Relação com o Padre da Paróquia


JANJIC Arquimandrita Sava
tradução de monja Rebeca (Pereira)


Infelizmente, apenas ordenar um sacerdote não significa necessariamente que o sacerdote se torne experiente o suficiente para a conduta espiritual. Mesmo se nos voltarmos genuinamente a todo pároco, independentemente de sua experiência e idade, Deus certamente nunca nos deixará sem ajuda e consolo. O problema surge quando se espera que os padres das paróquias sejam Anciãos clarividentes que dão conselhos espiritualmente infalíveis. Esse é um grande perigo e o estabelecimento de tais relações com Padres de paróquia ou, mais frequentemente, com hieromonges (monges- sacerdotes) podem ser arriscados e facilmente levarem a sérios problemas.

Um monge-sacerdote experiente e humilde, vivendo na disciplina monástica de uma comunidade, não deve assumir a confissão e a orientação de outros, a menos que seja especificamente confiado a ele pelo Bispo, enquanto Arquipastor. A busca arbitrária de filhos espirituais e o reunir seguidores é um indicador de doença e orgulho espirituais e, infelizmente, não é uma ocorrência rara hoje na Igreja Ortodoxa. Problemas com os chamados jovens-anciãos forçou a Igreja Ortodoxa Russa a regular ainda mais as regras da vida monástica e as relações com as pessoas no mundo. Por um lado, é compreensível que os fiéis busquem contato mais direto com seus pastores e a oportunidade de receber conselhos para resolverem seus problemas espirituais, mas na Igreja tudo deve ser/estar bem-feito (em boa ordem) e nem todos não são nem chamados e nem capazes capaz de ajudar espiritualmente os outros.

Os fiéis devem se esforçar para crescer em responsabilidade pessoal e maturidade com a ajuda de seus Padres, e não procurar Anciãos clarividentes que serão diariamente expostos às questões mais bizarras. O padre-confessor não é um guru indiano, mas uma pessoa que nos ajuda a amadurecer espiritualmente de uma maneira saudável. Em nossos dias, a busca por um Pai Espiritual tornou-se moda, pois no mundo ocidental a tendência é que todos tenham um psiquiatra. É compreensível que as pessoas precisem de conselhos, mas, na maioria dos casos, os problemas, reais ou imaginários, provêm do egocentrismo do homem de hoje que se considera o centro do mundo, que procura conselhos, mas que realmente escuta a si próprio. Um homem sábio ouve o conselho e procura aplicá-lo dentro de seus meios, e aquele que se dá muita importância procura horas de conversa e instruções detalhadas, porque, infelizmente, seus problemas são muito especiais aos seus próprios olhos. Os sacerdotes devem, portanto, agir com muito cuidado ao dar conselhos. Acima de tudo, não se deve dar conselhos explícitos, mas ajudar o fiel a identificar a melhor solução com seus entes queridos, especialmente no caso de problemas conjugais. Conversas longas devem ser evitadas e os conselhos devem ser humildes e simples. As confissões também devem ser concisas, porque nelas aquele que se confessa deve declarar de maneira clara e sem hipocrisia o que sente estar errado e sobrecarregando sua consciência, e não entrar em monólogos ou recitações intermináveis, dentre os quais a maioria ele ouve e se justifica, ou tenta impressionar o Confessor com sua escrupulosidade.

Buscar obediência incondicional ao Pai Espiritual por parte de pessoas do mundo é muito perigoso, e o clérigo que a procura de quem lhe é confiado está em uma espécie de fascínio espiritual e deve ser evitado. Mesmo nos monastérios bem estruturados, a obediência não é um processo de mão única, mas vem do encontro no amor à nossa vontade com a vontade de quem cuida espiritualmente de nossas almas. Mesmo os Confessores mais experientes, que vivem uma vida espiritual muito estrita, evitam respostas diretas, aconselhando e instruindo em palavras simples e permitindo a liberdade e a consciência cada pessoa encontrar as maneiras de agir em circunstâncias específicas. Aqueles que têm inspiração direta de Deus para o que têm a dizer são muito raros, se houver, em nosso tempo. Na humildade e no temor de Deus, não desperdiçam seus dons na agitação deste mundo.

Os "padres" que obrigam especialmente seus "filhos" a dar-lhes dinheiro, presentes, pagar viagens, providenciar acomodações e vários outros serviços, que, infelizmente, hoje não são incomuns, devem ser especialmente vigiados. Há muitos casamentos que fracassam porque são organizados por quase-Pais Espirituais, os quais se intrometem ousadamente e sem temor de Deus em assuntos de intimidade conjugal, causando danos espirituais àqueles que buscam sua ajuda. Não é incomum que aqueles que, até ontem, viveram vidas dispersas em cafés e ruas, agora, supostamente completamente curados, tenham todo um séquito de adoradores espirituais. É um triste exemplo de tropeço espiritual para ambos.

Fora do monastério, não é usual "obedecer" ou dar obediências, bem como todo tipo de simulação de vida monástica, mas só se pode dar conselhos humildes, e cabe a cada pessoa ver em sua consciência como aplicá-lo(s). Hoje, estamos testemunhando numerosas seitas no Ocidente que funcionam precisamente segundo o princípio da chantagem espiritual e mantêm pessoas de caráter debilitado sob a influência de um líder de seita. Um dos piores exemplos é o chamado Cientologia que infelizmente desintegrou espiritualmente muitas pessoas que pensavam poder encontrar alguma comunidade e conforto lá. Infelizmente, a mentalidade guru de algum clero auto-denominado na Ortodoxia repousa nos mesmos princípios. O "Pai Espiritual" está posicionado como uma autoridade inquestionável que busca plena autoridade sobre o homem, e isso é freqüentemente abordado por aqueles que temem sua própria responsabilidade e procuram outro para decidir e assumir a responsabilidade por eles. No final, isso se torna um relacionamento profundamente perturbado, escondido sob a aparência de um "relacionamento piedoso de padres e filhos espirituais", bem como a história dos Anciãos de Optina. A Igreja reconheceu os Anciãos da antiguidade e semelhantes a eles por sua santidade de vida como santos, mas muitos que os consideravam arbitrariamente não o fizeram, porque não estavam trabalhando de acordo com a vontade de Deus, mas com a deles. É por isso que entregar nas mãos de vários charlatães espirituais ou voyeurs (que gostam de ouvir confissões e entrar na intimidade interior do homem) é um caminho que finalmente leva ao desapontamento espiritual e, muitas vezes, ao completo afastamento da Igreja.

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