A SAGRADA COMUNHÃO RENOVA A VIDA CRISTÃ - PARTE 1

ATANASIOS de Limassol, Metropolita
tradução de monja Rebeca (Pereira)



A essência de uma verdadeira vida cristã é a preparação, por meio dos mistérios da Igreja e de sua vida ascética, das lutas contra as paixões e os pecados e do arrependimento, para sermos conduzidos à Sagrada Comunhão e à comunhão do corpo e sangue de Cristo. Este é o ápice do nosso relacionamento com Cristo, pelo menos num nível prático.

Quando alguém tem obstáculos espirituais, que foram estabelecidos pelas regras da nossa Igreja e apontados por nossos pais espirituais, então ele não pode comungar do corpo e sangue de Cristo. Existem obstáculos espirituais específicos que nos impedem de comungar do corpo e sangue de Nosso Senhor, não como uma punição, não no sentido de usar isso como uma forma de punição, por assim dizer — como algumas pessoas dizem: "Fui punido com a abstenção da Comunhão" — mas é algo bastante benéfico, porque não estamos prontos para comungar do corpo e do sangue de Cristo se cometemos certos pecados apontados pelas regras da Igreja.

Você pode perguntar por quê. Porque este encontro com Cristo é o evento mais importante, mas para que a Sagrada Comunhão funcione de forma positiva em nossa alma e possamos assimilar este evento, precisamos estar devidamente preparados. Vamos dar um exemplo. Suponhamos que saímos ao sol, no campo, e queremos ver o disco solar. Mas, para isso, precisamos de óculos bem escuros que nos permitam olhar para o sol. Caso contrário, se quisermos olhar diretamente para o sol, embora ele seja tão brilhante e benéfico para nós, mas sem nossos óculos — sem preparação — certamente ficaremos cegos ou sofreremos algum dano. É o que acontece também com a Sagrada Comunhão, poderíamos dizer.

Se alguém recebe a Sagrada Comunhão sem a preparação adequada, sem estar devidamente preparado, então a Sagrada Comunhão não se transforma em luz, alegria, Reino de Deus e vida eterna dentro de nós, mas a pessoa que comunga transforma essa presença de Deus em fogo eterno, em inferno eterno, eu diria. Portanto, é possível que alguém literalmente se queime na Sagrada Comunhão. Da mesma forma que alguém pode ser salvo, pode ser iluminado e preenchido com zelo e amor divinos; se alguém não estiver pronto para a Comunhão, pode literalmente se queimar.

É por isso que a Igreja nos prepara por meio do exercício espiritual e da abstenção de pecados graves, os quais, segundo a Igreja, não nos ajudam a nos aproximar de Cristo, e, claro, por meio da Confissão e do arrependimento (a Igreja nos prepara). Portanto, devemos nos aproximar da Sagrada Comunhão sempre com grande arrependimento e humildade. É preciso perceber e sentir o que se está prestes a se realizar quando nos aproximamos da Sagrada Comunhão. É preciso sentir que se vamos nos unir a Cristo, receber o Seu Corpo e o Seu Sangue interiormente e tornar-mo-nos um com Cristo. E certamente Cristo é inculpável de qualquer impureza e pecado. E não podemos receber Cristo em nós sem nos prepararmos por meio de um exercício espiritual e purificação análogos.

É por isso que, como eu disse, a Igreja, por meio dos pais espirituais, pode nos aconselhar: "Sabe, é melhor não receber a Sagrada Comunhão". Isso não deve nos decepcionar de forma alguma, pensando: "Ah, o padre me castigou". Não, o padre não o castigou. O padre o ajudou. Assim como um bebê não pode comer alimentos duros, como os de pessoas mais velhas, porque tais alimentos podem prejudicá-lo, alimentos sólidos e duros não ajudam o organismo do bebê. Um bebê precisa comer alimentos macios, adequados à sua idade. Não serviremos carne, por exemplo, nem qualquer alimento sólido e difícil de digerir, porque o bebê não possui a capacidade de digerir tal alimento. Da mesma forma, quando um pai espiritual percebe que uma determinada pessoa não deve receber a Sagrada Comunhão por certas razões espirituais, ele sugere que essa pessoa espere um pouco para estar melhor preparada para receber o Sangue e o Corpo de Cristo dentro dela.

Agora você pode perguntar: "Mas todos estes que recebem a Sagrada Comunhão estão prontos?" Deus tenha misericórdia de nós. De mim primeiro e depois de vocês. Deus tenha misericórdia de nós. Sabe, quando eu era abade em Maheras, todos os domingos eu costumava dizer às pessoas: "Todos vocês que estão prestes a receber a Sagrada Comunhão, por favor, façam-no, apenas aqueles que se prepararam adequadamente por meio de confissão, jejum e orações." Mas então eu me perguntei: "Mas o que estou dizendo a essas pessoas?" Todos os que vêm para a Sagrada Comunhão acham que se prepararam como deveriam? É como se entregássemos um certificado de prontidão antes da Sagrada Comunhão? Nesse caso, o primeiro a se perder aqui seria eu. E então todos os outros me seguiriam também! Afinal, quem está realmente pronto? Quem é digno deste fogo divino? Quem é digno de receber este carvão aceso? Quem é digno de se aproximar de Cristo? Ninguém.

