HOMENS DA ESCURIDÃO NÃO PODEM OFERECER PAZ - UM OLHAR SOBRE A VERDADEIRA PAZ NO MUNDO
THEODORE El-Ghandour, Bispo
Vigário Patriarcal Antioquino para o Rio de Janeiro
Porque, como ensina a Tradição Ortodoxa, os homens da escuridão não podem oferecer paz.
Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou claramente: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá.” (João 14:27)
A verdadeira paz não é a simples ausência de guerra ou tranquilidade política. Ela nasce de um coração reconciliado com Deus, do amor ao próximo e da justiça divina habitando nas almas. Os Santos Padres da Igreja foram unânimes: a paz começa no coração purificado, na vida iluminada pela graça, na obediência aos mandamentos do Senhor.
São Basílio Magno escreveu: "Não existe verdadeira paz fora de Deus, pois a paz não é uma ideia, é uma Pessoa: o próprio Cristo."
Os governantes deste mundo, quando agem com egoísmo, interesses pessoais ou ideologias de poder, tornam-se instrumentos da escuridão, mesmo que falem em nome da “ordem” ou da “segurança”. Como pode alguém mergulhado nas trevas oferecer a luz? Como pode quem rejeita a justiça e a misericórdia de Deus semear harmonia?
A terra dos profetas, dos apóstolos e dos mártires tornou-se campo de batalhas políticas, religiosas e econômicas. A Síria, mártir entre as nações, sofre há mais de uma década com um conflito brutal. O Líbano, símbolo de convivência e resistência, enfrenta um colapso moral, político e econômico que silencia esperanças. Em cada esquina, um grito abafado: "Até quando, Senhor?"
São João Crisóstomo já alertava: "Onde há injustiça, ali está o demônio; e onde o demônio governa, jamais haverá paz."
Enquanto interesses estrangeiros exploram, milícias se armam, líderes se corrompem e o povo é esmagado, devemos reconhecer: não há paz sem arrependimento. Não há cura sem verdade. Não há reconstrução sem oração.
As Escrituras ensinam que: “o fruto da justiça semeia-se na paz para os que promovem a paz” (Tiago 3:18). Mas o que vemos são os frutos das trevas: mentiras, divisões, ódio, desumanização do outro, destruição de famílias, assassinatos, ganância e orgulho. Tudo isso é incompatível com a paz que vem do Alto.
São Silouan do Monte Athos dizia: “Onde o Espírito do Senhor está, há paz, mesmo em meio à guerra; onde Ele não está, há guerra, mesmo em meio ao silêncio.” Portanto, aqueles que não vivem no Espírito, ainda que falem de tratados, acordos e reconstruções, não podem ser verdadeiros pacificadores. Podem ser estrategistas, negociadores, políticos... mas não são portadores da paz.
A Igreja Ortodoxa, Mãe e Mestra, jamais compactua com os caminhos das trevas. Ela proclama, com os apóstolos e mártires, que somente a luz de Cristo pode vencer a escuridão. Seu papel não é agradar aos poderosos, mas anunciar a salvação, denunciar a injustiça, consolar os feridos e guardar a fé.
Não esperamos paz de governos, mas de Deus. E trabalhamos para que cada fiel se torne instrumento de paz:
• com oração profunda,
• com caridade concreta,
• com jejum e arrependimento,
• com coragem de dizer a verdade,
• com firmeza ao rejeitar o mal, mesmo disfarçado de bem.
Os homens da escuridão não podem oferecer paz — porque não a conhecem, porque não a desejam de verdade, porque a rejeitaram. Mas a Igreja continua a orar: "Senhor, faze de nós instrumentos da Tua paz."
E sabemos, com fé inabalável, que a última palavra não será da guerra, nem da corrupção, nem das sombras. A última palavra é de Cristo ressuscitado, Príncipe da Paz (Isaías 9:6), que virá em glória e fará novas todas as coisas. Até lá, perseveramos como luzes nas trevas, porque: “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a venceram.” (João 1:5)
16.07
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