PRECISAMOS DE MONGES NO BRASIL
THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro
“O monge veio ao mosteiro não por ouro, mas por Deus. O mosteiro se ergueu não por suas pedras, mas por seu espírito.”
Num mundo cada vez mais barulhento, frenético e apaixonado pelas aparências, o monge é uma denúncia silenciosa, uma profecia viva de que ainda há outra forma de viver: a forma evangélica, livre, profunda. O Brasil precisa de monges. Precisa de corações consagrados inteiramente a Deus, não porque sejam melhores que os outros, mas porque decidiram desaparecer no mistério, para que o mundo não se afogue em si mesmo.
O monge não foge do mundo por desprezo, mas o deixa por amor. Ele escolhe a oração em vez da política, o jejum em vez do banquete, a fé em vez do medo. Ele sabe que a santidade não é uma ideia ou um slogan espiritual, mas uma vida encarnada, crucificada, ofertada.
Na vida ortodoxa, o monge é um farol aceso por Deus para os navegantes do mundo. Ele não afirma ser perfeito, e jamais deveria. Ele sabe que é pecador, mas também sabe que a graça de Cristo é suficiente para sustentar sua entrega. Não são super-heróis da fé, nem artistas da piedade. São homens e mulheres que escolheram viver de joelhos em vez de subir plataformas. Que vivem no oculto, onde Deus habita.
Vivemos numa era em que o teólogo disputa audiência, o influenciador espiritual mede palavras para agradar algoritmos e onde todos desejam ser vistos, notados, aplaudidos. O monge caminha na contramão: escolhe desaparecer completamente em Cristo. Ele está ancorado na eternidade, não no “tendência” do dia. Seu tempo é outro, sua medida é a da eternidade.
E é aqui que o Brasil se vê carente. Quem está orando em silêncio pelos nossos doentes, nossos dependentes químicos, nossos jovens perdidos? Quem está jejuando por amor à Igreja e ao mundo? Quem está sustentando nas costas a dor dos que nem sabem rezar?
Enquanto muitos de nós nos debatemos em discussões acaloradas, os monges oram.
Enquanto buscamos reconhecimento, eles escolhem o esquecimento.
Enquanto queremos viralizar, eles se escondem para que Cristo apareça.
A vida monástica é um chamado à liberdade verdadeira: liberdade das paixões, da obsessão pelo controle, do ego inflado pelas curtidas. E o mosteiro — esse lugar de céu na terra — não é erguido por muros, mas por almas inflamadas de Deus.
O Brasil precisa de monges.
Não como figuras exóticas do passado.
Mas como guerreiros invisíveis, como vigias da madrugada, como intercessores em tempo integral.
Precisamos deles não apenas para manter viva uma tradição, mas para lembrar a todos nós que a Igreja respira pela oração, que a salvação não é uma construção humana, e que a verdadeira revolução começa no silêncio de uma cela monástica, onde uma alma clama: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, pecador!”
O mundo pode oferecer muito, mas um mundo sem monges oferece apenas distração, não direção.
E assim como no deserto do antigo Egito ou nas montanhas do Monte Athos, que surjam também nas terras brasileiras homens e mulheres de fogo, almas apaixonadas por Deus, que façam de nossa pátria uma terra também fecundada pela intercessão escondida, e não apenas pelo esforço visível.
Sim, precisamos de monges no Brasil. Não para enfeitar a fé, mas para sustentá-la.
14.07.2025
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