Missão, Evangelização e Proselitismo
por HAYES Steven
Uma das
mais importantes questões que a missão ortodoxa enfrenta, diz respeito à
evangelização e o proselitismo e a diferença entre ambos. Alguns tem dito que
não há diferença entre ambos. Se as pessoas falam a respeito da necessidade de
evangelização, eles encontram a resposta: "A Igreja Ortodoxa não promove
conversões", como se evangelização e proselitismo fossem a mesma coisa.
Outros
estão mais preocupados com o proselitismo que vem de fora da Ortodoxia - de
missionários que desde o fim do comunismo tem se apressado em converter a Rússia ,
Bulgária, Romênia e outras terras tradicionalmente ortodoxas, para sua forma de
pensamento.
Os
cristãos do Ocidente tendem a pensar que o Oriente Ortodoxo não é
"missionário". O século XX, depois da Primeira Guerra Mundial, tem
sido o período de contato "ecumênico" entre os cristãos de diferentes
tradições. Porém, a metade do séc. XX, de 1920-1970, foi o período quando as atividades
missionárias da Igreja Ortodoxa atingiu seu ponto mais baixo. Após a Queda de
Constantinopla para os turcos, em 1453, a Rússia era realmente o único centro da
missão ortodoxa, e a Revolução Bolchevique colocou um fim a isso.
O
renascimento da missão ortodoxa em nosso tempo é resultado de sementes
plantadas por pessoas como o Arcebispo Yannoulatos da Albânia, cuja publicação
"Porefthendes" apela para uma renovação da visão missionária, já nos
anos 1950 e 1960. Na África, muitas pessoas estavam pedindo para se unir à
Igreja Ortodoxa em 1930, e trouxeram uma nova visão missionária para a
ortodoxia no Leste Africano após a Segunda Guerra Mundial.
Mais
recentemente, pessoas em outros lugares foram levados à Ortodoxia, não por
missionários ortodoxos que viajam fazendo proselitismo, mas, porque eles
acreditaram que Deus os chamava para tornarem-se cristãos ortodoxos. Houve
muitas conversões de evangélicos à Ortodoxia na América e em outros lugares
como Portugal e Filipinas.
Este
processo de pessoas vindo para a Ortodoxia levou alguns a afirmar que a missão
ortodoxa não é "centrífuga" mas "centrípeta". Ao invés de
missionários partirem, a Igreja espera que as pessoas venham até ela. Mas isso
não é bem verdade. Se olharmos para a história da missão ortodoxa, há muitos
momentos em que os missionários buscaram povos de diferentes culturas, ou quem
vive em diferentes partes do mundo. Santo Cirilo e Metódio, Santo Estevão de
Perm, Santo Inocêncio de Alaska e São Nicolau do Japão, são justamente alguns
exemplos de tais missionários.
A
diferença entre evangelização e proselitismo não é a mesma que a diferença
entre missão centrífuga e centrípeta, embora essa talvez possa ser uma pista
para tal.
Em lugares
como a Rússia e a Romênia onde a Igreja Ortodoxa ficou bem estabelecida, mas no
último par de gerações foi perseguida, também há uma grande tarefa de
evangelização. Lugares como a Rússia e a Romênia precisam ser re-evangelizadas.
Será que esta pode ser a diferença entre evangelização e proselitismo? É
"evangelização" quando feita por cristãos ortodoxos no interior de um
país tradicionalmente ortodoxo, e "proselitismo" quando feito para
não-ortodoxos de fora? Não penso que seja assim.
Evangelização,
dentro do uso do termo (em inglês), significa dizer ou espalhar a Boa-nova. Os
quatro Evangelhos falam das boas novas sobre Jesus Cristo. Quando nós, como
cristãos, dizemos aos outros o que Deus fez em Jesus Cristo, nós estamos
evangelizando.
Proselitismo,
de outro lado, significa "trazer pessoas para dentro", fazendo-as mudar
suas convicções, seu partido, suas opiniões ou sua religião. No proselitismo há
uma forte tendência de dizer às pessoas o quão ruim ou erradas são suas crenças
atuais. Dizer às pessoas que suas crenças são más ou erradas não parece ser
"Boa-nova". Se nós evangelizamos, não estamos dizendo "nossa
religião é melhor que a sua religião". Não estamos nos colocando como
seres moralmente ou espiritualmente superiores, e tentando conquistar pessoas
para deixar sua religião juntando-se a nós, de forma que se sintam tão
superiores como nós. Quando evangelizamos, dizemos, de fato, que Deus fez
grandes coisas. Alguém descreveu uma vez a evangelização como "um mendigo
dizendo a outro mendigo aonde conseguir pão". Para um mendigo faminto,
esta é uma "boa-nova". E um mendigo transmitindo a outro mendigo tais
"boas notícias" não pode se sentir vangloriado ou superior por este
motivo.
Quando
missionários budistas primeiro saíram da Índia para ir a outros lugares,
chegando ao novo local, disseram apenas dois tipos de coisas: "Isto é o
que fazemos" e "Isto é o que não fazemos". Eles não fizeram
nenhum comentário sobre o que as pessoas lá já estavam fazendo em sua religião
ou filosofia. Não criticaram ou condenaram as crenças e práticas das pessoas. E
este pode ser um bom exemplo para os missionários cristãos também seguirem. Se
agirmos assim, então estaremos evangelizando e não fazendo proselitismo. Muitos
missionários ortodoxos seguiram seguem este exemplo.
Se as
pessoas que ouvem a Sagrada Escritura dizem que querem seguir Cristo e ser
batizados, então, é claro, haverá mais o que aprender. Se eles quiserem
realmente seguir Cristo, então vão querer também aprender mais a respeito da fé
cristã e sua aplicação em suas próprias vidas e comportamento. Às vezes eles
surpreendem os missionários com seu fervor. Quando o Príncipe Vladimir de
Ruskiev se tornou cristão em 988, ele surpreendeu os missionários bizantinos ao
buscar abolir a principal punição em seu reino. Houve
uma mudança radical em seu estilo de vida.
Necessariamente,
as pessoas não se tornam cristãs simplesmente mudando seu estilo de vida,
especialmente se elas mudaram através da força ou fraude. Forçar tais mudanças
nas pessoas é proselitismo e não evangelização. Evangelização é feita com
espírito de humildade e amor, enquanto o proselitismo é caracterizado pela
arrogância e orgulho. É muito mais fácil fazer proselitismo do que evangelizar;
entretanto, somos chamados a evangelizar.
Tentei, neste artigo, indicar onde, segundo penso, residem as principais diferenças entre evangelização e proselitismo. A diferença é importante e acredito que é uma das mais sérias questões que os estudiosos de missiologia da Igreja Ortodoxa enfrentam nos dias de hoje. Se não enfrentamos, nós, cristãos ortodoxos, podemos nos deparar fazendo críticas às ações que nós próprios praticamos, e condenando o que, em certos lugares e situações, relevamos e perdoamos.
Tentei, neste artigo, indicar onde, segundo penso, residem as principais diferenças entre evangelização e proselitismo. A diferença é importante e acredito que é uma das mais sérias questões que os estudiosos de missiologia da Igreja Ortodoxa enfrentam nos dias de hoje. Se não enfrentamos, nós, cristãos ortodoxos, podemos nos deparar fazendo críticas às ações que nós próprios praticamos, e condenando o que, em certos lugares e situações, relevamos e perdoamos.
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