"Catequeses sobre a Oração" - extratos
AIMILIANOS Arquimandrita
de Simonopetra
tradução de monja Rebeca
(Pereira)
Esta Catequese teve lugar em 1974, sendo dirigida à jovem comunidade dos monges
recém-instalados no Monastério de Simonos-Petra (Monte Athos). O Arquimandrita
Aimilianos lhes fala da oração do coração.
Primeiramente, quando nos referimos à oração, é
necessário dizer que a oração não poder ser independente. Eu não posso afirmar
que eu oro, se, no entanto minha oração não está em união com o seu
complemento.
Existem coisas que, de fato, estão sempre juntas, e
não podemos separar uma da outra. Como, por exemplo: Por que o Apóstolo Paulo
ao falar da fé, não menciona as obras? (cf. Rm.4,5) Porque ao
dizer “fé”, ele compreende uma fé que existe e que se manifesta por meio das
obras. São Tiago ao falar das obras, (cf. Tg.2,14-26) diz que
a fé não tem sentido algum sem elas, ele fala constantemente das obras, mas por
quê? Porque as obras demonstram a fé. Estas duas realidades formam então um
todo indissolúvel.
Desta mesma forma a oração está intimamente
associada à uma outra realidade. Ela está ligada à Liturgia e mais
profundamente à Santa Comunhão. Sem Liturgia e sem o Sacramento da Comunhão a
existência da oração não é quase possível. Toda a oração seria então uma farsa.
De igual modo, estejamos certos de que o culto que rendemos a Deus, tal como
nossa comunhão, são vãos diante de qualquer vida litúrgica marcada
pela ausência de oração espiritual, (falo de uma oração interior forte,
consolidada). Eles não passam de lama, lançada aos olhos de Deus, para Lhe
fazer crer que O amamos; quando na realidade não temos relação alguma com Ele,
e eis que um dia Ele nos dirá: “Eu verdade vos digo que não
vos conheço.” (Mt.25,12; cf. Lc.13,25). A vida litúrgica e a oração formam
um todo. Elas constituem os dois ramos da vida espiritual; sendo uma a vida
sacramental, condição primária à vida mística, e a outra, sendo a oração, que
hoje analisamos, e que poderíamos dizer que é a raíz, o tronco, o ponto central
da vida mística, que jorra da vida sacramental. A Santa Comunhão vem então em
primeiro lugar no seio do culto. E por que razão? Por que é ela o preâmbulo
indispensável?
Quando falamos da oração interior, não utilizamos a
palavra proseuche, mas simplesmente o vocábulo euche,
pois a posição “pros”, “em direção à” nos indica seguidamente
que a oração é um caminho direcionado à alguém, com o desígnio de
nos unirmos à esta Pessoa. A oração interior (euche), é uma
pausa – se podemos assim exprimir – um ato de júbilo que tem lugar em certo
ponto onde Deus Se encontra. Como vedes, é-nos necessário fazer uma distinção.
Dizemos então que a oração (proseuche) supõe
que nos dirijamos à uma Pessoa. Por consequência, para que haja oração, é
preciso que esta Pessoa exista. E para poder dizer que oro, é preciso que a Sua
presença e a Sua existência se tornem familiares em mim. Cristo, Aquele que
está “no interior” de todas as coisas, Aquele que está presente presente em
tudo, torna-Se presente em minha vida, por meio de minha participação litúrgica
e, de forma privilegiada, de minha participação aos Santos Mistérios.
Por minha participação à vida litúrgica de nossa
Igreja, eu me associo a Cristo, tornando-me membro de Seu Corpo. E à medida em
que sou membro de Seu corpo - pois que torno-me efectivamente um membro vivo de
Seu Corpo – é-me necessário participar às propriedades de Cristo, a fim de que
se realizem em mim a perichorese e a permuta das qualidades,
da mesma maneira, que em Cristo, Suas duas naturezas, divina e humana,
complementam-se reciprocamente. Uma tal interpretação realiza-se pela Santa
comunhão, que me faz participante às propriedades d’Aquele que é a minha
Cabeça, Cristo; com Quem eu me tornei um.
Em consequência, a vida litúrgica e a Santa
Comunhão estão indissoluvelmente ligadas. O que operam elas em mim? Elas tornam
Deus, o Deus Vivo, presente em mim. O que resta a fazer agora? Vou me dirigir
Àquele que vem em minha direção. Assim, por meio da Liturgia, Deus aproxima-Se
de mim (perichorese), e por meio da oração, eu me aproximo d’Ele (proseuche), até
que esta união seja total.
Esta orientação de todo o meu ser a Deus realiza-se
pela via mística, continuamente e essencialmente pela oração. Aquilo que se
produz em um dado momento ao interior da Igreja, em Vésperas, ou durante a celebração
eucarística pela minha participação aos Santos Mistérios, prosseguir-se-á na
oração. Eu não posso dizer que vou à Igreja se em contrapartida não faço antes
minha oração. É então supérfluo ir à Igreja, desnecessário assistir à Liturgia
e inútil comungar, quando não estou em estado de oração (contínua). E também
inútil orar quando não participo a tudo o que veio a ser dito.
Todavia, a condição primordial e evidente é de
assegurar à oração um lugar próprio, um lugar reservado, um espaço místico onde
ela é cultivada.
Quando plantamos uma flor,
preparamos a terra, tornamo-la fértil, adicionamos os adubos necessários, a fim
de que desta raiz nasça uma flor. Se não a adubarmos, nem apropriarmos a terra,
deixando-a arenosa, por exemplo, é em vão que plantamos esta raiz. O mesmo
acontece à oração que permanecerá estéril, não ultrapassando o cimo de nossa
cabeça – nem ainda podendo chegar às alturas das nuvens, atingindo os Céus – se
ela não for plantada em sua terra mística, enriquecida pelo
complemento espiritual; a vigília, a meditação e o jejum.
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