Vida Litúrgica como fonte de experiência e testemunho teológicos

Patriarca DANIEL da Romênia
tradução de monja Rebeca (Pereira)


“Nossa doutrina é conforme à Eucaristia
e a Eucaristia, por sua vez, confirma a nossa doutrina”.
Santo Irineu de Lyon, Adv. Haer. Iv, 18, 8

1º Para Igreja dos Apóstolos e dos Padres, a fé cristã não se reduz a uma simples doutrina intelectual a se aprender e ensinar, mas é Verdade e vida; ela é conhecimento que se funda sobre a experiência da relação viva que Deus estabelece com o homem que Lhe responde livremente. Toda Verdade da fé é revelada não para responder a uma simples curiosidade ou para aumentar um saber filosófico, mas em vista de uma comunhão existencial de vida e do amor entre Deus e a humanidade. É somente no interior de tal comunhão que a Verdade da fé se realiza como Verdade de vida.

Cristo é a revelação suprema de Deus no mundo, justamente porque Ele é a revelação de Deus como suprema comunhão da vida e do amor. Cristo revela o Deus Vivo como comunhão eterna: a Santíssima Trindade, e Ele revela o Homem como sendo o ser criado para participar livremente a esta comunhão de vida e de amor. Cristo é a Luz divina do mundo, o senso último de sua existência, precisamente porque n´Ele se revela o mistério da união suprema e indestrutível entre Deus e a humanidade, entre o Criador e a criatura. O Logos eterno de Deus tornado Homem se revela, em efeito, como sendo o Theo-Logos supremo neste mundo, não mais pela grandeza de Sua doutrina, mas pela unicidade de Sua Pessoa: em Jesus de Nazaré, Deus fala de Deus, Ele Se interpreta Ele-Mesmo, sem intermediário, na história dos homens. Assim toda verdadeira teologia na Igreja é reflexão que se inspira e jorra da teologia realizada em e por Cristo. O quê faz que toda teologia cristã deve ter como ponto de partida e ponto de chegada a comunhão divino-humana revelada em Cristo, da mesma forma que a verdadeira vida da Igreja enquanto que Corpo do Cristo é experiência da comunhão espiritual em Cristo em todos os níveis ou em todos os aspectos: seja a vida litúrgica e sacramental, seja a vida ascética, seja a diaconia ou o serviço no mundo.

Em efeito, a reflexão teológica dos Apóstolos é em primeiro lugar testemunho dado à esta experiência do Deus-Amor que Se revela em Cristo para atirar a Ele a humanidade inteira, para fazê-la participar à vida da Santíssima Trindade. Todavia, o testemunho que os Apóstolos dão do Deus vivo revelado em Cristo tem por objetivo principal: o chamado de todos os homens, de toda raça e de toda idade e condição social, a esta vida nova revelada em Cristo. Sua reflexão teológica não é conhecimento que incha o orgulho e menospreza os semelhantes, mas ela é admiração diante do mistério de Cristo, corajoso e jubiloso testemunho dado a Ele, bem como chamado ardente à comunhão com Ele, tal é a teologia dos Apóstolos. Tudo isto se encontra exprimido, de uma maneira extremamente simples e ao mesmo tempo extremamente profunda pelo Apóstolo João, que a Igreja nomeou de “o Teólogo”: “O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida. Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada: o que vimos e ouvimos isso vos anunciamos para que também tenhais comunhão conosco: e a nossa comunhão é com o Pai, e com o Seu Filho Jesus Cristo” (I Jo. 1-3).

Todavia, a descrição desta comunhão divino-humana, o testemunho que os Apóstolos lhe rendem, bem como o chamado que ele dirige a todos os homens para ai entrar, tudo isto se acompanha de um esforço para encontrar palavras e moldar expressões apropriadas que, sem trair, reduzem ou deformam a mensagem, possam torná-lo acessível em diferentes contextos culturais e em momentos difíceis.

Se a unidade do testemunho apostólico se fundamenta sobre a unicidade e a identidade da Pessoa de Cristo que eles conheceram, a diversidade das formas nas quais eles se exprimem é devida em grande parte à diversidade de contextos culturais ou comunidades às quais os Apóstolos se dirigem enquanto testemunhas diretas de Jesus Cristo, que conheceram Sua vida terrestre e sobretudo O encontraram após Sua Ressurreição dentre os mortos. A experiência histórica dos Apóstolos , na qualidade de testemunhas diretas dos acontecimentos históricos realizados por e em Cristo, permanece única em seu gênero, e é por isso que ela constitui o fundamento e o ponto de referência de toda fé da Igreja.

