Apocalipse e fim do mundo

ALFEYEV Metropolita Hilarion
tradução de monja Rebeca (Pereira)


O homem moderno associa a palavra “apocalipse” - que significa “revelação” - ao fim do mundo. Certos ortodoxos partilham esta forma de ver, horrificados pela idéia do “fim do mundo”, enquanto a imagem do anticristo faz, por vezes, tornar pálida aquela de Cristo, vencedor do inferno e da morte, Salvador e Redentor do gênero humano. Tentam provar a data da vinda do anticristo, divulgam inúmeras profecias acerca da proximidade do fim do mundo, alimentam o pânico em torno do número 666 e se comprazem numa atmosfera de medo e suspeita.

Esqueceram, todavia, que “o herói” da segunda vinda será Cristo e não o anticristo, que este acontecimento será aquele da glória de Deus e não um dia de derrota, que ele marcará a vitória do bem sobre o mal, da vida sobre a morte e de Cristo sobre o anticristo. Não é por acaso  que o tema da vitória está no centro do Apocalipse. Todos aqueles que tiverem optado pelo bem na batalha universal do bem e do mal tomarão parte à tal vitória. Segundo o Apocalipse, eles se assentarão sobre o trono com o Filho de Deus e tornar-se-ão, eles próprios, filhos de Deus; revestirão vestimentos brancos e seus nomes serão inscritos no livro da vida.
Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus. (Ap. 2,7)

O que vencer não receberá o dano da segunda morte. (Ap. 2, 11)

O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. (Ap. 3,5)

A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome. (Ap. 3, 12)

Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono. (Ap. 3, 21)

Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. (Ap. 21, 7)

A segunda vinda de Cristo marcará o fim da história do mundo, mas este fim não é uma cicatriz trágica e dolorosa no destino da humanidade, antes o objetivo ao qual a história, que pela Providência divina, avança de forma irremedial.

Tal é a historiografia cristã do fim do mundo, uma concepção penetrada de esperança luminosa e jubilosa, que vem se inscrever contra os terrores “apocalípticos”.

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