ALGUNS ASPECTOS DA DOUTRINA DA CRIACAO

BLOOM, Metropolita Anthony
traducao de monja Rebeca (Pereira)
                 


Eu gostaria, se puder, de tratar de algumas categorias que pertencem ao mistério e ao fato da criação.

Primeiramente, o fato de ser criado implica que nós fomos desejados por Deus e isto primeiramente, a partir do primeiro momento, estabelece entre nós e Deus, que nos criou, uma relação.

 Deus não tinha necessidade de colocar face a face com Ele mesmo nenhum outro ser. E, contudo, por um ato da vontade Ele nos ordena ser, e Ele envolve não somente nosso destino, mas se eu posso colocar dessa forma, Seu destino, porque cada homem chamado do nada à existência torna-se uma presença para sempre, uma companhia de Deus por toda a eternidade.

O fato de que nós somos desejados por Deus é essencial porque aí pousa toda nossa segurança, toda nossa esperança, toda a nossa alegria de viver.

Nós não fomos criados sem um motivo; nós não somos necessários a Deus, mas nós não somos um acidente do ser. Deus decidiu chamar-nos ao ser, e isto já é um germinal e incipiente modo de relação de amor – e quando eu digo um germinal e incipiente modo não é porque o amor de Deus é incipiente, mas porque nós só conseguimos progredir a partir da existência para a realidade do ser, da vida e para o mistério do amor que é mais que uma simples comunhão com Deus – que é estar partilhando a vida de Deus, tornando-se participantes da natureza divina. Então, na base de nossa existência há uma oferta de Deus, uma oferta de companheirismo, de amor e para sempre.

É este o único modo no qual nós somos relacionados a Deus? Antes de tudo deixe-me dizer que nós não nos relacionamos com Deus de qualquer modo genérico: nós não temos nenhuma raiz n’Ele pela natureza; nós não somos da Sua substância; nós não somos necessários à Sua existência, e o ato da criação como ele aparece na Bíblia é criação saindo do nada.

Agora, este “nada”, eu acredito, poderia ser entendido um pouco melhor do que usualmente é. Quando nós pensamos no nada, muito freqüentemente imaginamos Deus cercado pelo nada – talvez não você que é teologicamente mais desenvolvido – mas grande parte das pessoas, se você perguntar-lhes concretamente como eles entendem isto, dirão que eles vêm Deus em Seu trono, então um vasto espaço vazio do qual podem emergir pessoas, coisas, etc..., ao comando de Deus. Isto não é o “nada”, porque não existe uma coisa como Deus no centro e nada em redor e então o nada sendo povoado gradualmente por toda sorte de coisas! Nada não é uma coisa rarefazendo-se de existência e de matéria que torna-se imperceptível; isto não é “nada”, isto é “nulidade”. Não é “nada” como ausência radical – é “nada” em um comparativo e relativo senso de falta de concretude, de densidade, de presença; mas isto ainda é uma forma de presença. Isto não é o nada do qual nós fomos criados. O nada do qual a Bíblia fala é uma radical ausência, uma situação em que a criatura que agora existe, simplesmente não era e não poderia ser sem que Deus escolhesse comandá-la à ser. Antes de toda a criação há a intacta plenitude, a intacta abundância da presença divina, auto-suficiente e auto-abrangente. O ato da criação coloca alguma coisa que não era de forma alguma e que nunca teria se desenvolvido pelo seu próprio poder. Isto significa duas coisas: por um lado que nós dependemos absolutamente de Deus e por outro lado que sendo ou não sendo necessários a Deus nós somos independentes d’Ele de um modo estranho. Isto eu quero elucidar um pouco mais.