A coisa mais significativa do testemunho dos Apóstolos é o fato que eles interpretam todos os acontecimentos da vida de Jesus na luz de Sua Ressurreição dentre os mortos e sob a ação do Espírito Santo descida sobre eles no Pentecostes. O primeiro discurso teológico público dos Apóstolos, aquele de São Pedro no dia de Pentecostes, é o mais eloqüente a este respeito. Jesus, o Qual Deus ressuscitou e de Quem os Apóstolos são testemunhas, é em seguida elevado pela destra de Deus e recebe do Pai o Espírito Santo prometido, e Ele O distribui sobre os Apóstolos (At. 2, 14-36). Mais tarde, o encontro miraculoso com Jesus ressuscitado marcou toda a vida e a predicação do Apóstolo Paulo. Todos aqueles que creram em Cristo sobre a base da predicação apostólica foram batizados e receberam o dom do Espírito Santo. Eles perseveraram no ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. Eles tinham tudo em comum, tomavam seu alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e encontrando graça junto de todo povo. E o Senhor adicionava cada dia à Igreja aqueles que eram salvos (At. 2, 41-47).

E a fé em Cristo engendra uma vida nova que é comunhão no Espírito Santo com o Cristo ressuscitado e comunhão fraterna. O que é comum na vida dos Apóstolos e na vida daqueles que creram em Cristo sobre a base de sua predicação é justamente esta experiência da presença espiritual do Cristo ressuscitado no meio daqueles que se reúnem em Seu Nome.

Esta experiência é, em efeito, a realização contínua da promessa de Jesus feita aos discípulos tanto durante Sua vida terrestre como após Sua Ressurreição dentre os mortos: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu Nome, aí, estou Eu no meio deles” (Mt. 18, 20), “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt. 28, 20). “Todos os dias até a consumação dos séculos” quer dizer que esta promessa não concernia somente os Apóstolos, mas também todos aqueles que, até o fim do mundo, partilham a fé dos Apóstolos. Esta promessa é feita à Igreja. A Igreja é neste mundo a experiência da presença do Cristo ressuscitado e da comunhão espiritual com Ele, até a consumação dos séculos, até quando Ele vier em glória. Sem esta experiência da presença espiritual do Cristo ressuscitado, a Igreja perde a consciência de ser verdadeiramente Seu Corpo. E porque o Cristo ressuscitado é a novidade radical deste mundo, assim como a antecipação do mundo que há-de-vir, a Igreja enquanto sacramento, testemunha e profeta desta nova vida do Cristo ressuscitado é, tanto em sua natureza como por sua vocação, a presença do escathon neste mundo; a antecipação neste mundo da vida do Reino de Deus que virá em plenitude. É esta dimensão escatológica fundamental da Igreja que a distingue radicalmente de toda outra religião e de toda outra instituição e comunidade deste mundo. A Igreja é o fim deste mundo e ao mesmo tempo a antecipação de um mundo novo. Nela, o mundo caído chega ao seu fim e, ao mesmo tempo, uma vida nova começa, a vida eterna que está “oculta agora com Cristo e Deus” (Col. 3, 3), mas que se manifestará em toda a sua glória com a vinda gloriosa de Cristo.

Esta experiência escatológica é a experiência dos Santos. E quando a teologia não se funda mais sobre esta experiência e não se inspira mais dela, a Igreja não reconhece nela nem sua voz nem sua consciência.

2º A experiência da presença espiritual do Cristo ressuscitado e da vida nova com Ele, a Igreja faz principalmente (mas não exclusivamente) na sua vida sacramental: “O que estava visível em nosso Redentor é passado agora nos sacramentos”, dizia São Leão o Grande. Todavia, é a Liturgia eucarística que é a celebração eclesial central e suprema da presença do Cristo ressuscitado e da comunhão com Ele. É sobretudo pela obra da Liturgia eucarística que a Igreja se realiza enquanto Corpo de Cristo e experiência do Reino que há-de-vir.

A celebração da Eucaristia foi instituída por Cristo, justamente porque a Igreja se realiza na história como memorial (anamnése) do Cristo crucificado e ressuscitado, como comunhão com Ele e como antecipação do Reino de Deus que há-de-vir: “Fazei isto em memória da Mim” (Lc. 22, 19). “Aquele que come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia; aquele que come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue permanece em Mim, e Eu nele” (Jo. 6, 54 e 56). “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no Reino de Meu Pai” (Mt. 26, 29). Assim, pela celebração da Liturgia eucarística, a Igreja alcança o momento supremo da Verdade de sua fé, de sua natureza e de sua vocação, dando a este mundo um testemunho único a Cristo e à Santíssima Trindade, e antecipa a participação do mundo à vida divino-humana do Cristo ressuscitado e glorificado. Neste sentido, a Liturgia eucarística é por ela-mesma o ato teológico eclesial mais intenso e mais completo, assim como ela é a síntese de toda fé da Igreja, de sua experiência e de sua doutrina. Tudo isto é admiravelmente exprimido pelo cântico da Liturgia ortodoxa que o povo canta após a comunhão eucarística e antes de sair novamente para o mundo, cântico que podemos chamar de a “conclusão” existencial e testemunho teológico de toda Liturgia: “Nós vimos a verdadeira Luz, nós recebemos o Espírito celeste; nós encontramos a fé verdadeira, adorando a indivisível Trindade, pois foi Ela que nos salvou”. Este cântico resume em algumas palavras o que o povo crente aprende na celebração da divina Liturgia. Este cântico mostra que a Liturgia eucarística é uma escola ou um local de aprendizagem teológica onde o conhecimento teológico não é simplesmente discurso acerca de Deus, mas também diálogo com Deus; ela não é simplesmente reflexão especulativa sobre Deus, mas encontro e comunhão com Ele. Na Liturgia eucarística, o conhecimento acerca de Deus se realiza em conhecimento de Deus.

