Com todos os Santos
POPOVITCH Abba Justin
tradução de monja Rebeca (Pereira)
Antes da vinda de
Cristo neste mundo terrestre, nós homens só conhecíamos a morte e a morte só
nos conhecia a nós; tudo o quê era humano estava impregnado pela morte,
prisioneiro dela e vencido por ela. Nossa morte estava mais próxima de nós e
até mesmo mais real do que nós próprios. Mais forte, incomparavelmente mais
forte do que cada homem separadamente e que todos os homens juntos. A Terra era
a temível prisão da morte, e nós éramos seus prisioneiros e seus escravos
impotentes (cf. Hb. 2, 14-15). É somente pela vinda do Deus-Homem, Cristo, que
a “vida foi manifestada”: a “vida eterna” foi manifestada aos mortos
desesperados, aos miseráveis escravos da morte, nós (cf. I Jo.1, 2). É esta
“vida eterna” que “nós vimos com os nossos olhos e que as nossas mãos tocaram”;
é ela que nós cristãos, “nós testificamos
e vos anunciamos” diante de todos (I
Jo. 1, 2). Pois vivendo em comunhão com Cristo Jesus, nós já vivemos aqui
sobre a Terra, a vida eterna (cf. I Jo. 1, 3). Nós o sabemos por experiência
pessoal: Jesus Cristo é o “verdadeiro
Deus e a vida eterna” (I Jo. 5, 11). Nisto somente consiste o amor do homem
verdadeiro e real: “Porque Deus enviou o
Seu Filho Unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos” (I Jo. 4, 9) e
n´Ele, a via eterna. Eis porque “aquele
que tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (I Jo.
5, 12), mas se encontra totalmente na morte. Nossa única vida verdadeira é
a vida no único Deus verdadeiro, Senhor Jesus Cristo, pois que ela é totalmente
eterna e mais forte do que a morte. Por que então chamar vida aquela que está
manchada pela morte, e que se termina na morte? Assim como o mel misturado ao
veneno não é mais mel, pois tornou-se totalmente veneno, assim também é a vida
que se termina em morte e não é mais vida.
O amor que o
Deus-Homem, Cristo, tem pelos homens, não conhece nem fim nem limite. Pois para
que nós homens possamos adquirir a vida eterna, aquela que está n´Ele, e para
que nós a vivamos, não nos é pedido nem cultura, nem glória, nem riqueza e nem
nada daquilo que nós poderíamos deixar de ter, mas antes somente nos é pedido
aquilo que cada um de nós pode ter: a Fé no Senhor Jesus Cristo. Eis porque Ele
– o único Amigo dos homens – anunciou ao gênero humano tal maravilhosa
Boa-Nova: “Porque Deus amou o mudo de tal
maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n´Ele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna”.
(Jo. 3, 16 e 36). Dentre todo o gênero humano, somente Cristo, o único
verdadeiro Deus que dá ao homem o quê Anjo algum, nem homem algum pode dar,
somente Ele tinha o poder e a autoridade para declarar: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim tem a vida
eterna” (Jo. 6, 47), e ainda: “ele
passou da morte à vida” (Jo. 5, 24).
A fé no Cristo une o
homem ao Senhor eterno, que segundo a medida da fé do homem, preenche a sua
alma da vida eterna, e ele sente-se então e se compreende como eterno. E isto
em proporção ao que o homem vive ancorado segundo esta fé, que santifica
gradualmente a sua alma, o seu coração, a sua consciência e todo o seu ser,
pelas santas energias da caridade. Em proporção da sua fé, o homem aumenta a
santificação de sua natureza, e à medida em que o homem torna-se mais santo,
ele adquire uma consciência cada vez mais forte, uma consciência cada vez mais
viva de sua imortalidade pessoal. Ele adquire o reconhecimento de sua
imortalidade própria e aquela de todos. De forma real, a verdadeira vida do
homem começa pela fé em Cristo, uma fé que remete ao Senhor toda a sua alma,
todo o seu coração, todo o seu intelecto, toda a sua força – e ele santifica,
transfigura e diviniza tudo isso gradualmente. É por meio desta santificação,
desta transfiguração, desta divinização que o Senhor faz transbordar no homem
estas energias divinas da graça que lhe dão o conhecimento todo-poderoso e o
reconhecimento de sua imortalidade, e de sua eternidade pessoais. Em verdade:
Nossa vida só é vida se estiver em Cristo. Com que intensidade está ela em
Cristo? Isto é manifestado pela santidade. Mais santa é a vida, mais ela é
eterna e imortal.
