaristia e os Sacramentos, bem como de nossos serviços
não sacramentais.
ENCARNAÇÃO DE JESUS CRISTO
Juntamente à crença na Trindade Santa, a
doutrina da Encarnação ocupa uma posição central no ensinamento da Igreja
Ortodoxa. De acordo com a Fé Ortodoxa, Jesus é muito mais do que um homem
piedoso ou um grande mestre em moral. Ele é o “Filho de Deus que Se torna o
Filho do Homem”. A doutrina da Encarnação é uma expressão da experiência da
Igreja de Cristo. Nele, a divindade está unida com a humanidade sem a
aniquilação de nenhuma dessas realidades. Jesus Cristo é o Deus verdadeiro que
compartilha na mesma realidade tal como o Pai e o Espírito. Todavia, Ele é
verdadeiramente homem, compartilhando conosco tudo o que é humano. A Igreja
acredita que, como único Deus-Homem, Jesus Cristo restaurou a humanidade para
comungar com Deus.
Ao
manifestar a Santíssima Trindade, ensinar o significado da verdadeira vida
humana e conquistar os poderes do pecado e da morte pela Sua própria
Ressurreição, Cristo é a suprema expressão do amor de Deus Pai por Seu povo,
feito presente em cada era e em cada lugar pelo Espírito Santo através da vida
da Igreja. Os grandes Padres da Igreja sumarizaram o ministério de Cristo na
ousada afirmação: “Deus tornou-Se aquilo que somos a fim de que nós nos
tornemos aquilo que Ele é.”
ESCRITURAS
As Sagradas Escrituras são imensamente
consideradas na Igreja Ortodoxa. Sua importância é expressa no fato de que uma
parte da Bíblia é lida em cada serviço litúrgico. A Igreja Ortodoxa, que se vê
como guardiã e intérprete das Escrituras, acredita que os livros da Bíblia são
um testemunho valioso da Revelação Divina. O Antigo Testamento é a coleção de
49 livros de vários estilos literários que expressam a revelação de Deus aos
antigos israelitas. A Igreja Ortodoxa vê o Antigo Testamento como uma
preparação para a vinda de Cristo e acredita que deve ser lida à luz de Sua
Revelação.
O Novo
Testamento está centrado na pessoa e obra de Jesus Cristo e a profusão do
Espírito Santo na Igreja dos primeiros tempos. Os quatro Evangelhos são um
resumo da vida e do ensinamento de Cristo, centrados em Sua morte e
Ressurreição. As 21 Epístolas e os Atos dos Apóstolos estão devotados à vida
cristã e ao desenvolvimento da Igreja Antiga. O Livro da Revelação (Apocalipse)
é um texto bem simbólico dedicado ao retorno de Cristo, na pessoa de Jesus
Cristo.
TRADIÇÃO
Enquanto a Bíblia é enaltecida como o valioso
registro escrito sobre a revelação de Deus, não a contém por inteiro. Ela é
vista como uma expressão da revelação de Deus no decorrer da vida de Seu povo.
As Escrituras são uma parte do tesouro da Fé, conhecido como Tradição. Tradição
significa aquilo que é “transmitido” de uma geração à outra. Além do testemunho
da Fé nas Escrituras, a Fé Cristã Ortodoxa é celebrada na Eucaristia, ensinada
pelos Padres, glorificada pelos Santos, expressada nas orações, hinos e ícones,
defendida pelos Sete Concílios Ecumênicos, incorporada no Credo
Niceno-Constantinopolitano, manifestada no cuidado social e, pelo poder do
Espírito Santo, vivida em cada paróquia ortodoxa local como um todo, sendo a
guardiã da autêntica Fé Cristã portadora do testemunho da Revelação.
CONCÍLIOS & CREDO
Assim como a Ortodoxia evitou qualquer
tendência de restringir a visão da Revelação de Deus a somente uma via de sua
vida, a Igreja também evitou a definição sistemática ou extensiva de sua Fé. A
Ortodoxia afirma que a Fé Cristã expressa e pontua a misteriosa relação entre
Deus e a humanidade. Deus tornou-Se homem na pessoa de Jesus Cristo não para
instituir uma nova filosofia ou um código de conduta, mas antes de tudo para
derramar sobre nós a “nova vida” na Trindade Santa. Esta realidade, manifesta
na Igreja, não pode ser concebida totalmente em línguas, fórmulas ou
definições. O conteúdo da Fé não é oposto à razão, mas se encontra para além
dos laços da razão, tal como as muitas e importantes realidades da vida. A
Ortodoxia reconhece a suprema majestade de Deus, tal como as limitações da
mente humana. A Igreja se contenta em aceitar o elemento do mistério em sua
aproximação de Deus.
A Igreja
age para definir dogmaticamente um artigo da fé somente quando as verdades
fundamentais da Fé são tratadas seriamente por falsos ensinamentos. Por essa
razão, as decisões dos Sete Concílios Ecumênicos da antiga Igreja indivisa são
altamente respeitados. Os Concílios são sínodos nos quais Bispos de todo mundo
ortodoxo se reúnem para proclamar, em tempo e espaço particulares, o que a
Igreja sempre acreditou e ensinou.
O Credo
Niceno-Constantinopolitano, formulado nos Concílios de Niceia em 325 e
Constantinopla em 381, foi reconhecido mais tarde como a expressão de maior
autoridade das crenças fundamentais da Igreja Ortodoxa. O Credo é geralmente
referido como “Símbolo de Fé”. Tal descrição indica que o Credo não é um estatuto
analítico, mas aponta uma realidade ainda maior e da qual ele testemunha. Por
gerações, o Credo tem sido o critério da autêntica Fé e a base da educação
Cristã. O Credo é recitado por ocasião do Batismo e durante cada Divina
Liturgia, bem como em outros serviços litúrgicos e nas orações cotidianas
indicadas aos fiéis.
O CREDO
Creio em um só Deus, Pai Que tudo domina,
Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
E em um
só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos
os séculos; Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado não criado,
co-essencial ao Pai, por Quem tudo foi feito;
O Qual
por nós homens e para nossa salvação desceu dos Céus, Se encarnou do Espírito
Santo e da Maria Virgem e Se fez homem;
Que também
por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado;
Ressuscitou
ao terceiro dia, conforme as Escrituras;
Ascendeu
aos Céus, onde está sentado à direita do Pai;
E novamente
virá com glória, para julgar os vivos e os mortos, e o Seu Reino não terá fim.
E no
Espírito Santo, Senhor Vivificante, Que procede do Pai, e Que com Pai e o Filho
juntamente é adorado e glorificado, e Que falou pelos Profetas.
E na
Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.
Confesso
um só Batismo para a remissão dos pecados.
Espero a
ressurreição dos mortos
E a vida
do século futuro. Amém.
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