3º Nós vimos a verdadeira Luz...
Desde o reunir-se em Igreja até à saída da Igreja, a Liturgia eucarística tomada em seu todo, pelas suas orações, pelos seus cânticos e as imagens iconográficas, pelos gestos e por todos os atos que ai se realizam é uma visão. Ela é a visão ou a verdadeira Weltanschaung da Igreja. Ela é a visão da existência à Luz da presença de Deus. Por ela, a Igreja olha a mundo com os olhos de Cristo. A divina Liturgia é a verdadeira visão de toda a criação e da vida na história, justamente porque elas são vistas em seu começo e em seu fim, em sua origem e em sua finalidade última. A divina Liturgia é a visão do senso divino, primordial e final, de toda a existência. Ela permite de olhar e de compreender a existência à maneira do Filho de Deus tornado Homem. Na Liturgia eucarística, a Igreja mostra que ela tem “a inteligência de Cristo” (I Cor. 2, 16). Ele é a Luz do mundo (João 8, 12); e eis porque a Igreja olha o mundo e a vida à Luz do Cristo. Ela os olha à luz do que Ele ensinou e fez, mas também em sua presença e em comunhão com Ele que é o Kyrios ressuscitado e o Pantocrator, o Sustento de toda existência criada.

No momento culminante de sua eucaristia, de sua ação de graça, o conhecimento que a Igreja deu ao mundo se exprime pelo reconhecimento de que o mundo é o dom de Deus: “Os Teus dons que nós tomamos dentre os Teus dons, nós Tos oferecemos em tudo e por tudo (kata pata kai dia panta)”. Assim, a experiência criada é ela o dom de Deus; Deus é sua origem, seu sustento e Deus prossegue seu objetivo com o mundo enquanto aquele que este é dado por Ele. Ele dirige este dom aos seres capazes de recebê-lo e de compreender o que ele é: justamente o dom de Deus. O mundo enquanto dom de Deus é dirigido e dado ao homem. A Eucaristia, a gratidão é assim o estado em que a ação pela qual o homem vê e se aproxima do mundo teologicamente: em sua origem e em sua finalidade. Ao exemplo de Cristo que tomou o pão e o vinho, durante a Santa Ceia, e deu graças a Deus Pai, a Igreja dá graças pela criação inteira, justamente porque ela vem de Deus, ela é dom Seu, dirigido à humanidade.

O fato de a Igreja oferecer o pão e o vinho eucarísticos como pars pro toto pelo universo inteiro, demonstra que a criação inteira é alimento para o homem, sua vocação original e última se realiza na comunhão do homem aos dons de Deus. Para todos os Seus dons, pelo dom mesmo da criação inteira, Deus vem ao homem, que Se dar a ele. A criação de Deus veicula o amor do Criador para com o homem, pois o homem é sobre a Terra o único ser “eucarístico”, capaz de exprimir sua gratidão por toda criação. A Eucaristia é justamente o “culto racional” pelo qual o homem reconhece a existência como dom de Deus. Na Liturgia eucarística, a Igreja se mostra como sendo a consciência eucarística do cosmos inteiro. Se, à luz da Liturgia eucarística, a Igreja vê o mundo como sendo dom de Deus, isto quer dizer que o mundo não é Deus, mas também não está separado de Deus posto que vem de Deus e é mantido por Deus como sendo Seu dom permanente, como permanente meio possível de comunhão entre Deus e o homem. Distinta em relação a Deus, a criação não é, todavia, uma realidade que é suficiente à ela-própria, nem quanto a sua origem, nem quanto a sua finalidade. Na Liturgia eucarística, o mundo se encontra em Deus e Deus Se torna presente no mundo, o amor do Doador e Sua beleza se exprimem nos Seus dons. É esta presença do Deus Santo no mundo que é contemplada e louvada pela Igreja: “O céu e a terra estão cheios da Tua glória!”.