É o contrário do que
se passa com a morte. O quê é a morte? A morte é a “consumação” do pecado (Tg.
1, 15). A consumação do pecado é a separação do estar com Deus, no qual se
encontram a vida e a fonte de vida. É isto a verdade evangélica, divina: a
santidade é vida, o estado de pecado é morte; a piedade é vida, a impiedade,
morte; a fé é vida, a incredulidade, morte; Deus é vida, o diabo, morte. A
morte é a separação do estar com Deus, a vida é o retorno a Deus e vida em Deus. A fé é exatamente
isso: uma alma renascendo da morte à vida, a ressurreição da alma dentre os
mortos. “Ele estava morto e eis que
tornou à vida” (Lc. 15, 24). Esta ressurreição da alma dentre os mortos, o
homem a vivenciou pela primeira vez com o Deus-Homem, o Cristo; e ele vive
continuamente na Santa Igreja, porque o Deus-Homem Se encontra continuamente nela,
dando-Se a todos os fiéis, atraves das santas virtudes e dos Santos Mistérios.
E lá onde Ele está não existe mais morte, e o homem passou da morte à vida, ele
já vive a vida eterna. Com a ressurreição do Cristo: “Nós celebramos a morte da morte, o começo da vida nova e sem fim”.
A via verdadeira
sobre a Terra começa precisamente pela Ressurreição do Salvador, pois Ele é a
vida que não se termina pela morte. Sem a Ressurreição de Cristo, a vida humana
não passa de uma agonia passiva que termina inevitavelmente com e pela morte. Mas
a vida verdadeira é aquela que se termina não pela morte. E uma vida só é
possível sobre a Terra pela Ressurreição do Deus-Homem, o Cristo. A vida só é uma vida verdadeira se em Deus,
pois é lá uma vida santa, e por esta razão uma vida na santidade e na imortalidade.
É somente pela fé no Cristo ressuscitado que o homem vive o indizível milagre
de sua existência: a passagem da morte à imortalidade, do finito à eternidade,
do inferno ao Paraíso. É somente então que o homem se encontra ele - próprio,
verdadeiramente, eternamente: “ele tinha
se perdido e foi achado”, pois “estava
morto e reviveu” (Lc. 15, 24).
Quem são os cristãos?
Os cristãos são os portadores do Cristo, e por conseqüência, os portadores e os
possuidores da vida eterna, e isto segundo a medida de sua fé e segundo a
medida de sua santidade, que é o fruto da fé. Os Santos são os cristãos mais
perfeitos, porque são santificados no mais possível nível, pelo exercício de
sua fé no Senhor Jesus Cristo, ressuscitado e eternamente Vivo (vivente). Na realidade,
eles são os únicos verdadeiros imortais no seio do gênero humano porque, de
todo o seu ser, vivem em e pelo Cristo Ressuscitado. Morte alguma não tem poder
sobre eles – suas vidas provêm por inteiro de Cristo e ela é inteiramente
“Cristo – Vida”, seu pensamentos são “Cristo-pensamentos”, seus conhecimentos “Cristo-conhecimentos”.
Tudo o quê lhes é próprio é primeiramente de Cristo, e em seguida deles: e a
respeito de suas almas? Ela é primeiramente de Cristo, e em seguida deles. Suas
vidas? Ela é primeiramente de Cristo e então deles. Eles não estão neles
mesmos, mas antes o Senhor Jesus Cristo é tudo em todos.
