Monasticismo evangélico - parte 2
KAPSANIS Georgios, Arquimandrita
tradução de monja Rebeca (Pereira)
Somente o coração de uma pessoa que está sendo continuamente purificada do egoísmo, do amor próprio e das paixões pelo arrependimento pode realmente amar a Deus e aos outros. Egoísmo e amor são irreconciliáveis. Muitas vezes, o egoísmo acredita ser amoroso, mas esse "amor" é apenas uma camada de amor que esconde o egoísmo e o interesse próprio.
Monásticos em arrependimento ardem em amor divino. O amor de Deus mantém seus corações unidos, de modo que não vivem apenas para si mesmos, mas para Deus. A alma/noiva busca continuamente seu noivo com dor e desejo e não encontra descanso até que se una a Ele. Não se contenta em servir a Deus como servo (por medo), nem como mercenário (com o Paraíso como recompensa). Quer amá-Lo como filho, isto é, com puro amor. "Eu nunca temo a Deus, porque O amo", diz Antônio, o Grande. Quanto mais os monges se arrependem, mais o desejo pelo amor de Deus aumenta dentro deles, e quanto mais amam a Deus, mais profundamente se arrependem.
As lágrimas do arrependimento acendem o fogo do amor. O desejo pelo Senhor é alimentado pela oração, especialmente pela oração incessante do coração, pela invocação contínua do dulcíssimo Nome de Jesus através da oração: "Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, pecador que sou". A oração os purifica e garante a união com Cristo.
No culto da Igreja, os monges também se entregam a Deus, e Deus a eles Se entrega. Os monges passam muitas horas por dia na igreja adorando nosso amado Senhor. Sua participação no culto não é uma "obrigação", mas uma necessidade da alma que tem sede de Deus. Nos mosteiros da Santa Montanha do Athos, a Divina Liturgia é celebrada todos os dias, porque não há nada melhor para eles do que estar em comunhão com seu Redentor, a Mãe do Redentor e os amigos do Redentor. E assim o serviço é uma festa e uma alegria, uma abertura da alma e um antegozo do Paraíso. Em outras palavras, os monges vivem de maneira apostólica: "Todos os que creram estavam reunidos no mesmo lugar e tinham tudo em comum. E, dia após dia, trabalhavam unânimes no templo e, partindo o pão em suas casas, tomavam o alimento com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus..." (Atos 2, 44-7).
Mesmo após o término do serviço, monges e monjas vivem em adoração. Toda a sua vida no mosteiro, a obediência a que são designados, o refeitório, a oração, o silêncio e o repouso, as relações com os outros membros da comunidade e a hospitalidade para com os estrangeiros são tarefas oferecidas à Santíssima Trindade. A arquitetura dos mosteiros revela essa realidade.
Tudo começa e retorna ao Katholikon (igreja principal) e ao seu Santo Altar. Os corredores, as celas e tudo o mais têm a igreja principal como ponto de referência. Toda a vida é oferecida a Deus e se torna adoração a Deus.
Até mesmo os elementos materiais utilizados no culto testemunham a transfiguração de toda a vida e da criação pela graça de Deus. O pão e o vinho da Divina Liturgia, o óleo bento, o incenso, o talandon [objeto com ressonância de madeira] e os sinos que marcam as horas designadas, as velas e as lamparinas, que são acesas e apagadas em pontos específicos do serviço, os movimentos do canonarca e dos sacerdotes e tantos outros movimentos e ações, previstos pelas regras monásticas seculares, não são formas secas nem motivos psicológicos para afetar emoções, mas pontos, ecos e manifestações da nova criação. Todos aqueles que visitam a Montanha Santa veem por si mesmos que o culto não é estático, mas tem um caráter dinâmico. É um movimento em direção a Deus: a alma ascende a Deus e assume consigo toda a criação.
Numa vigília athonita, os fiéis desfrutam da experiência única da alegria que vem ao mundo através da obra redentora de Cristo e saboreiam a qualidade sublime da vida que Ele oferece ao mundo dentro da Igreja.
A prioridade dada pelo monasticismo ao culto a Deus lembra à Igreja e ao mundo que, a menos que a Divina Liturgia e o culto voltem a ser o centro de nossas vidas, nosso mundo não tem chance de se unir e se transformar, de superar a ruptura, o desequilíbrio, o vácuo e a morte, apesar dos melhores esforços dos sistemas e programas humanísticos para seu aprimoramento. O monasticismo também nos lembra que a Divina Liturgia e o culto não são meramente "algo" em nossas vidas, mas o "centro", a fonte da renovação e santificação de todas as facetas de nossas vidas.
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