Na Liturgia eucarística, a Igreja não aproxima o mundo nem como ídolo, quer dizer como realidade última absoluta, revestida de uma autonomia fechada e auto-suficiente, nem como uma realidade má nela mesma, mas como sendo a realidade pela qual Deus quer Se fazer conhecer ao homem e quer entrar em comunhão de livre amor com ele. Em sua vocação, a criação deve ser um meio permanente da transparência do Deus amor, janela que conduz a Ele e câmara nupcial para Lhe encontrar. Somente o pecado e a morte fazem com que o mundo se torne um muro entre Deus e o homem bem com sua necrópole. A visão do mundo na luz da Liturgia eucarística molda a atitude teológica que os cristãos devem ter em relação à criação. Esta visão eucarística se distingue tanto do panteísmo pagão idólatra, como do secularismo moderno, da auto-suficiência, do nihilismo pessimista e desprovido de alegria, posto que incapaz de saciar a presença do Deus vivo na criação.

A visão eucarística da criação como dom de Deus inspira a gratidão e a alegria, mobiliza a responsabilidade pela vida do mundo e chama a Igreja toda bem como cada cristão a fazer dos dons da criação uma eucaristia, uma partilha e uma comunhão com todos os seres humanos

O fato de que, durante a Santa Ceia, Cristo identifica o pão e o vinho com Seu Corpo e Seu Sangue é pleno de significação. Primeiramente, Ele mostra a partir disto que a comunhão ao alimento como dom de Deus tem por objetivo final a comunhão com o próprio Deus. O Corpo e o Sangue de Cristo são Sua vida divino-humana. Vemos assim que o objetivo da vida humana não é uma simples consumação dos dons perecíveis de Deus, mas antes uma participação a dons não perecíveis, à vida eterna de Deus, a vida do Cristo ressuscitado. Em efeito, o pão e o vinho que tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo tornam-se as primícias ou a antecipação da nova criação, Nova Jerusalém transfigurada e glorificada, eterna, sem pecado e vitoriosa da morte, como o é o Corpo do Cristo ressuscitado. Esta antecipação prepara a espera e a esperança da plenitude: “Ó Cristo, grande e santíssima Páscoa! Ó sabedoria, Verbo e Poder de Deus! Concede-nos de Te comungarmos mais intimamente no dia sem ocaso do Teu Reino” (oração dos celebrantes após a comunhão). De outra parte, o fato de que o Cristo, pelo pão e pelo vinho, oferece Seu Corpo e Seu Sangue em alimento eucarístico, revela que não somente os elementos materiais devem tornar-se uma eucaristia, uma oferenda de livre amor, mas que toda a vida humana encontra sua realização na medida em que ela é oferenda de amor a Deus e aos nossos semelhantes. Ao exemplo de Cristo e em comunhão com Ele, a vida do cristão é chamada a tornar-se, à cada instante, não somente um ceder de si-mesmo, mas um livre dom de si a Cristo e ao seu próximo. Assim, a verdadeira vida cristã é “eucarística”; ela se realiza como oferenda de amor livre. A morte de Cristo sobre a Cruz é a expressão de Seu amor obediente em relação ao Seu Pai: “Nas Tuas mãos, entrego Meu espírito”, assim a expressão de Seu amor para com os homens, compreendendo ai também seus inimigos: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. Sua morte sobre a Cruz confirmou em ato a verdade que Seu amor fora mais forte que Sua morte. Sua ressurreição dentre os mortos provou também que o amor de Deus por aqueles que O amam até o fim é também amor mais forte que a morte. A Eucaristia nos comunica este poder do amor de Cristo e ela revela assim que a vida humana não se reduz à sua dimensão biológica, animal, mas se realiza como livre dom de si ao outro, é humana na medida em que ela é comunhão de amor. A Liturgia eucarística torna agente a verdade das palavras de Cristo que diz: “Aquele que quiser guardar a sua vida, perdê-lo-á; mas aquele que perder a sua vida por Mim e pelo Evangelho, ganhá-lo-á”.

A ação da oferenda eucarística que a Igreja realiza com os dons (o pão e o vinho) se apresenta assim como um movimento que provoca nosso coração e nossa vida a se tornarem uma eucaristia, uma “oferenda viva, santa, agradável a Deus, um culto racional” que não é conforme a mentalidade do mundo caído e auto-suficiente, mas conforme o renovar da inteligência que se concede com a vontade de Deus (Rm. 12, 1-2). Tudo isto é por várias vezes demandado na Liturgia eucarística, pelas palavras: “Entreguemos-nos nós mesmos, uns aos outros e toda a nossa vida a Cristo, nosso Deus”. Esta visão eucarística do verdadeiro sentido da vida humana que se realiza como dom de si-mesmo a Deus e ao próximo, constitui a dinâmica de toda vida ascética e diaconal da Igreja, enquanto combate espiritual contra todas as paixões egoístas individuais ou coletivas. Por estas paixões egoístas, indivíduos e comunidades procuram se centrar sobre eles próprios, fixando-se num espírito e numa ação de possessão egoísta das coisas ou das pessoas que eles reduzem finalmente ao estado de coisas também. Tudo isto conduz ao isolamento e ao orgulho insensíveis e indiferentes as necessidades dos outros, a suas vidas e a suas expectativas duma comunhão verdadeira.

