HOMILIA PELA OCASIAO DE UMA TONSURA MONASTICA
de KATOUNAKIA, Geronda Efrem
traducao de monja Rebeca (Pereira)
Minhas bem-amadas almas em Cristo,
Eu gostaria, e apresso-me em dizer duas simples palavras, tal como as duas moedas da viúva do Evangelho, para a tonsura do nosso irmão E. No entanto, suplico vossa afeição ao fato de não fazer atenção à sintaxe de minhas palavras, pois sou um ignaro. Deixei a escola em 1930, e passei tantos anos no meio destes rochedos de Katounakia, que não só esqueci as boas maneiras, como também, tenho dificuldades em me exprimir em grego, e com mais forte razão, pronunciar uma homilia. É por isto que vos peço de dirigirem vossa atenção ao conteúdo que, à medida do possível, tentarei exprimi-lo. Eu faço um apelo à vossa indulgência. E começo então...
- “Como te chamas tu, irmão”?
- E., monge
- Longa vida (muitos anos); possas tu agradar a Deus, aos Anjos e ao teu Ancião. Esta expressão é pronunciada habitualmente; é uma simples expressão. Mas possui no entanto uma profundeza rica em sentidos que provém todos do Ancião, da obediência e que retornam ao Ancião, e terminam na obediência. O Ancião é Deus, Ele próprio, que se torna visível.
Para que o nosso venerado e amado Ancião, nosso doce e santo Ancião – que distingui pela sua subtileza, sua piedade, sua devoção e sobretudo seu discernimento, ao mesmo tempo que por inúmeros outros carismas que ornam a sua alma plena de aromas – tenha decidido em proceder à tua tonsura monástica em um tão curto espaço de tempo, e de te revestir do Grande Hábito angélico, é evidente que o teu comportamento, irmão amado, a tua conduta, tua vida enquanto noviço foi tal, que encontraste graças a seus olhos; que ele repousou sobre ti.
Seguidamente, nós também, seus discípulos, sua comunidade, estamos totalmente de acordo com sua decisão, com seu julgamento, tal como uma única alma repartida em vários corpos. Todos juntos, nós queremos crer e estamos tanto certos como persuadidos que teu zelo, tua agilidade, teu ardor, não fraquejarão, em caso algum, nem conhecerá o mínimo descontentamento durante tua existência terrestre, mas que ele aumentará, se multiplicará, a fim de que possas tornar-te também um “vaso de eleição” do Espírito Santo, para a grande alegria e o júbilo do nosso santo Ancião e de toda a nossa fraternidade, e motivo ainda de honra para a Santa Montanha.
Seja então, nosso bem-amado irmão Padre E., digno de tua vocação e de nossa espera, de nossa tão doce esperança, de nossa alegria, progredindo segundo a regra monástica, observando, não só à cada dia, mas à cada instante, os caminhos da tua vida, os teus pensamentos e as tuas iniciativas, perguntando-te constantemente: para onde eu irei?
Sobe, bem-amado irmão, nosso Padre E., a escada espiritual, sem temor e corajosamente, sem hesitar face à violência e a dureza das guerras visíveis e invisíveis que te rodeiam, pois “maior é o que está em vós do que aquele que está no mundo” (I Jo.4,4).
Mas as santas orações de nosso Pai santo e teóforo e de todos os santos Padres te guardarão, te iluminarão, te consolarão, te acompanharão, para que tu saías vencedor, triunfante de todos estes combates, para a honra e glória de teu Hábito angélico, assim como nosso júbilo, como aquele deste santo lugar e de nosso santo Mosteiro.
Porte tuas armas, tal como um novo David, todas as armas da vida monástica, enquanto imitador e descendente de nossos eminentes e santos Pais António, Eutímio, Sabas, Pacómio, e particularmente como discípulo do grande Acácio e de São Dositeu. Porte as armas da temperança do ventre, da temperança da língua, da temperança dos olhos, da temperança das mãos, e sobretudo aquela da fé e da negação de si, inabalavelmente, com uma obediência cega e sem discernimento, não somente em relação ao nosso santo Ancião, mas também para com todos nossos irmãos e Padres.
Oh! Obediência, Obediência que fez de Deus um Homem e que faz do homem um deus!
Já vi muitos homens grandemente condenados que ao entrarem na arena monástica tornaram-se anjos, por meio da obediência; eles deixaram para trás o EGO.
Já vi também homens muito capazes, que ao franquearem o estádio da vida monástica, porque seguiam seu julgamento próprio, sua vontade própria, sem pedirem conselho a ninguém, conheceram um fim não muito bom, mas vergonhoso.
A obediência se divide em três períodos:
Eu obedeço para não ser condenado sendo desobediente.