As “Vidas dos Santos”
não são então nada além do que a vida do Cristo Salvador, recomeçada em cada Santo , em uma
intensidade maior ou menor, de uma maneira ou de outra, ou, mais exatamente,
elas são a vida de Cristo prolongada pelos Seus Santos: a vida do Cristo
Encarnado, do Deus-Homem Jesus, Que tornou-Se homem para nos dar e nos
transmitir, como homem, a Sua vida divina; para santificar, para tornar imortal
e eterna pela Sua vida como Deus, nossa própria vida humana sobre a Terra. “Porque, assim o que santifica como os que
são santificados, são todos de um” (Hb. 2, 11). Tudo isto fora
poderosamente estabelecido e planejado para o mundo humano, pelo Deus-Homem,
Cristo, a partir do momento em que Ele Se
torna homem e participa à carne e ao sangue “o que quer dizer a partir do
momento em que Ele Se
torna participante de nossa natureza humana e então irmão dos homens, irmão
segundo a carne e o sangue (cf. Hb. 2, 14-17). Tornando-Se homem mas
permanecendo Deus, o Deus-Homem viveu sobre a Terra, uma vida santa, sem
pecado, divino-humana se encontra inteiramente no corpo divino-humano de
Cristo, a Igreja, e é vivida continuamente por ela e pela sua plenitude tanto
terrestre como celeste, assim como pelos seus membros separadamente, à medida
da fé de cada um. A Vida dos Santos está na realidade da vida do Deus-Homem, o
Cristo, transmitida a todos aqueles que O seguem e vivida por eles na Igreja. Eis
porque toda esta vida vem sempre do Cristo. Ele é a Vida (Jo. 14, 6; 1,4): a
vida sem limite, sem fim, eterna, que pelo seu divino poder ressuscita de cada
morte e vence cada morte. É exatamente o quê diz o Evangelho da toda - Verdade
do Senhor de toda - Verdade; “Eu sou a
Ressurreição e a Vida” (João 11, 23). O maravilhoso Senhor, que é
inteiramente “a Ressurreição e a Vida” reside com todo o Seu ser, como
realidade divino-humana, em Sua Igreja. Eis
porque não existe fim para a duração desta realidade. Sua vida prossegue por
todos os séculos. Cada cristão é participante do Corpo de Cristo (Ef. 3,6), e
se ele é cristão é porque ele vive a vida divino-humana deste Corpo de Cristo,
como célula de Seu organismo.
O quê é o cristão? O
cristão é o homem que vive por Cristo e em Cristo. Eis porque o
divino Mandamento do Evangelho de Cristo diz: “Conduzi-vos de uma maneira digna do Senhor” (Col. 1, 10). O quê
quer dizer: viver de uma maneira digna do Deus que encarnou. Pois eis que Ele
permaneceu inteiramente como Deus-Homem em Sua Igreja e que ela
mesma vive eternamente por Ele. Um homem vive de uma “maneira digna de Deus”
quando ele vive segundo o Evangelho de Cristo. Compreendemos então este
Mandamento evangélico: “Conduzi-vos de
uma maneira digna do Evangelho de Cristo” (Fp. 1, 27).
A vida segundo o
Evangelho, a vida santa, a vida divina é a vida natural e normal para os
cristãos. Pois os cristãos são, por vocação, Santos. Esta Boa-Nova, este
Mandamento se entendem em todo o Evangelho da Nova Aliança (Novo Testamento).
Está lá a nossa vocação: nos santificarmos inteiramente, tanto em nosso corpo
(cf. I Ts. 5, 22-23), e isto não constitui um milagre, antes uma regra – a
regra de fé, a natureza e a lógica da fé evangélica. O Mandamento do Evangelho
é claro e evidente: “Segundo o Santo que
vos chamou, sede santos em toda a vossa conduta” (I Pe. 1, 15). Isto quer
dizer que segundo Cristo (= o Santo) que revelou n´Ele, pela Sua encarnação e a
Sua humanização, a vida absolutamente santa, e que como tal dá este Mandamento
aos homens: “Sede santos porque Eu sou
Santo” (I Pe. 1, 16). E ele tem o direito de dar este Mandamento, porque
tendo Se tornado homem, Ele dá, por Ele - mesmo, o Santo, todas as forças
(“energias”) necessárias aos homens “para
a vida e a piedade” (II Pe. 1, 3), e os cristãos unidos espiritualmente e
segundo a graça, pela fé com o Santo Senhor Jesus, recebem d´Ele estas forças
divinas para viverem a vida de santidade.
