A ESCADA SANTA NÃO É SÓ PARA OS MONGES
CHICHAGOV Serafim, Neo-mártir Confessor
tradução de monja Rebeca (Pereira)
Neste quarto domingo da Grande Quaresma, após a veneração da Venerável e Vivificante Cruz, a Santa Igreja Ortodoxa estabelece a comemoração de nosso Pai Teóforo e Venerável João Clímaco. Ele é o autor da renomada obra espiritual: a Escada Santa. Mas por que São João é aquele que vem à mente, e não outro santo? É pelo fato de que durante o curso da Quaresma e de nossos trabalhos ascéticos de oração tenhamos diante de nossos olhos o exemplo de um homem que atingiu a perfeição espiritual, um grande instrutor, e para que não nos esqueçamos da necessidade de todo cristão de recorrer ao seu livro inspirado por Deus - Escada da Divina Ascensão - onde analisa todas as virtudes cristãs nos estágios em que devem ser desenvolvidas em um homem para trazê-lo à união com Deus. Forçando-nos a seguir este exemplo.
Com o mesmo objetivo, o de arrasar em nós o sentimento destrutivo de autopiedade, a Santa Igreja lembra no quinto domingo de Santa Maria do Egito, que, apesar de seus muitos anos de vida pecaminosa, alcança a perfeição espiritual por meio de zelosa autocorreção. Ao lembrar desses ascetas da piedade, todas as nossas dúvidas sobre nossas próprias falhas e fraquezas devem involuntariamente dar lugar à prova clara de que com fé sincera na palavra de Deus e por meio de nosso próprio desejo podemos ser purificados de corpo, coração e mente, e até mesmo justos e santos. "Se tu podes crer, todas as coisas são possíveis àquele que crê" (Mc. 9:23) disse nosso Senhor Jesus Cristo ao pai infeliz que lhe pediu para curar seu filho possuído por demônios, cuja parábola do Evangelho lemos hoj.
Muito pouco se sabe sobre a vida de São João. Como um escolhido de Deus, ele amou o Senhor desde os primeiros anos; mas nenhum de seus discípulos menciona nada sobre quem eram seus pais ou onde ele nasceu e foi criado. Em suas palavras, São João era um homem notável em seus dons, habilidades e educação. Aos dezesseis anos, deixa o mundo para o monastério no Monte Sinai, a fim de viver sob a direção de anciãos experientes e inspirados por Deus. Em sua Biografia, diz-se que em sua sabedoria paracia ter mil anos de idade, atingindo no Sinai extraordinária tal perfeição de tal modo que dispunha de liberdade das paixões, irradiando em simplicidade celestial. Com a morte de seu mestre espiritual, ansiando por trabalhos ascéticos ainda maiores, São João resolve fazer um voto de silêncio para si mesmo, para o qual escolheu um lugar adequado não muito longe da Igreja do Senhor, onde passa quarenta anos. O jejum e a oração o levaram a um alto grau de pureza, fazendo dele um vaso dos dons especiais de Deus — clarividência, ousadia na oração e operação de milagres. Quando o Monastério do Sinai teve que escolher um novo abade, todos os irmãos pediram unanimemente a São João que retornasse à sua comunidade. Enquanto Abade da comunidade do Sinai, escreve seu livro, A Escada Santa, no qual retrata todo o caminho para a perfeição cristã e como devemos gradualmente nos aperfeiçoar para nossa salvação.
Talvez, amados, alguns de vocês possam supor que São João compôs sua Escada exclusivamente para monges, e não para leigos, na medida em que não há nada em comum entre suas próprias vidas — isto é, de pais e mães de famílias e jovens seculares — e as vidas de monges, reclusos, moradores do deserto e hesicastas? Por essa razão, a Escada raramente é lida no mundo (século) e ninguém a usa para guiar suas vidas seculares.
Infelizmente, muitos cristãos pensam assim! Se fosse assim, amados, teria a Igreja estabelecido esta comemoração de São João Clímaco apenas para monges e não para todos os cristãos ortodoxos? As regras da Igreja poderiam ser infundadas ou errôneas? Embora não haja muito em comum entre as vidas de pessoas seculares e as de monges, todos os cristãos devem ascender na mesma escada espiritual para a Morada do Pai, sob as mesmas condições. Todos nós diferimos uns dos outros por nossa aparência externa, vocações, status e vestimentas, mas o julgamento de Deus exige que todos os que estão ascendendo ao Reino dos Céus, às habitações dos justos e dos santos, sejam semelhantes uns aos outros em suas qualidades internas, virtudes, pureza de alma e retidão. Segue-se que todos os cristãos têm um e o mesmo objetivo: alcançar a salvação e se aperfeiçoar espiritualmente para alcançá-la.
Dos monges é exigido: renúncia ao mundo, obediência ou vida não de acordo com sua própria vontade, e silêncio, ou o esforço para estar sozinho com Deus em seu coração. Mas o mesmo não é exigido do leigo? Vejamos por que um monge parte para o mosteiro ou para o deserto. É para evitar tentações, para ser capaz de se vigiar mais facilmente, para guerrear com suas paixões, para permanecer em oração e para aprender a viver uma vida simples e austera. Mas os leigos também não são obrigados a organizar suas vidas de tal forma que possam evitar tentações, sociedade perigosa, espetáculos imorais e conversas vazias; para que possam ir à igreja, cumprir sua regra de oração e lutar com suas paixões? Um cristão leigo também deve, em virtude de sua própria salvação, renunciar ao mundo destrutivo e corrupto que está perecendo em seu orgulho, egoísmo, ganância e esquecimento dos mandamentos de Deus. E quem abandona a vida pecaminosa e luta contra suas próprias paixões faz o mesmo que o monge que se separou do mundo e se juntou a uma comunidae em determindao mosteiro.
Por que os ascetas monásticos se esforçam para adquirir obediência perfeita e, por essa razão, submetem sua vontade ao Abade, aos anciãos e mestres? Porque, de outra forma, é impossível aprender a cumprir os mandamentos de Deus. Mas a obediência e o cumprimento dos mandamentos de Deus não são igualmente obrigatórios para os leigos? Para aprender isso, os leigos devem submeter sua vontade aos seus próprios pais espirituais.
Finalmente, os leigos devem ser hesicastas? Claro que não, muitos responderiam. Mas não estou falando sobre hesicasmo externo e silêncio — pois os monges também trabalham em seus monastérios, cumprem várias diaconias e servem e ajudam os leigos; e isso significa que eles não são silenciosos. Existe outro silêncio, que é tão necessário para um monge quanto para um leigo — é o silêncio interior; isto é, o esforço para estar sozinho com Deus no coração. Para isso, a pessoa está imersa em si mesma, organiza seus próprios pensamentos e ações e permanece em oração incessante e lembrança de Deus. De acordo com as palavras do apóstolo, todos nós devemos contemplar incessantemente Cristo, o Salvador, com os olhos de nossos corações; isto é, sempre — em casa, na rua, no leito, durante o trabalho e na diversão — e aprender com Ele humildade, amor, paciência e submissão. Quem vive dessa maneira é como o hesicasta e morador do deserto, embora permaneça no mundo (tal como escrito por São Teófano, o Recluso).
Assim, meus amados, cada um de nós não só pode, mas deve se tornar um emulador de São João Clímaco e estudar seu livro divinamente inspirado - A Escada da Ascensão Divina. Isso é necessário para nossa salvação, e é por isso que a Santa Igreja nos lembra disso no quarto domingo da Grande Quaresma. Só temos que desejar obrar nisso, porque tudo é possível àqueles que crêem! Amém!
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