HOMENS DA ESCURIDÃO NÃO PODEM OFERECER PAZ - UM OLHAR SOBRE A VERDADEIRA PAZ NO MUNDO

THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro


Vivemos tempos sombrios. O mundo inteiro, de leste a oeste, parece envolto em tumultos, guerras, divisões e tragédias humanas. No coração do Oriente Médio, berço da civilização, vemos a dor gritar em cada ruína da Síria, no sofrimento silencioso dos lares no Líbano, nos campos devastados da Palestina, nas ruas feridas do Iraque. A paz é proclamada nos discursos, mas ausente nas realidades. Por quê?

Porque, como ensina a Tradição Ortodoxa, os homens da escuridão não podem oferecer paz.

Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou claramente: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá.” (João 14:27)

A verdadeira paz não é a simples ausência de guerra ou tranquilidade política. Ela nasce de um coração reconciliado com Deus, do amor ao próximo e da justiça divina habitando nas almas. Os Santos Padres da Igreja foram unânimes: a paz começa no coração purificado, na vida iluminada pela graça, na obediência aos mandamentos do Senhor.

São Basílio Magno escreveu: "Não existe verdadeira paz fora de Deus, pois a paz não é uma ideia, é uma Pessoa: o próprio Cristo."

Os governantes deste mundo, quando agem com egoísmo, interesses pessoais ou ideologias de poder, tornam-se instrumentos da escuridão, mesmo que falem em nome da “ordem” ou da “segurança”. Como pode alguém mergulhado nas trevas oferecer a luz? Como pode quem rejeita a justiça e a misericórdia de Deus semear harmonia?

A terra dos profetas, dos apóstolos e dos mártires tornou-se campo de batalhas políticas, religiosas e econômicas. A Síria, mártir entre as nações, sofre há mais de uma década com um conflito brutal. O Líbano, símbolo de convivência e resistência, enfrenta um colapso moral, político e econômico que silencia esperanças. Em cada esquina, um grito abafado: "Até quando, Senhor?"

São João Crisóstomo já alertava: "Onde há injustiça, ali está o demônio; e onde o demônio governa, jamais haverá paz."

Enquanto interesses estrangeiros exploram, milícias se armam, líderes se corrompem e o povo é esmagado, devemos reconhecer: não há paz sem arrependimento. Não há cura sem verdade. Não há reconstrução sem oração.

As Escrituras ensinam que: “o fruto da justiça semeia-se na paz para os que promovem a paz” (Tiago 3:18). Mas o que vemos são os frutos das trevas: mentiras, divisões, ódio, desumanização do outro, destruição de famílias, assassinatos, ganância e orgulho. Tudo isso é incompatível com a paz que vem do Alto.

São Silouan do Monte Athos dizia: “Onde o Espírito do Senhor está, há paz, mesmo em meio à guerra; onde Ele não está, há guerra, mesmo em meio ao silêncio.” Portanto, aqueles que não vivem no Espírito, ainda que falem de tratados, acordos e reconstruções, não podem ser verdadeiros pacificadores. Podem ser estrategistas, negociadores, políticos... mas não são portadores da paz.

A Igreja Ortodoxa, Mãe e Mestra, jamais compactua com os caminhos das trevas. Ela proclama, com os apóstolos e mártires, que somente a luz de Cristo pode vencer a escuridão. Seu papel não é agradar aos poderosos, mas anunciar a salvação, denunciar a injustiça, consolar os feridos e guardar a fé.

Não esperamos paz de governos, mas de Deus. E trabalhamos para que cada fiel se torne instrumento de paz:
• com oração profunda,
• com caridade concreta,
• com jejum e arrependimento,
• com coragem de dizer a verdade,
• com firmeza ao rejeitar o mal, mesmo disfarçado de bem.

Os homens da escuridão não podem oferecer paz — porque não a conhecem, porque não a desejam de verdade, porque a rejeitaram. Mas a Igreja continua a orar: "Senhor, faze de nós instrumentos da Tua paz."

E sabemos, com fé inabalável, que a última palavra não será da guerra, nem da corrupção, nem das sombras. A última palavra é de Cristo ressuscitado, Príncipe da Paz (Isaías 9:6), que virá em glória e fará novas todas as coisas. Até lá, perseveramos como luzes nas trevas, porque: “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a venceram.” (João 1:5)

16.07

 

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