A visão eucarística da vida é um julgamento de toda vida pessoal e comunitária sendo oferenda de amor fraterno livre e libertador.

A luz que a Liturgia eucarística projeta sobre a vida desmascara como inumana e falsa toda vida que se reduz à acumulação excessiva e egoísta dos bens materiais, no esquecimento das necessidades do próximo, toda mentalidade de consumo que não encontra mais a alegria do partilhar. A visão eucarística é também julgamento de toda atitude de opressão do próximo, pois somente a justiça, a paz, o amor e o serviço rendido ao próximo permitem verdadeiras relações entre os homens e os povos.

Outra nota que queremos fazer aqui concerne a visão eucarística que a Igreja tem da humanidade tomada em seu todo. Em efeito, a Igreja não realiza a Eucaristia em memória de Cristo só, mas também em memória de toda humanidade unida a Ele. Ao celebrar a Eucaristia em memória de Cristo, ela ora a Deus a fim de que Ele Se lembre em  Seu Reino de toda a humanidade, que n´Ele põe sua esperança. O culto espiritual e não sangrento que a Igreja oferece a Deus é portado não somente pela comunidade local que o celebra, mas por toda a Santa Igreja católica e apostólica, em seguida por toda a humanidade e pelo universo inteiro.

Assim como Cristo ordenou: “Fazei isto em memória de Mim”, a Eucaristia não é somente o memorial da Santa Ceia, mas memorial da Pessoa do Cristo Vivo, de tudo aquilo que Ele fez e fará para humanidade. Isto explica porque a Igreja faz também memorial da Ressurreição de Cristo e de Sua Parusia. Ora, é justamente porque a Igreja faz memorial da Pessoa viva de Cristo que ela não pode vê-Lo nem compreendê-Lo só, posto que Ele está unido para sempre à humanidade toda, e sobretudo à Igreja que é Seu Corpo. A Liturgia eucarística não é o encontro do Christus solus, mas do Totus Christus, do Cristo na comunhão dos Santos, do Cristo que recapitula n´Ele a humanidade e que é o Alfa e o Ômega da humanidade nova, sua cabeça e seu porvir absoluto. Isto explica porque a “proscomidia” (protésis) faz-se principalmente em memória de nosso Senhor, mas também em honra e memória da Mãe de Deus e Sempre-Virgem Maria, do Profeta e Precursor João Batista, de todos os Santos Profetas, de todos os Apóstolos, em memória de todos os santos Hierarcas, de todos os monges teóforos e de todas as santas Monjas, dos santos Taumaturgos e de todos os Santos. Em seguida, pede-se a Deus que Ele Se lembre de todo o clero e de todo o povo que constitui a Igreja, os vivos e os mortos. A mesma visão se encontra na oração da anáfora e dos dípticos da Liturgia eucarística, que inicia os cristãos a olharem a humanidade em sua unidade ontológica e na realização de sua vocação fundamental: aquela de ser comunhão de vida e de amor em Deus, uma comunhão de vida e de amor que transcende o tempo e o espaço, as diferenças de raça ou de sexo, de idade ou de posição social. A graça e a misericórdia de Deus curam as divisões produzidas pelo pecado e pela morte, e chamam a humanidade inteira a redescobrir sua unidade ontológica e sua solidariedade existencial na beleza duma comunhão de vida e de amor, que resulta do fato de que cada um não vive mais para si - mesmo, mas por Cristo: por Deus e pelo próximo. A Eucaristia ensina assim que a vida de cada um torna-se a vida de todos e a vida de todos a vida de cada um. “A liturgia ensina a verdadeira relação entre a pessoa e a comunidade, entre o membro e o corpo: Ame o teu próximo com a ti – mesmo (...). Ao lado de nosso destino, eis todos os destinos humanos. As litanias, tal como ondas poderosas, conduzem o fiel para além dele –próprio e do círculo familiar em direção à assembléia presente, em seguida àqueles que estão ausentes, àqueles que estão a viajar, e em perigo sobre a terra, sobre o mar e nos ares, àqueles que penam e sofrem e àqueles que estão a agonia. Em seguida a oração abraça todos os que detêm as ordens e o poder, a cidade, o país, as nações, os povos, enfim a humanidade inteira; ela pede a abundância dos frutos da Terra e a ordem cósmica. A oração termina pela invocação universal pela paz e pela união de todos. É nesta comunhão que o homem refrescado, renovado por este dinamismo caritativo, encontra sua própria verdade e a essência verdadeira das coisas. A solidão é quebrada, e mesmo a natureza, mergulhada na espera de sua libertação, desabrocha-se em liturgia cósmica”.

