Rejubila-Te, ó Cidade do Rei de todos!
Bekri Sophia, teólogatradução de monja Rebeca (Pereira)
Entre as muitas saudações maravilhosas dirigidas pelo hinógrafo à Toda-Santa, uma se destaca particularmente por seu simbolismo e importância: ‘Rejubila-Te, ó Cidade do Rei de todos’.
Esta caracterização da Mãe de Deus enquanto ‘cidade de Deus (o rei)’ vem do Profeta David: "Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo." (Sl 46, 4). Nesta cidade, os Padres inspirados veem a simulação da Mãe de Deus, enquanto São João Damasceno interpreta as correntes do rio como sendo o derramamento dos dons do Espírito Santo, que inundou todo o seu ser e a encheu de graça, mesmo antes que o Senhor Altíssimo descesse e A cobrisse com uma graça ainda maior.
É por isso que, séculos antes que essas coisas ocorressem, David dirigiu-Lhe hinos nestes termos: ‘Coisas gloriosas se dizem de ti, ó cidade de Deus’ (Sl. 86), assim como o hinógrafo do Cânone do Hino Acatiste, na V Ode: ‘Coisas gloriosas, dignas de serem ouvidas, são ditas claramente de Ti’.
Em combinação com a saudação do compositor do hino, a interpretação dos versos acima dos salmos nos ajuda a penetrar no "mistério" da Mãe de Deus e a entender como foi que o odor que perfumava toda a natureza atraiu a graça divina por meio de seu perfume e, assim, tornou-Se o vaso e a Mãe de Deus e o veículo de nossa própria salvação.
Nós realmente temos uma grande dívida de gratidão à nossa Mãe santíssima porque, desde o momento de Seu nascimento até o fim de Sua vida terrena, ela foi a "lâmpada de luz", a "estrela brilhante", sendo permanentemente direcionada à fonte de luz, o Sol da Justiça que nunca se põe. Então, iluminada por seus raios divinos, Ela brilha no mundo com a beleza de Sua virgindade, a pureza de Sua alma, a limpeza de Seu espírito e a maneira virtuosa com que viveu Sua vida.
A Mãe Toda-Santa merece nossa honra principalmente pelo fato de ter Se preparado para Se tornar o "veículo da Palavra", embora não estivesse ainda ciente do plano de Deus. São Nicolau Kavasilas diz que quando o anjo Lhe trouxe as boas novas sobre o nascimento do Filho de Deus, Ela não demonstrou dúvidas sobre Si mesma, isto é, se era digna disso, mas apenas sobre como as leis da natureza deveriam ser superadas e uma "donzela que não havia conhecido homem" deveria dar à luz. Uma vez que recebe a resposta de que esse "inexplicável parto" era obra do Altíssimo, em união com o Espírito Santo, consentiza imediatamente, como se tivesse sido preparada há muito tempo.
Então esta jovem donzela de Nazaré, a humilde Maria, torna-Se o espaçoso "palácio" do Deus, até então, sem-teto, tornou-Se a "cidade do Rei de Todos". Esta é Sua contribuição para a tarefa da salvação; e através de Sua pessoa toda a humanidade também participa. A devota donzela Se esforçou em permanecer pura e por Sua vontade o fez, para que pudesse ser receptiva à graça divina e pudesse continuar a permanecer pura. Porque, é claro, o Espírito Santo não pode habitar em um vaso impuro; primeiro ele tem que ser purificado.
Então, na plenitude dos tempos, o Senhor veio habitar em Sua ‘cidade’, nossa Toda Santa Senhora. São Gregório Palamas e outros Padres enfatizam o fato de que nossa Senhora já era ‘cheia de graça’ muito antes da Anunciação.
A donzela cheia de graça, que mais tarde seria a Mãe de Deus, era agradável a Deus em virtude de Seu modo de vida virtuoso. Com base nisso, São Nicodemos, o Athonita, observa apropriadamente que "todos os males das coisas criadas não eram suficientes para afligir Deus em comparação com a plenitude da santidade da Mãe de Deus. Somente Ela era capaz de agradá-Lo em todas as coisas e por meio de todas as coisas, porque somente Ela era receptiva e espaçosa o suficiente para abranger todos os dons naturais e sobrenaturais que Deus havia distribuído por toda a criação".
São Nicodemos continua: "Assim como a pérgola é criada para que a árvore seja plantada, e a árvore, por sua vez, é plantada por seus frutos, de forma semelhante todo o mundo conceitual e perceptível foi feito para a Mãe de Deus, e a Mãe de Deus surgiu para Cristo".
Então, se os Padres prestam tal homenagem à Mãe de Deus, não deveríamos também honrá-La adequadamente? Não, é claro, com palavras, já que elas não são suficientes para louvar Sua majestade e glória, mas com ações. Como exatamente? Da maneira que Ela nos mostrou: purificando o corpo com o jejum, purificando o espírito com a oração, cultivando o jardim da alma com as virtudes e, assim, tornando todo o nosso ser capaz de se tornar a morada da graça de Deus.
Assim como Deus criou o paraíso para nos oferecer todas as coisas boas, assim a Mãe de Deus Se torna o "paraíso animado" para fornecer uma morada para o Filho de Deus. Ela Se torna "a cidade", onde Cristo viveu, Ele, o cidadão do céu e da terra. Desejemos também fazer do nosso coração uma "cidade de Deus" e da nossa vida um paraíso terrestre que nos abrirá o caminho para a cidade celestial e o paraíso eterno.
Coloquemos, então, ‘toda a nossa esperança’ na Mãe de nosso Senhor, que Se tornou nossa Mãe também, assim como nossa General Defensora. Ela é nossa muralha e defesa, nossa proteção contra todo ataque do inimigo e contra todos os outros desastres em nossa vida.
Vamos segurar a mão da Toda Santa; Ela nos guiará com segurança ao porto da salvação, Cristo, e ao Seu reino celestial. Pelas intercessões de Tua Mãe Santíssima, Senhor Jesus Cristo, salva-nos! Amém.
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