É por isso que este mistério nos é oferecido de forma oculta. Na forma de pão e vinho. Embora o Sangue e o Corpo de Cristo estejam verdadeiramente presentes, visto que não podemos comungar da carne e do sangue humanos em seu verdadeiro sabor e aparência, nós os recebemos ocultos na forma de pão e vinho. É por isso que os idólatras acusaram os cristãos de serem devoradores de homens nos primeiros séculos. É porque ouviram dizer que os cristãos bebiam do sangue de Cristo. Então, disseram: "Sério que eles fazem isso? Então são canibais, bebem sangue humano." Eles não conseguiam entender o que estava acontecendo. Assim como algumas avós simples que dizem aos netos: "Abram a boca para beber do sangue de Cristo". Existe alguma criança que gostaria de beber sangue? Bem, na realidade, é verdadeiramente o sangue de Cristo escondido neste mistério. E se Deus permitisse que os olhos de nossa alma vissem exatamente o que estamos recebendo, então todos nós desapareceríamos, ninguém jamais ousaria se aproximar.

No entanto, Cristo, por causa de Seu imenso amor pela humanidade, escondeu Seu corpo e sangue no pão e no vinho, por assim dizer, porque a Sagrada Comunhão é uma grande necessidade para nós. Não podemos viver sem ela. Quem pensa que pode viver sem receber a Sagrada Comunhão está enganado. Não há como ter uma vida espiritual, uma verdadeira vida cristã sem os mistérios da Igreja. E, acima de tudo, sem a Sagrada Eucaristia. É impossível. Você pode ser uma boa pessoa, pode se tornar um bom filho, pode se tornar um grande filósofo, pode se tornar um humanitário, um altruísta, um voluntário ou o que for, mas isso não fará de você uma pessoa em Cristo.

A única maneira de se tornar uma pessoa em Cristo é viver e experimentar os mistérios da Igreja. Esta é a realidade. É por isso que não podemos viver como cristãos se, antes de tudo, não formos à Igreja. E por "ir à Igreja" não queremos dizer que vamos à Igreja apenas para ouvir. Não vamos à Santa Liturgia para ouvir, nem para assistir. A Santa Liturgia não é uma peça teatral que vamos assistir. Nem é uma ópera que vamos apreciar a música. A Santa Liturgia é a participação no Corpo e no Sangue de Cristo, então vamos à Santa Liturgia para comungar do Corpo e do Sangue de Cristo. É por isso que vamos. E este é o propósito da nossa presença na Santa Liturgia e o propósito de estarmos presentes na Sagrada Comunhão.

Por que isso é necessário para nós? Porque esta é a única maneira de vivermos e não morrermos. Quero dizer, podemos viver de acordo com os mandamentos de Deus (em Cristo). Da mesma forma, suportamos as consequências pós-queda em nossa existência humana, porque nascemos de nossos antepassados e carregamos todos esses elementos pós-queda sobre nós, e nascemos de novo através do Batismo e do Santo Crisma, somos revividos e fortalecidos, e através da Sagrada Comunhão nos tornamos um só Corpo. Somos unidos a Cristo e nos tornamos verdadeiros filhos de Deus. Isso não pode ser feito de outra forma, é uma realidade impossível de funcionar de outra forma. Esta é a única maneira. Somente quando você está unido a Cristo, você vive em Cristo (de acordo com a Sua vontade). Caso contrário, a vida cristã será apenas uma condição filosófica e teórica que não durará muito.

Certamente, aquele que não participa da Sagrada Liturgia e não recebe a Sagrada Comunhão pode teoricamente ser uma boa pessoa, mas gradualmente, em algum momento, sua condição irá se deteriorar e acabará sendo uma boa pessoa mundana e nada mais.

Agora, como nos preparamos? Preparamo-nos da maneira que a nossa Santa Igreja nos transmitiu, dando-nos os "remédios" certos que nos ajudam a estar preparados, como a confissão dos nossos pecados, e também as nossas orações, o jejum, que é especificamente estabelecido pela nossa Igreja, quando e como jejuamos. Por exemplo, jejuamos durante a Quaresma, como fazemos agora, e jejuamos antes do Natal e antes da festa dos Santos Apóstolos, antes da Dormição da Theotokos e antes de alguns outros dias festivos. Jejuamos às quartas e sextas-feiras durante todo o ano, com algumas exceções, e quando jejuamos de acordo com as regras da Igreja, certamente podemos comungar, no que diz respeito ao jejum, em qualquer dia do ano em que estivermos presentes na Sagrada Liturgia, desde que jejuemos nesse dia e nos abstenhamos de qualquer alimento. Não consumimos nenhum alimento naquela manhã.