A Liturgia eucarística torna-se assim paradigma e fonte de inspiração para a vida cotidiana que devemos compreender como sendo “liturgia após a Liturgia”. No entanto, esta visão eucarística é também paradigma da unidade renovada em Deus: unidade que não é nem subordinação despótica, nem uniformização, mas oração duns pelos outros, reconciliação recíproca, amor fraterno duns para com os outros e diaconia duns para com os outros.

 À luz da Liturgia eucarística, a humanidade constitui o centro do amor e da atenção de Deus: “Do nada, Tu nos conduziste à vida, Tu nos elevaste, a nós que estávamos caídos, e não cessaste de agir até que nos eleves ao céu e nos faça dom de Teu Reino que há-de-vir”. É precisamente porque a Eucaristia é o memorial de Cristo morto e ressuscitado pela vida do mundo, que a Igreja não esquece, em sua celebração, a vida do mundo, mas dela se lembra diante de Deus. Assim, a Liturgia eucarística mostra a Igreja como sendo a memória da humanidade diante da face do Deus vivo. É evidente que tal visão eucarística é um julgamento sobre toda teologia que permanece indiferente à vida concreta da Igreja no mundo. Todavia, duma maneira paradoxal, a Liturgia eucarística mostra que a Igreja só pode se lembrar autenticamente do mundo se ela não confundir o Reino de Deus com o mundo. O Reino de Deus não é deste mundo; tal é o sentido das palavras: “Afastemos todo pensamento mundano”. Portanto, o mundo é chamado a entrar no Reino de Deus.

A luz da Liturgia eucarística nos mostra que o mundo enquanto que objeto do amor divino deve ser também o centro da intercessão e da missão da Igreja, enquanto que o mundo como orgulho, pecado, egoísmo e auto-suficiência é chamado à metanóia, à conversão sem a qual ele não pode entrar no Reino que é “justiça, Paz e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14, 17).

4º Nós recebemos o Espírito celeste
A Liturgia eucarística não oferece somente a verdadeira luz para ensinar que ela é a verdadeira vocação da criação e da humanidade, ou para olhá-los com os olhos de Cristo, mas ela é também experiência do Espírito Santo que nos permite de viver, neste mundo, com o Cristo e a exemplo do Cristo, e ao mesmo tempo de comungar à alegria de Cristo ressuscitado. São Paulo diz que: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, ele não Lhe pertence” (Rm. 8, 16). Em efeito, a Igreja se realiza enquanto que Corpo de Cristo pela obra do Espírito Santo desde o Pentecostes até o fim do mundo. Todas as intercessões da Igreja, todos os seus chamados à graça de Deus mostram que ela respira e vive desta graça. Assim, toda oração cristã verdadeira se realiza no Espírito Santo que “intercede com gemidos inefáveis” (Rm. 8, 26).

A Epiclése ou invocação do Espírito Santo sobre os dons eucarísticos para mudá-los em Corpo e Sangue de Cristo não tem por objetivo a mudança em si, mas a comunhão à vida nova do Cristo ressuscitado, à vida do Reino dos Céus: “a fim de que se tornem para aqueles que os recebem a sobriedade da alma, a remissão dos pecados, a comunhão do Teu Espírito Santo, a plenitude do Reino dos Céus” (oração após a Epiclése).

O Espírito Santo comunica à Igreja a vida nova do Cristo como santidade e vida conforme ao Reino que há-de-vir. Muitos Padres da Igreja identificaram, aliás, com seguimento à Epístola aos Romanos (14, 17) a experiência da presença, neste mundo, do Reino que há-de-vir, com a presença do Espírito Santo.

Se, na Liturgia eucarística, o Espírito Santo é invocado não somente sobre os dons eucarísticos para que eles se tornem o Corpo e o Sangue, mas também sobre os membros da comunidade eucarística, pois que ele opera também a conversão de sua inteligência e de seu coração, a fim de que possam receber e compreender o Cristo como a vida de suas vidas. É esta conversão, esta mudança ou este renovo da inteligência que faz do cristão um testemunho da vida nova em Cristo e faz dele um teólogo ao exemplo dos Apóstolos pescadores. A comunhão com Deus no Espírito Santo é assim uma condição primordial para uma teologia que testemunha do conhecimento do Deus vivo (I Cor. 2, 13-14). Neste sentido, a famosa definição do teólogo dada por Evágrio: “Se és teólogo, tu orarás verdadeiramente e se oras, tu és teólogo” não é um simples anúncio piegas, mas quer dizer que a teologia que não é comunhão viva com Deus não pode Lhe render testemunho, não é conhecimento de Deus, mas risca de se tornar simples conhecimento intelectual ou filosofia sobre Deus.

