Duas maneiras de jejuar


SCHEMEMANN Protopresbítero Alexander
tradução de monja Rebeca (Pereira)


Existem duas maneiras de jejuar; ambas enrraizadas na Escritura e na Tradição, correspondendo a duas necessidades distintas, a dois estados do homem. O primeiro pode ser chamado de jejum total, pois consiste numa abstinência total de comida e bebida. Podemos definir o segundo como um jejum ascético, pois que consiste sobretudo na abstinência de certos alimentos e na redução substancial do regime alimentar.

O jejum total, por sua própria natureza, é de curta duração e geralmente limitado a um dia ou mesmo até uma parte dele. Desde o início do Cristianismo, foi compreendido como um estado de preparação e de espera, de concentração espiritual a um acontecimento. A fome física corresponde aqui à espera espiritual do acontecimento, à abertura de todo ser  ao júbilo que se aproxima.
        
Eis porque, na tradição litúrgica da Igreja, encontramos o jejum total como uma preparação última à uma Grande Festa, a um acontecimento espiritual decisivo, como por exemplo as Vigílias de Natal e Teofania; e sobretudo, é este jejum que constitui o jejum eucarístico, modo essencial de nossa preparação ao banquete messiânico na Mesa de Cristo em Seu Reino. A Eucaristia sempre é precedida por este jejum total, que pode varia em sua duração, mas que, para a Igreja, constitui uma condição necessária à Santa Comunhão.

O jejum total não é somente um jejeum dos membros da Igreja, é a própria Igreja que jejua, na espera do Cristo que vem a Ela na Eucaristia, celebrando a obra da salvação nas Grandes Festas, e que virá também em glória na consumação dos séculos.

Completamente diferente é o sentido espiritual do segundo tipo de jejum – o qual definimos de ascético. Aqui, o objetivo do jejum é o de liberar o homem da tirania desregrada da carne, que se estabelece  quando o espírito cede ao corpo e seus apetites, resultado trágico do pecado e da queda original do homem.

É somente por um lento e paciente esforço que o homem descobre que não vive só de pão, restaurando em si mesmo a primazia do espírito. É necessariamente e por meio de sua própria natureza que ele é capaz de sustentar um longo esforço. O fator “tempo” é essencial, pois é necessário tempo para desenrraízar e curar a doença comum e universal que os homens terminaram por definir como estado normal. O sucesso de tal jejum ascético depende precisamente da aplicação de certas regras fundamentais cuja principal é a ininterrupção do jejum, sua continuidade no tempo.


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