É vivendo pelo
Cristo, que os cristãos vivem as obras de Cristo, pois é por meio d´Ele que
eles se tornam, não somente poderosos, mas todo-poderosos: “tudo posso Naquele que me fortalece” (Fp. 4, 13). É desta mesma
maneira que torna-se realidade a própria palavra de Verdade, o Cristo, ao dizer
que aqueles que crêem n´Ele farão suas
boas obras, e ainda maiores: “Em verdade,
em verdade vos digo que aquele que crê em Mim fará as obras que Eu faço, e ele
fará ainda maiores” (João 14, 12). E de fato, a sombra do Apóstolo Pedro
cura as doenças; São Marcos o Asceta move e faz parar a montanha pela sua
palavra...quando Deus torna-Se a força do homem, eis que então a Verdade divina
torna-se a verdade do homem, e a justiça divina torna-se a justiça do homem; e
tudo o que é de Deus torna-se do homem.
O quê são os “Atos
dos Apóstolos”? São as obras de Cristo, realizadas pelos Santos Apóstolos, pelo
poder de Cristo, ou ainda que eles realizam por Cristo, que vive neles e age
neles. E o quê é a vida dos Apóstolos? É a vida de Cristo, transmitida à
Igreja, a todos aqueles que fielmente a seguem, e prolongada pela eternidade
por eles, por meio dos Santos Mistérios e das santas virtudes.
E o quê são as vidas
dos Santos? Nada além do que uma sorte de continuação dos “Atos dos Apóstolos”.
Nestas vidas encontramos o Evangelho ele próprio, a vida ela própria, a fé ela
própria, a verdade ela própria, a justiça ela própria, o amor ele próprio, a
eternidade ela própria, a força vinda o alto ela própria, o Senhor - Deus Ele
próprio. Pois “Jesus Cristo é o mesmo
ontem, hoje e em todos os séculos” (Hb. 13, 8): o mesmo para todos os
homens de todos os séculos, distribuindo os mesmos carismas e as mesmas
energias divinas a todos aqueles que crêem n´Ele. Esta continuidade de todas as
forças divinas e de todas as energias vivificantes, subsistindo e se
prolongando na Igreja de Cristo, no dealbar dos séculos e de geração em
geração, representa precisamente a Tradição santa e viva. Esta santa Tradição
prossegue sem descontinuidade como via carismática em todos os cristãos no meio
das quais Cristo vive, na graça, pelos Santos Mistérios e as santas virtudes,
posto que Ele está todo presente, em Sua Igreja , tanto que ela é a plenitude: “A plenitude daquele que contém tudo” (Ef.
1, 23). O Deus-Homem, Cristo é a perfeição da plenitude da Divindade: “Pois n´Ele reside corporalmente a plenitude
da divindade” (Col. 2, 9). É necessário que os cristãos, pelos santos
Mistérios e as santas virtudes, sejam repletos de “toda plenitude de Deus” (Ef. 3, 19).
As “Vidas dos Santos”
revelam precisamente estas pessoas repletas do Cristo-Deus, pessoas cristóforas
– Santos – nas quais é conservada e pelas quais é transmitida a Tradição desta
vida na graça. Ela é conservada e transmitida pelas suas condutas santas evangélicas.
Pois as “Vidas dos Santos” não passam de Verdades evangélicas e divinas
transportadas na vida humana pela graça e pelas asceses. Não existe Verdade
evangélica que não possa ser transformada em vida. Todas estas
verdades são levadas a Cristo com um único objetivo: tornar-se a nossa vida, a
nossa realidade, a nossa própria aquisição, a nossa alegria. E todos os Santos,
sem exceção, vivem esta santa Verdade como centro de suas vidas, e como
substância de seus seres. Eis justamente porque as “vidas dos Santos”
demonstram e testemunham que a nossa origem vem do céu; que não somos deste
mundo, antes, do outro, e que o homem só é um homem verdadeiro em Deus; que
sobre a Terra vivemos pelo céu, que a “nossa
cidade está nos Céus” (Fp. 3, 20) e que o nosso objetivo é o de nos
tornarmos celestes, alimentados com o “Pão Celeste” que desce sobre a Terra
(cf. Jo. 6, 33, 35, 51). Este Pão do céu desce sobre a Terra para nos alimentar
da Verdade divina e eterna, do Amor divino e eterno, da Vida divina e eterna –
pela divina Eucaristia, pela nossa vida no único Deus verdadeiro e Senhor Jesus
Cristo (cf. Jo. 6, 50-51, 53-57).