Deus não tem nenhuma necessidade de nós; se Ele nos cria, é um ato da livre vontade e livre amor; isto é que nos dá concretude e realidade. Se nós fôssemos necessários a Deus, por mais valiosos que nós fôssemos, nós seríamos somente uma paupérrima sombra de Sua existência. Se nós fôssemos alguma sorte de emanação de Deus, por mais gloriosa emanação, Deus seria infinitamente mais glorioso e mesmo a nossa luz seria nada mais do que uma sombra. Se nós fôssemos conectados a Deus mesmo por necessidade ou por um elo genérico, nós não seríamos nada comparados com nossa origem. O que faz a nossa grandiosidade – porque o homem é grande – não é a nossa origem na natureza, é o amor de Deus que chama-nos ao ser e que nos apavora. Isto é verdade, mesmo nas relações humanas. A pessoa adquire plenitude do ser, plenitude de presença, quando ela é amada. Falando de nós, tendo em vista Deus, nós somos nada; e agora, o valor que Deus nos transmite é a vida, o sofrimento e a morte de Seu Filho unigênito. Este é nosso valor real. Mas este valor real não está enraizado no que nós somos, mas no amor de Deus por nós. Nós somos merecedores disso tudo porque nós somos muitíssimo amados e por isso Deus deu Seu Filho unigênito com a finalidade de que o mundo possa ser salvo. E então nossa situação é absolutamente segura e totalmente precária. Tanto quanto nós estamos em nós mesmos, nós dificilmente sairemos da não-existência e a nossa verdadeira existência é precária, transitória. Tanto quanto nós somos amados por Deus, nós não podemos cair de volta ao não-ser porque nós somos chamados à eterna companhia no interior do amor de Deus. Se tivermos em conta nós mesmos, então, nós podemos tanto achar imensa inspiração e alegria neste fato de não ter raízes de necessidades em Deus quanto nós podemos nos sentir extremamente deprimidos.

Lembrem-se da primeira Bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres em espírito”. Pobreza nós possuímos por natureza. Nós não temos nada que seja nosso. Nós fomos chamados do nada e nós não temos nenhuma raiz, mesmo no nada, porque nada é “nada”. Foi-nos dado a vida que já é participação em alguma coisa dinâmica e concreta, que existe somente em Deus. Nós somos dotados de um corpo, com um coração, com uma mente, com uma vontade, com inumeráveis possibilidades, e agora, quando nós levamos isso em conta, nós estamos em posse de nada. Nós não podemos proteger nada do que possuímos contra a decadência ou desaparecimento. Nossa vida caminha para um final e por mais que nos apeguemos a ela, nós não podemos retê-la. Nossa saúde está a mercê do mais frágil acidente. A mente mais grandiosa pode ser apagada por um minúsculo vaso rompendo dentro do seu cérebro. No momento quando nós desejamos dar a alguém toda nossa simpatia, todo nosso amor, todo nosso entendimento e nosso interesse, nós descobrimos que nosso coração é frio e incapaz de agitar-se. Nós desejamos fazer o bem mas fazemos o mal. E então, tudo que nós somos, ou que nós imaginamos que somos, nós somos somente de um modo emprestado, como um presente. Nada do que nós somos é nosso. Nada do que possuímos é nosso. E se nós pararmos nesse ponto, que é o próprio ponto da criação tal qual ele era, continuando por toda nossa vida e por todo destino da humanidade, e do mundo criado, nós podemos chegar ao absoluto desespero. O que há? O que sou eu?  Quanto do nada é meu? Quanto eu estou à mercê de tudo que me circunda, tudo que há dentro de mim, e Deus acima!

E agora, o Senhor diz: “Bem-aventurados os pobres em espírito”, porque nós podemos entender esta pobreza em outros termos, que são os termos da alegria e de significação. Se nós não possuímos o que temos, então tudo quanto nós temos a cada momento, a cada segundo da nossa vida, é um presente e um sinal da divina solicitude e divino amor. E então, a própria precariedade de nossas posses torna-se a mais preciosa posse que nós temos. Se eu pudesse dizer que meu corpo, minha alma, meu coração, minha mente, qualquer coisa que eu tenho, ou qualquer coisa que eu sou, isto seria retirado da relação entre Deus e eu. Se eu sou consciente de que nada é meu, e agora, olhe: Eu vivo! Eu sou! Eu penso! Eu sinto! Eu tenho um corpo e uma alma! Eu tenho um ambiente e uma vocação! E tudo isto é um concreto ato de Deus, então nós podemos dizer: minha alegria é plena e realizada. Então, realmente, pobreza torna-se abençoada – porque pobreza, unida com esta riqueza de destino e de ser, significa que Deus continua a amar ativamente, concretamente, inteligentemente, de um elaborado e sutil modo.

