A Igreja Ortodoxa e os heterodoxos
ALFEYEV Metropolita Hilarion
A Igreja Ortodoxa é a verdadeira Igreja de Cristo,
fundada pelo próprio Senhor e Salvador, a Igreja que o Espírito Santo
estabeleceu e a cumulou; Igreja sobre a qual o próprio Salvador diz: “Edificarei
a Minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt. 16,
18). Ela é a Igreja una, santa, universal e apostólica, guardiã e dispensadora
dos santos sacramentos no mundo inteiro, “coluna e fundamento da Verdade” (I
Tm. 3, 15).
A unidade da Igreja está fundada
sobre sua cabeça – nosso Senhor Jesus Cristo (Ef. 5, 23) e sobre a ação nela de
um único Espírito.
A unidade eclesial se encontra no
laço indissolúvel com o sacramento da Eucaristia, no qual os fiéis, pela
comunhão ao único Corpo de Cristo se reúnem autentica e efetivamente num corpo
uno e universal, no sacramento do amor de Cristo e na força transfigurante do
Espírito.
A unidade da Igreja ultrapassa as
diferenças de raça, de língua e de classe. Na Igreja a hostilidade e o
ostracismo são ultrapassados, a unidade no amor da humaniade dividida pelo
pecado é realizada à imagem da Trindade Consubstancial.
No dealbar dos séculos, o mandamento
de Cristo acerca da unidade é mais de uma vez infrigido. Face a um mandamento
divino de unidade católica dos pensamentos e das almas no seio do Cristianismo,
surgiram divergências e divisões. A Igreja manteve-se sempre firme em seus
princípios, tanto face àqueles que se pronunciavam contra a pureza da fé
salvadora (os heréticos) como em relação àqueles que introduziam na Igrejas
problemas e divisões (os cismáticos). A Igreja Ortodoxa afirma pela boca dos
Santos Padres que a salvação não pode ser atingida fora da Igreja de Cristo. Ao
mesmo tempo, as comunidades decaídas da unidade com a ortodoxia nunca foram
consideradas como totalmente privadas da graça divina. A ruptura da
comunidade eclesial conduz
irremediavelmente à degradação da vida da graça, mas nem sempre à sua completa
disparição nas comunidades separadas. Assim se explica o fato da recepção na
Igreja Ortodoxa de pessoas provenientes de comunidades heterortodoxas não se
operar unicamente pelo sacramento do
batismo. Apesar da ruptura da unidade, permanece uma comunhão, decerto
incompleta, agindo como fiat da
possibilidade do retorno à unidade na Igreja, à plenitude católica e à unidade.
O documento que rege as relações da
Igreja Russa com os heterodoxos afirma que “a situação eclesial dos
separados não se presta à uma definição unívoca”. A existência de diversos
modos de recepção (pelo batismo, pelo crisma, pela penitência) mostra que a
Igreja Ortodoxa tem uma concepção diferenciada em relação às outras confissões.
O critério é a medida na qual foram
conservadas tanto a fé como as instituições eclesiásticas, bem como as normas
da vida espiritual cristã. Mas, ao estabelecer diversos modos de recepção, a
Igreja Ortodoxa não traz julgamento sobre o nível de conservação ou de
alteração da vida da graça na heterodoxia, estimando somente o quê de secreto
da Providência e do julgamento divino.
A existência de cismas e de divisões
no mundo cristão é uma tragédia histórica e vai contra o mandamento de Cristo
sobre a unidade de Seu Corpo.
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