Eu obedeço para ter uma recompensa.
Eu obedeço por amor.
O discípulo não teme o julgamento de Deus, porque ele ama seu Ancião. E, o que quer que ele faça, ele o faz por amor ao seu Ancião, e em consequência também, pelo seu irmão espiritual. Desta forma, enquanto nele reinar o amor, ele não temerá. Quanto mais ele ama o seu Ancião, mais ele ama o dulcíssimo Jesus.
“O amor perfeito bane o temor” (I Jo.4,18).
Então, se tu queres, tu também, nosso irmão bem-amado, ser chamado, não somente em palavras, ou pelas vestes e pelos hábitos, imitador de Jesus, mas ser um imitador e um soldado efetivo do nosso belíssimoo e dulcíssimo Jesus, é necessário que tu também, tal como Ele, subas sobre a Cruz.
O que significa “cruz”? Paciência nas tribulações.
É isto que significa a cor negra que nós trazemos.
Após a cruz vem a ressurreição.
A aflição suscita o júbilo.
O monge não deve se alegrar, porque isto não lhe convém.
Mas que ele chore sem cessar.
Viste um monge alegrar-se, ou a rir sem medida? Isto não é bom.
Viste um monge perder-se em palavras? Isto não é verdadeiramente um monge.
Viste um monge reservado, silencioso? Isto é verdadeiramente um monge.
Os santos não nasceram como tais, mas como todo o mundo. É a paciência da qual foram testemunhas nas diferentes aflições que os tornaram como tais, o que quer dizer: vencedores e coroados.
Eles deram quotidianamente o sangue e receberam o espírito.
Não penses, irmão, que eles não tinham paixões, que eles não afrontaram combates, contra o diabo ou contra o mundo! Não! Eles tiveram, eles também, como nós. Mas seu espírito viril os levava a não regredirem, a não serem mornos, fracos, quando afrontavam uma paixão.
O primeiro obstáculo que encontramos é o próprio ego; o diabo não alcança uma segunda posição.
Não penses que é coisa fácil vencer o seu eu. Tu verás bem agora que trazes o Hábito.
Ponhas abaixo o teu eu, aos pés dos Padres, dizendo o “Abençoa!”*’, tendo ou não razão. É este “Abençoa!” que temem os demónios; ele aniquila o seu poder.
Verás então despertar todo o Monte Athos.
Nós sabemos, irmão amado, Padre E., que no mundo tu eras um grande; aqui, todavia, tu serás o último de todos. Nisto consiste todo o teu combate, toda a tua violência, toda a tua força espiritual, a coroa de ouro maciço; venças a ti-próprio, assim como tu prometeste.
O diabo não tem poder.
O combate invisível do monge consiste nisto: vencer as paixões que se apresentam a ele, seu ego. No início tu afrontarás o teu velho homem, tal como um outro Golias, mas tenha confiança.
A graça virá também e tu tornar-te-ás superior às tuas paixões, ao teu próprio eu, e verás um outro homem, um homem segundo o novo Adão, geralmente sem corpo, com um horizonte espiritual, uma outra armadura espiritual, um outro alimento espiritual.
E as doces lágrimas correrão como um manancial. E tu te rejubilarás e não cessarás de dar graças, de louvar, de glorificar a Deus desta metamorfose (transfiguração).
Quanto mais o homem se humilha – o que se produz por meio da obediência e da oração – mais ele se aproxima de Deus, mais ainda ele se vê pecador, e ele chora e se lamenta, busca a misericórdia de Deus, e mais ainda ele vê os outros como santos, como anjos.
Enquanto que a medida em que ele se afasta de Deus, mais ele considera os outros como inferiores.
Faça-te então violência, nosso irmão Padre E., a fim de encontrar o teu eu. Se não te fizeres violência, tu não o encontrarás, tu não terás mais consciência de tuas paixões interiores; os anos então passarão, e constatarás que passaste tantos anos nesta Santa Montanha, e nada mais.
Para concluir, eu digo que:
A violência é digna de elogios. Mesmo o Evangelho o diz: “O Reino dos Céus sofre violência, e pela força se apoderam dele” (Mt. 11,12), assim como os santos Padres: “O monge é uma violência contínua feita `a natureza e uma vigilância incessante sobre os sentidos”.
Sem violência, não há progressão, mas nem mesmo purificação, nem visão, nem senso espiritual.
Mas, no entanto, nós acreditamos que tu ultrapassará tudo isto e que tornar-te-ás superior, mestre de ti mesmo, e que sairás deste século como um vencedor e triunfador, a fim de participar ao júbilo e ao deleite do belíssimo e dulcíssimo Esposo Jesus, pelos séculos sem fim e intermináveis, na Sua câmara nupcial celeste. Amém.
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