Decerto, isto não quer dizer que o esforço intelectual e o rigor da busca científica não são necessários para poder compreender verdadeiramente a experiência da Igreja através das eras e ao mesmo tempo poder moldar a cada época a linguagem que possa tornar acessíveis e comunicáveis aos contemporâneos a experiência e o testemunho da Igreja. Todavia, se a Igreja não vive, neste mundo, a experiência da vida nova em Cristo e se seus teólogos ai não participam, eles não têm a inspiração que engendra uma teologia apta a levar os homens a Cristo e a suscitar neles a sede duma vida nova. A comunhão ao Espírito do Cristo faz de toda vida da Igreja uma permanente teologia. Sua Beatitude o Patriarca Ignácio IV de Antioquia descreveu nestas palavras a experiência eclesial da presença do Espírito Santo: “Ele é pessoalmente a Novidade à obra no mundo. Ele é a Presença de Deus conosco, ‘junto ao nosso espírito’ (Rm. 8, 16); sem Ele, Deus está longe, a Igreja uma simples organização, a autoridade uma dominação, a missão - propaganda, o culto – uma evocação, o agir cristão uma moral escrava. Mas n´Ele e numa sinergia indissociável, o cosmos é levantado e geme no parto do Reino, o homem está em luta contra ‘a carne’, o Cristo ressuscitado está lá, o Evangelho é poder de vida, a Igreja significa a Comunhão trinitária, a autoridade é um serviço libertador, a missão é um Pentecostes, a liturgia é memorial e antecipação, o agir humano é deificado”.

Parafraseando esta descrição, poderíamos dizer que um teólogo que não jorra da experiência do Espírito de Cristo risca de se tornar, seja uma ideologia, agressiva ou defensiva, para defender não a Verdade- Comunhão, mas os interesses da Instituição, seja uma acumulação de datas históricas e respostas à questões que não concernem mais a vida concreta da Igreja. Mas quando ela está aberta ao Espírito de Cristo, a reflexão teológica torna-se anúncio jubiloso duma vida nova, apelo crítico à conversão permanente de pessoas e de estruturas, e palavra profética da esperança.

5º Nós encontramos a fé verdadeira
A vida litúrgica da Igreja Ortodoxa é a síntese de toda sua fé vivida. Muitas vezes na história e durante longos períodos difíceis, a vida litúrgica e, sobretudo a Liturgia eucarística constituíram a única escola de teologia para o povo crente ortodoxo inteiro. O aprendizado da fé ortodoxa pela participação à vida litúrgica revelou-se como a via mais acessível e mais segura no coração da Ortodoxia. A Liturgia eucarística em particular tornou-se um ponto de referência para a verdadeira interpretação da fé ortodoxa durante toda a época bizantina. A respeito disto, o Padre John Meyendorff faz a seguinte remarca: “Enquanto que o desenvolvimento gradual de um papismo juridicamente autoritário conduziu, no Ocidente, a uma compreensão dos ritos litúrgicos como sinais externos colocados à disposição da Igreja e facilmente modificados e regulamentados pela autoridade eclesial, a cristandade oriental olhou a liturgia como sendo uma fonte e um critério independentes e autorizados para a fé a para a ética. Decerto, esta diferença não fora jamais formalizada e talvez jamais conscientemente compreendida como tal por parte alguma, mas vista na perspectiva da história, ela esclarece um aspecto importante da civilização bizantina” (...). Nos territórios ocupados pelo Islã, a vida litúrgica “serviu praticamente como única fonte de conhecimentos das Escrituras cristãs e da doutrina do Cristianismo. Ela era o meio duma alegria única, por vezes estética, intelectual, musical, poética e visual. Sua riqueza extraordinária, tanto quanto o que concerne seu volume como sua variedade, fez dela um substituto para o ensinamento e a predicação”.

Todavia, se para o passado a Liturgia tomou lugar, por vezes, duma escola teológica, escola nenhuma teológica acadêmica não pode jamais substituir a Liturgia da Igreja, justamente porque a Liturgia da Igreja não é simples informação acerca da fé, mas a fé da Igreja em ato, a fé confessada e celebrada como relação ao Deus Vivo. Ela é doutrina acerca de Deus, que se cumpre enquanto comunhão com Ele. Ela é a doutrina da Igreja que se torna a experiência eclesial mais autêntica, experiência no sentido onde os Padres da Igreja a compreenderam: “Eu chamo de experiência – diz São Máximo o Confessor – o sabor mesmo em ato que advém de todo conceito (...) participação ao objeto, que se revela para lá de todo pensamento”.

É esta experiência da comunhão com Deus que faz da fé da Igreja a verdadeira fé e permite que a dimensão didática da fé se transforme de saber intelectual em doxologia e louvor d´Aquele que está misticamente presente no meio de Sua Igreja e Se comunica a ela.

A Epístola aos Hebreus define a fé como sendo “uma maneira de já possuir o que esperamos, um meio de conhecer as realidades que se não vêem” (Hb.11, 1; cf. T.O.B).