Em outros termos, eis
a nossa vocação: preenchermos-nos de Deus-Homem, Cristo, de Suas energias
divinas e vivificantes, de chegarmos a nos “cristificar”. Se obras desta
maneira, já se encontras no céu, mesmo se andares sobre a Terra; já tens tudo
em Deus, mesmo se todo o teu ser permanece ainda nos limites da natureza
humana. O homem cristificado ultrapassa-se a si mesmo enquanto homem, e enquanto
Deus pelo Deus-Homem, no Qual é dado o tipo perfeito do homem realmente
verdadeiro, realizado, à imagem de Deus. Nele são dadas, também todas as
divinas energias todo-poderosas, pelas quais o homem se eleva acima de todo
pecado, de toda morte, de todo inferno, e isto somente se torna possível na
Igreja e pela Igreja, contra a qual “as
portas do inferno não prevalecerão” (Mt. 16, 18), pois ela vive o
Deus-Homem, o Senhor todo inteiro, com todas as suas forças divinas, suas
energias, suas verdades, suas realidades, suas perfeições e suas eternidades.
As “Vidas dos Santos”
são testemunhas sagradas acerca do poder taumaturgo do Senhor Jesus Cristo. Na
verdade, não são nada mais do que os testemunhos dos Atos dos Apóstolos,
continuada pelos séculos. Os Santos não passam de santas testemunhas (do grego,
mártires), tal como os santos
Apóstolos são as primeiras testemunhas. E testemunhas de quem? Do Deus-Homem,
do Cristo, d´Ele - o crucificado, ressuscitado, ascendido aos Céus, eternamente
vivo - testemunhas do Evangelho da salvação, que continua a ser escrito sem
interrupção, por meio de atos evangélicos, de geração em geração. Pois o
Cristo, Que é o mesmo ao curso dos séculos, opera continuamente milagres, com a
mesma força divina, pelas Suas santas testemunhas. Os divinos Apóstolos são as
primeiras testemunhas do Senhor Jesus, e de Sua economia divino-humana da
salvação do mundo; e suas vidas representam os testemunhos vivos e eternos
acerca do Evangelho do Salvador como vida nova, vida plena de graça, vida
santa, divina, divino-humana, e por conseqüência, vida taumaturga e verdadeira,
tal como é verdadeira e taumaturga é a própria vida do Cristo Salvador. E os
cristãos? São os homens pelos quais se continua a santa vida divino-humana de
Cristo, de geração em geração até o cumprimento dos séculos. Todos eles constituem
um só Corpo, o Corpo de Cristo, a Igreja. E são também participantes ao Corpo
de Cristo e membros uns dos outros. O fluxo da divina vida imortal começou a
correr, a correr sem cessar, do Deus-Homem, o Cristo. E os cristãos têm acesso
por Ele à vida eterna. Os cristãos são o Evangelho de Cristo, contínuo ao longo
de todos os séculos da raça humana. Nas “Vidas dos Santos” tudo é habitual, tal
como no Evangelho; mas tudo é estranho, como no Evangelho. Neles, e nos dois
casos, tudo é real e verdadeiro de uma maneira única. Verdadeiro e real segundo
a mesma verdade divino-humana, e testemunhado com a mesma santa força – divina
e humana – de uma maneira divinamente e humanamente perfeita.
E então, o quê são as
Vidas dos Santos? Eis que nos encontramos em um lugar celeste, pois a Terra
torna-se o céu para os Santos de Deus. Eis que nos encontramos entre os Anjos
corporais, entre os cristóforos. Lá onde eles estão, se encontra o Senhor
Jesus, todo, inteiramente, neles e com eles e no meio deles (“Deus que repousa
nos Seus Santos”, “Deus no meio de Seus
Santos”, cf. Sl. 38, 6,8): lá se encontra toda a Verdade eterna de Deus, e toda
a justiça eterna de Deus, e todo o Amor eterno de Deus, e toda a vida eterna de
Deus.
O quê são as Vidas
dos Santos? Eis que nos encontramos no Paraíso, lê onde brota e cresce o que é
santo, o que é eterno, o que é justo, o que é verdadeiro, o que é evangélico.
Pois que em cada Santo
floresce, pela Cruz, a árvore da Vida, da vida eterna, divina e imortal, e ela
aportou muitos frutos. A Cruz conduz ao Paraíso, nos conduz também com o bom
Ladrão, que para nos encorajar, ingressou primeiramente no Paraíso com o
santíssimo e divino Portador da Cruz – Cristo – que entra com a Cruz da
conversão.