Não precisamos jejuar em nenhum outro dia, a menos que nosso pai espiritual sugira que jejuemos na noite anterior, ou por alguns dias, etc., como um exercício espiritual pessoal. Mas isso é algo pessoal, não é uma regra geral. Um cristão que jejua nos dias de jejum específicos estabelecidos pela Igreja, não precisa de nenhum outro dia de jejum antes da Sagrada Comunhão, exceto no dia da Sagrada Comunhão. Quero dizer que, do momento em que acordamos até recebermos a Sagrada Comunhão, não comemos nem bebemos absolutamente nada. Isso pode parecer uma questão simples e externa, por assim dizer, mas envolve, no entanto, todas as vantagens que o jejum oferece às pessoas como um grande exercício espiritual e físico que nos purifica e limpa nosso corpo, nossa mente e alma, fortalecendo nossa vontade. Ele nos prepara para a renúncia ao pecado e ao velho homem. Ele nos ajuda a recusar muitas coisas, a aprender a dizer não a tudo o que nos tenta a cometer um pecado ou a cair em paixões.

Mas o que virtualmente nos prepara para a Sagrada Comunhão é o cultivo do arrependimento e da humildade em nossas almas. É disso que precisamos: preparar-nos por meio do arrependimento e da humildade. Aquele que aprendeu a trilhar este caminho espiritual é verdadeiramente a pessoa que encontrou a chave para a porta de Deus. Arrependimento, humildade e contrição de coração são as virtudes que nos tornam dignos diante de Deus. Porque, independentemente do que possamos fazer, infelizmente, sendo limitados em nossa natureza humana, não creio que as obras por si só possam nos fazer estar diante de Deus. Qual de nós fez tantas obras de virtude a ponto de ser puro? E não apenas obras de virtude, mas também ser sem pecado? Admito que não sou. Não sei se há alguém aqui que seja puro e sem pecado — que levante a mão e diga que é! Há alguém? Nem um sequer? Não importa!

Então, se não há ninguém puro e sem pecado, o que ou quem pode nos ajudar a estar diante de Deus? Somente a humildade e o arrependimento. Nós nos aproximamos de Deus — como cantamos naquele belo serviço na Igreja que todos devemos ler antes da nossa Comunhão, "A Ordem de Preparação para a Sagrada Comunhão", como é chamado — que contém muitas orações que devemos ler na noite anterior ou no dia anterior, onde admitimos nossa doença, nossa fraqueza, nossa impureza, nossa pecaminosidade, mas ao mesmo tempo testemunhamos nossa esperança, dizendo: "Sim, eu sou tal e tal pessoa, sou pior do que as meretrizes e o filho pródigo, pior do que os publicanos, pior do que o ladrão e todas as pessoas". E nossos pais não apenas diziam todas essas coisas pretensiosamente, sendo sentimentais ao usar palavras tão melodramáticas, mas realmente vivenciavam todas essas coisas e, ao mesmo tempo, sentiam e experimentavam a misericórdia de Deus. "Embora eu seja como sou, coloco minha esperança em Sua misericórdia."

E, por exemplo, da mesma forma que Cristo nunca despediu a meretriz, o ladrão ou o filho pródigo, o cobrador de impostos, a mulher com hemorragia, e todos os mencionados nas orações, todos esses exemplos nos dão esperança e um motivo para  recebermos a Sagrada Comunhão — não depositando nossas esperanças em nossa pureza, mas depositando nossas esperanças na misericórdia e benevolência do Senhor, reconhecendo nossa própria fraqueza. Assim como vamos a um médico e imploramos que ele nos cure, estamos prestes a morrer, e sabemos que somente esse médico poderia nos salvar. E dizemos: "Doutor, por favor, me salve, senão eu vou morrer". E sentimos que estamos perto da morte e que o fim está próximo, e imploramos ao nosso médico que nos cure; da mesma forma, com essa atitude, devemos ir à Sagrada Comunhão, sentindo que o médico do corpo e da alma (Cristo) vai nos curar com Sua presença.

A Sagrada Comunhão não é uma recompensa por nossas boas ações ou por nosso bom e moral estilo de vida cristão. Não é uma recompensa. A Sagrada Comunhão é um remédio. É um equipamento para a vida eterna. É um remédio para a cura de nossa existência ferida, quando estamos prontos para receber esse remédio em nossas vidas por meio do arrependimento e da humildade. Portanto, o que pode nos ajudar a estar diante de Deus é a humildade e o arrependimento.

Se prestarmos a devida atenção a essa questão específica em nossas vidas, meus queridos filhos, e fizermos do nosso propósito de vida comungar do corpo e do sangue de Cristo pelo menos todos os domingos — pelo menos todos os domingos, a menos que tenhamos recebido ordens em contrário de nosso pai espiritual — e se nos prepararmos com orações e todos os outros equipamentos que mencionamos, então Cristo se tornará um morador permanente em nossos corações. E quando Cristo habita no coração de alguém, então a pessoa é purificada, iluminada e iluminada, e se torna um verdadeiro filho de Deus. Então, a pessoa pode derrotar tudo o que acontece ao seu redor: seus medos, suas inseguranças, sua ansiedade, sua solidão. Ela derrota tudo isso, mas acima de tudo, a morte. Isso porque ela transcende todas as coisas corruptíveis e ingressa na realidade da vida eterna.


Comentários