NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS: A BASE DO NOSSO RELACIONAMENTO COM NOSSOS SEMELHANTES

 ZACHAROU Zacarias, Arquimandrita
tradução de monja Rebeca (Pereira)


 Na vida do homem, há dois períodos que são de grande importância. O primeiro é a juventude, durante a qual ele lançará bases sólidas para toda a sua vida e redimirá seu tempo com a riqueza da eternidade. O segundo é a velhice, quando sua vida justa e louvável será selada com a mesma coroa de justiça que o Senhor, o eterno e justo Juiz, dará a todos aqueles que amaram Sua vinda à Terra e honraram Seu Evangelho.

A juventude se distingue pelo entusiasmo pela luz do conhecimento, zelo por bons desejos, busca pela perfeição e, acima de tudo, pela criação de relacionamentos pessoais que revelam nossos dons naturais.

A velhice, quando precedida pela redenção constante e sábia do tempo de vida por meio da graça incorruptível, inspira sede por um mundo superior, pelo qual anseia e se apressa em alcançar. É agraciada com dons sobrenaturais e cheia da esperança viva do abraço compassivo do "Pai das misericórdias e Deus de todo o conforto".

Hoje gostaríamos de nos deter por um momento no tema dos relacionamentos interpessoais que ocupa muito os jovens, mas também todos nós. Para que os relacionamentos sejam criativos e geradores de vida, eles devem preencher certas pré-condições necessárias.

Todo homem que entra em um relacionamento pessoal deve ter uma ideia clara de suas origens e de seu propósito. Deus o criou do nada e de forma direta, tirando o pó da terra com Suas próprias mãos e soprando em suas narinas o Espírito da vida. Ao criar o homem à Sua imagem e semelhança, poderíamos dizer que, em certo sentido, Deus Se replicou.

O Senhor colocou o homem em um paraíso de deleite e deu-lhe um mandamento, com a intenção de ajudá-lo a permanecer na medida humilde de sua criação. Assim, ele seria capaz de manter um relacionamento vivificante com seu Criador, para finalmente chegar ao grande propósito de sua perfeição espiritual. Enquanto ele guardasse esse mandamento, ele desfrutaria de seu relacionamento com Deus e viveria em Sua presença com gratidão, paz e a doçura do amor humilde. Na Luz do Rosto de Deus, Adão também encontrou um relacionamento harmonioso com Eva que se tornou uma fonte de alegria e inspiração para ele. Ele a viu como sua própria vida e como sendo mais preciosa do que qualquer outra coisa que o cercasse no paraíso. Agradecendo a Deus por ela, pela ajudadora que ele havia recebido Dele, ele disse: 'Agora, esta é osso dos meus ossos e carne da minha carne.' Ele sentiu que Eva era seu próprio coração e a transparência de suas relações era tão perfeita que, embora ambos estivessem nus, eles não tinham nenhuma paixão e 'não se envergonhavam'.

No entanto, mais tarde, levados pela proposta do diabo de se tornarem deuses, Adão e Eva desobedeceram ao mandamento de Deus, o que abalou profundamente seu relacionamento com o Criador, bem como o relacionamento entre eles. Como transgressor e ofensor, Adão deixou de se sentir semelhante e amigo de Deus, capaz de conversar com Ele face a Face, e junto com Eva que compartilhou sua culpa, ‘ele se escondeu… da face do Senhor Deus no meio do bosque do paraíso.’ A transgressão do mandamento alienou os primogênitos de Deus e os encheu do medo da morte, que entrou em suas vidas como uma justa retribuição, como Deus os havia avisado. A inocência e a comunhão de amor entre eles não eram mais as mesmas. Quando Deus, em Sua grande ternura, os chamou para prestar contas, ambos se rebelaram, condenando Deus como a causa de sua tragédia, e se viram não como antes, como sua própria vida, mas sim como uma causa de morte.

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