O quê são as Vidas
dos Santos? Eis que nos encontramos na eternidade. “Não há mais tempo” (Apo. 10, 6) porque nos Santos de Deus reina a
Verdade eterna, a divina vida eterna. E “não há mais morte” para eles, porque
todos os seus corpos estão repletos de forças da Ressurreição do Senhor
ressuscitado, do único Vencedor da morte, e de todas as mortes, em todos os
mundos. Ao existe morte parar os Santos porque eis que todo o seu ser fora
repleto do Único Imortal nosso Senhor e Deus hiper-imortal, Jesus Cristo
encontrando-nos entre eles sobre a Terra, nos encontramos com eles, espécie
alguma de morte não pode nos ferir, porque os Santos são os pára-raios da
morte.
Os Santos são os
homens que vivem sobre a Terra as Verdades santas, eternas e divinas. É por
isso que as vidas dos Santos representam na realidade a dogmática aplicada,
porque todas as verdades dogmáticas santas e eternas foram por eles vividas em
toda a sua força criadora e geradora de vida. As Vidas dos Santos mostram, da
maneira mais evidente, que os dogmas não são somente verdades ontológicas em si
e para si, mas que cada dogma é fonte de vida eterna, santa e espiritual,
seguindo o Evangelho da Verdade do único e insubstituível Senhor e Salvador: “As Minhas palavras são espírito e vida”
(Jo. 6, 63). Pois eis que cada “palavra do Senhor”, de cada palavra de Deus
provém (decorre) uma força de salvação, que dá a graça, vivifica e transforma.
Sem a santa Verdade
dogmática acerca da Trindade Santa não teríamos as santas energias da
Santíssima Trindade, que obtemos pela fé verdadeira e que nos vivificam, nos
santificam, nos salvam e nos divinizam.
Sem a santa Verdade
acerca do Deus-Homem, não há salvação para os homens, posto que desta Verdade
(se vivida pelo homem) decorre a energia divina, aquela que salva do pecado, da
morte e do diabo. As vidas de inúmeros Santos testemunham claramente e
empiricamente desta Verdade dogmática acerca do Deus-Homem, Jesus? Se os Santos
são santos é justamente porque vivem, de todo, o Deus-Homem, o Senhor Jesus
Cristo, como alma de suas almas, como consciência de suas consciências, como
intelecto de seus intelectos, como existência de suas existências, e como vida
de suas vidas. É assim que cada um deles, com uma voz de trovão, clama
juntamente com o divino Apóstolo esta verdade: “Não sou mais eu que vivo, antes é Cristo que vive em mim” (Gal. 2,
10).
Mergulhai nas Vidas
dos Santos e vede: Deles todos irradia o poder carismático, vivificante e
salvador da Mãe de Deus, que os conduzi de ascese em ascese, de virtude em
virtude, de vitória sobre a morte em vitória sobre o diabo. Ela os conduziu ao
júbilo do Espírito, lá onde não há dor nem pena, nem pranto, mas a “Paz e a alegria no Espírito Santo” (Rm. 14,
17); alegria e paz da vitória sobre cada pecado, cada paixão, cada morte,
cada mau espírito. Tudo isto, sem dúvida alguma, testemunha na vida e
experiência o quanto é verdadeiro o santo dogma da Toda-Santa Deipara Mãe,
verdadeiramente “mais venerável que os Querubins e incomparavelmente mais
gloriosa que os Serafins”. É este o dogma que os Santos guardam em seus corações
pela Fé, e é por meio dele que vivem de um amor ardente.
Se quisermos ainda
uma ou duas, ou ainda milhares de testemunhas irrecusáveis do poder portador e
criador da vida da venerável Cruz do Salvador, as quais serão, ao mesmo tempo,
testemunhas empíricas da Verdade do dogma da morte salutar do Senhor sobre a
Cruz, vamos com Fé em direção as Vidas dos Santos. Vereis então e sentireis, de
uma maneira ou de outra, que para cada Santo, e para todos juntos, a força da
Cruz representa a arma invencível com a qual podem vencer todos os inimigos
visíveis e invisíveis de nossa salvação. Vereis também a Cruz em todo canto,
neles: em suas consciências, em seus intelectos, em suas vontades, em seus
corpos; a vereis como fonte interminável de forças de salvação e de
santificação que os conduzem seguramente de perfeição em perfeição, de alegria
em alegria, até os conduzir ao Reino Eterno, “lá onde celebramos de uma voz
incessante e contemplamos em uma alegria inexprimível a indizível beleza do
Rosto do Senhor”.