A comunhão eucarística confirma, em efeito, que a fé da Igreja é tal fé, justamente porque ela é visão da verdadeira luz invisível aos olhos da carne, e comunhão ao Espírito celeste, “Espírito de verdade, Aquele que o mundo é incapaz de acolher porque não O vê e não O conhece” (João 14, 17).

Ora, assim como a fé é, em efeito, uma relação verdadeira, uma relação de amor com o Deus-Amor, a verdade da fé ortodoxa se realiza justamente na adoração o Deus-Amor que é a Trindade Santa. “Nós adoramos a Trindade Santa que nos salvou”. A Teologia que a Liturgia eucarística apresenta não é tão especulação abstrata sobre a Trindade n´Ela – Mesma, mas antes reflexão descritiva e doxologia da filantropia da Trindade Santa, de Seu amor pelo mundo e de Sua obra salvífica por ele. Assim, a Liturgia eucarística inicia ao mistério de uma teologia verdadeira: teologia enquanto que ciência da salvação e de uma comunhão com Deus “agora e sempre e pelos séculos dos séculos”. Tal teologia que não deixa de ser uma doxologia permanente e múltipla (pois histórica, bíblica e poética, intelectual e musical, predicante e iconográfica) é, ao mesmo tempo, uma afirmação permanente do valor inexprimível do homem enquanto que ser criado a tornar-se parceiro dum diálogo e duma comunhão eternas com Deus. O fato de que a comunhão divino-humana indestrutível e eterna, já inaugurada no Cristo crucificado e ressuscitado, é o centro da teologia doxológica da Liturgia ortodoxa e que a comunhão eucarística visa a deificação dinâmica do homem, mostra a Liturgia eucarística como sendo a mais intensa afirmação do humanismo teológico cristão. Ao exemplo da Liturgia, a teologia da escola deve, ainda mais hoje, tomar em consideração esta afirmação e esta glorificação máximas do homem em Deus, pois, como o remarca o Padre Dimitru Staniloaë, (em sua Dogmática, publicada em Bucareste em 1978) “o Cristianismo não pode ser útil a época alguma, por conseqüência, nem aquela de hoje, se ele não trouxer aquilo que somente ele pode lhe aportar: o laço com a fonte infinita do poder do Deus tornado Homem. É somente assim que ele pode ajudar no progresso, por uma espiritualização (pneumatização) constante. Nós, teólogos de hoje, podemos e devemos nos incumbir de mostrar pelo passado a contribuição humanista cristã dos principais atos da Revelação divina que culminaram em Cristo – como a Encarnação do Filho de Deus, Seu Sacrifício sobre a Cruz, Sua Ressurreição e Sua Ascensão enquanto homem – com as conseqüências que decorrem para servir o progresso e a espiritualização em geral (...). Os dogmas da Encarnação, da Ressurreição e da Deificação trazem uma grande contribuição a este progresso do humano em sua autenticidade. A união hypostática de duas naturezas em Cristo (...) não deixa de ser a fortificação eterna do relativo pelo absoluto, logo criado”. 

De outra parte, precisamos sublinhar aqui que hoje torna-se extremamente necessário explicar nas escolas de teologia , bem como aos fiéis a Liturgia eucarística e toda a vida litúrgica da Igreja não como o inventário dos detalhes simbólicos que eles contêm, por vezes duma maneira excessiva e assaz complicada, mas justamente como o pôr em evidência do laço profundo que deve se realizar entre a vida litúrgica e a vida cotidiana. Compreendida e vivida em sua profundidade existencial e teológica, a Liturgia da Igreja pode sempre tornar-se um local de aprendizagem teológica e vivificar a reflexão teológica a todos os níveis da vida eclesial. A recente publicação em russo e em francês do livro do Padre Schmemann, A Liturgia, Sacramento do Reino, é um passo decisivo nesta direção.

Estamos convencidos de que um verdadeiro renascimento da vida e da teologia da Igreja Ortodoxa estará sempre ligado, de uma maneira ou de outra, ao seu coração pascal e à sua fonte vivificante que é a divina Liturgia. É por ela que se renova a eterna juventude da Ortodoxia quando esta não é reduzida ao ritualismo, mas antes vivida como “teologia completa”.

A experiência histórica mostra que a atitude que uma comunidade local ou uma Igreja ortodoxa toma em relação à celebração e à compreensão da Liturgia eucarística constitui o ícone da “desfiguração” ou da “transfiguração” de sua vida.

Em guisa de conclusão: A Liturgia da Igreja permanece sempre o lugar privilegiado da formação teológica de todo o povo crente, porque ela é ao mesmo tempo visão do sentido divino do mundo e da vida, mais íntima experiência da comunhão com o Cristo ressuscitado, confissão da verdadeira fé, bem como adoração e testemunho de que a humanidade unida a Cristo rende ao verdadeiro Deus-Trindade.

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