Todavia, por suas
vidas e pelas suas santas pessoas, os Santos de Deus sublinham também de uma
maneira verdadeira e persuasiva, todos os outros dogmas: por exemplo, acerca da
Igreja, acerca da graça, acerca dos Santos Mistérios, acerca das santas virtudes,
acerca do homem, acerca do pecado, acerca das santas relíquias, acerca dos
ícones, acerca da vida que há-de-vir e acerca de todos os dogmas que
representam a economia divino-humana da salvação. Sim, as Vidas dos Santos são
uma dogmática experimental. É uma dogmática vivida, uma dogmática tornada vida
na santa vida dos Santos do Deus-Homem.
Além do que, as vidas
dos Santos contêm também toda ética ortodoxa, o comportamento ortodoxo, em toda
a luz da sua grandeza divino-humana, sem dúvidas, nas Vidas dos Santos nos é
mostrado e demonstrado de maneira realista e convincente que as santas virtudes
tomam a sua fonte nos Santos Mistérios, que as santas virtudes são frutos dos
Santos Mistérios da Igreja, posto que os engendram, desenvolvem e nutrem, fazem
viver, os tornam perfeitos e eternos. Todas as divinas leis éticas decorrem dos
Santos Mistérios e são realizadas nas santas virtudes. Eis, então, porque as
vidas dos Santos não representam nada além do que uma ética vivida, uma ética
aplicada. Aliás, estas “vidas dos Santos” confirmam, sem sombra de dúvidas, que
a ética não passa de uma dogmática aplicada. A vida dos Santos compõe-se
inteiramente de Santos Mistérios e de santas virtudes, e os Santos Mistérios e
as santas virtudes são frutos do Espírito Santo, Que realiza tudo em todos (I
Cor. 12, 4, 6, 11).
Mas o que ainda são as vidas dos Santos? A
ferramenta pedagógica da ortodoxia posto que nelas, por meio de inumeráveis
vias evangélicas, totalmente provadas por uma experiência secular, nos é
mostrado como fora formada e edificada a pessoa do homem, o homem perfeito; e
como que ele cresce “até o homem
perfeito, até a medida da plenitude do Cristo” (Ef. 4 13), pelos Santos
Mistérios e as santas virtudesna Igreja de Cristo.
É exatamente isto que constitui o ideal pedagógico do Evangelho, o único ideal
que é digno de ser um ideal para o homem. O Deus-Homem, o Cristo, pôs n´Ele
este ideal, mas antes também o realizou em Si - mesmo, e depois d´Ele os santos
Apóstolos e os outros Santos de Deus. Todavia, sem o Deus-Homem, o Cristo, e
fora d´Ele, qualquer que seja ideal pedagógico do homem, ele permaneceria para
sempre um homem imperfeito, um ser mortal, um ser miserável e trágico, digno
das lágrimas de todos os olhos que existem nos mundos de Deus.
Se quiseres, as Vidas
dos Santos são uma enciclopédia original da ortodoxia. Nelas, podemos encontrar
tudo o quê de necessário a uma alma faminta e sedenta de justiça eterna, e de
Verdade eterna neste mundo; faminta e sedenta de imortalidade divina e de vida
imortal. Se desejares a Fé, encontrarás em abundância nas Vidas dos Santos.
Amor, a Verdade, a justiça, a esperança, a doçura, a humildade, a conversão, a
oração ou toda outra virtude ou ascese, nas Vidas dos Santos encontrarás uma
multidão de santos Mestres para cada ascese, receberás a ajuda da graça para
cada virtude. Se sofreres o martírio em virtude de tua fé em Cristo, as Vidas
dos Santos te reconfortarão, te encorajarão, te consolidarão, te inflamarão de
tal maneira que o teu martírio se transformará em alegria. Encontra-se
em alguma tentação? As Vidas dos Santos te ajudarão a vencê-la e agora e
sempre. Encontra-se, novamente em perigo da parte dos inimigos invisíveis de
tua salvação? As Vidas dos Santos te revestirão da “armadura de Deus” (Ef. 6, 11-13), e tu os combaterás e os
dissiparás a todos, e agora e sempre e em toda a tua vida. Se, em
contrapartida, se encontras no meio de inimigos visíveis que perseguem a Igreja
de Cristo, as Vidas dos Santos te darão a audácia e a força de confessar, sem temor
o único Deus verdadeiro e Salvador em todos os mundos, Jesus Cristo, terás como
Verdade o Evangelho, inabalável até a morte, e não importa que gênero de morte,
e sentir-te-á mais forte do que toda morte e que todo inimigo de Cristo.
Sofrendo por Cristo, exclamarás de alegria, ressentindo, de todo o teu ser, que
a tua vida se encontra nos Céus, para lá de todas as mortes, oculta com o
Cristo em Deus (Col. 3, 3).
As Vidas dos Santos
mostram inumeráveis vias de salvação, sempre seguras, vias de iluminação, de
santificação, de transfiguração, de cristificação, de divinização; elas mostram
todas as maneiras pelas quais a natureza humana vence o pecado, a cura para
cada paixão, a ressurreição de cada morte, a liberação de cada diabo, e como se
salvar de todos estes males juntos. Não existe nem paixão, nem pecado que as
Vidas dos Santos não ensinem a vencer, a matar, a aniquilar. Revelado nos é,
com tamanha clareza, que não há morte espiritual a qual não possamos
ressuscitar, pelo divino poder do Senhor. E nem tribulações, que o Senhor não
possa transformar, pela fé n´Ele, gradualmente ou de um só golpe, em uma
alegria de compunção serena.
Como nos tornamos
justos quando somos pecadores? Eis que nós temos uma multidão de exemplos
emocionantes na vida dos Santos. Podemos nos tornar Santos quando somos
ladrões, devassos, bêbados, pródigos, assassinos, adúlteros? Encontramos lá
todos os exemplos – e igualmente como que alguém que é egoísta, interesseiro,
incrédulo, ateu, orgulhoso, avaro, violento, alguém que é criminoso, corrupto,
colérico, mau, pérfido, de mau caráter, invejoso, vaidoso, desonesto, malandro,
impiedoso, como pode ele tornar-se um homem de Deus? As Vidas dos Santos nos
mostrarão e nos explicarão.
Temos ainda nas Vidas dos Santos, inumeráveis e
maravilhosos exemplos que nos mostram com que um jovem homem pode tornar-se um
santo jovem homem, como que uma jovem menina pode tornar-se uma santa jovem
menina, como que um velho homem pode tornar-se um santo velho homem, como que
uma senhora idosa pode tornar-se uma santa senhora idosa, como que uma criança
pode tornar-se uma santa criança, como que os pais podem tornar-se santos pais,
como que um filho pode tornar-se um santo filho, como que uma filha pode
tornar-se uma santa filha, como que uma família pode tornar-se uma santa
família, como que uma paróquia pode tornar-se uma santa paróquia, como que um
Bispo pode tornar-se um santo Bispo, como que um pastor de ovelhas pode
tornar-se um santo pastor de ovelhas, como que um agricultor pode tornar-se um
santo agricultor, como que um Rei pode tornar-se um santo Rei, como que um
operário pode tornar-se um santo operário, como que um juiz pode tornar-se um
santo juiz, como que um professor pode tornar-se um santo professor, como que
um aluno pode tornar-se um santo aluno, como que um soldado pode tornar-se um
santo soldado, como que um oficial pode tornar-se um santo oficial, como que um
governador pode tornar-se um santo governador, como que um secretário pode
tornar-se um santo secretário, como que um mercador pode tornar-se um santo
mercador, como que monge pode tornar-se um santo monge, como que um arquiteto
pode tornar-se um santo arquiteto, como que um médico pode tornar-se um santo
médico, com que um cobrador de impostos pode tornar-se um santo cobrador de
impostos, como um estudante pode tornar-se um santo estudante, como que um
filósofo pode tornar-se um santo filósofo, como que um cientista pode tornar-se
um santo cientista, como que um homem político pode tornar-se um santo homem
político, como que um ministro pode tornar-se um santo ministro, como que um
pobre pode torna-se um santo pobre, como que um rico pode tornar-se um santo
rico, como que um mestre pode tornar-se um santo mestre, como que esposos podem
tornar-se santos esposos, com que um escritor pode tornar-se um santo escritor,
com que um artesão pode tornar-se um santo artesão.
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