Esta é uma das coisas essenciais sobre nossa criação, ser desejado, e ainda nossa criação do nada do qual nós continuamos possuir esta qualidade: nada é nosso. Nós existimos somente, como Filareto de Moscou o coloca no século XIX, como pessoas ancoradas na vontade de Deus, entre dois imensos abismos. Abaixo o abismo do nada do qual a palavra criativa de Deus chamou-nos e acima, em torno, na verdade todos os lugares em torno de nós, o abismo da divina realidade no qual nós já estamos no momento em que nós somos chamados ao ser e no qual nós somos chamados a crescer mais e mais profundamente até nós verdadeiramente e realmente tornarmo-nos participantes da divina natureza, deuses pela participação, filhos do Pai Eterno. Esta é a primeira coisa que eu quero mencionar.

O segundo ponto é que juntos com a primeira criatura que aparece, junto com o primeiro evento que inicia um encadeamento de eventos, de mudanças, de ‘tornar-se’ o tempo aparece. E tempo é uma das categorias essenciais da história e da vida humana. Tempo e criação são correlativos; o tempo e o vir a ser são correlativos, e tempo precisa ser salvo e redimido. Esta é uma categoria preciosa: não é simplesmente uma estrada na qual nós andamos, que não tem sentido. Tem sentido porque tempo e tornar-se são inseparavelmente um. Agora, nós somos chamados a alguma coisa que cresce mais que o tempo e suplanta o tempo. Isto é eternidade. Mas nós precisamos estar conscientes de que a eternidade não é uma linha final do tempo; não é tempo que não tem fim; não é tempo que terá se expandido a uma medida que não é a nossa medida. Ela é alguma coisa profundamente diferente. Você se lembrará de Cristo parado face a face com Pilatos: “O que é verdade?” Disse Pilatos; e Cristo não deu resposta, porque para Pilatos Ele não tinha resposta a dar. Ele deu uma resposta a Seus discípulos quando Ele disse, “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. A verdade não é alguma coisa – ela é Uma. Nos mesmos termos pode-se dizer que eternidade não é alguma coisa – ela é Uma.

Nós somos chamados ao abismo da comunhão com Deus que é a vida eterna. Cristo disse isto – que a vida eterna é conhecer Deus. Não é uma categoria do ser, uma nova forma de caminho, uma nova dimensão do tempo. É Deus Ele Mesmo e a divina realidade compartilhada e vivida. Em certo sentido alguém poderia dizer que o tempo, como nós o imaginamos, é alguma coisa que se desenvolve e na qual as coisas mudam e movem-se, não é destruído pela eternidade, mas torna-se profundamente diferente. Se nós imaginarmos que vida eterna é um crescimento indo para dentro da profundidade de Deus, um crescimento desdobrado do mistério de Deus perante nós, um crescimento partilhado neste mistério, objetivamente falando, tempo é como movimento contínuo. Mas tempo no sentido de um momento decaído desaparece na comunhão que é um eterno “agora”. Da mesma forma em que alguém pode estar em movimento e ainda em completa imobilidade, tempo pode desaparecer em um modo, enquanto continua em outro.

Por último, a categoria da dependência e da liberdade. Nós dependemos de Deus e nós somos livres. Hoje em dia, eu me impressiono mais e mais pelo fato de que nossa noção de liberdade parece ser tão contraditória ou, muito freqüentemente, tão ingênua. Quando uma pessoa diz a uma outra: “Porque você não atinge o que você quer? Porque você não se torna aquilo que você é chamada a tornar-se? Você não é livre para escolher?” Esta pessoa pergunta algo que é infinitamente ingênuo e irreal. Não é suficiente querer ou desejar. Por outro lado, se nós falamos do ser determinado e incapaz de tornar-se ou de fazer, nós estamos também menosprezando algo de essencialmente verdadeiro.

A primeira coisa que eu acredito que nós precisamos nos lembrar aqui é que a liberdade do ser criado não é idêntica à liberdade de Deus, se nós falamos da presente situação, antes da realização de todas as coisas. A liberdade de Deus é incondicional. Ele é e Ele é Liberdade em Si mesmo, bem como Ele é Eternidade, e Verdade, e Vida, e Realidade. Nossa liberdade é uma liberdade condicionada: uma liberdade que é tão condicionada que algumas vezes parece não existir. A primeira limitação está no próprio começo da criação. Sem o nosso acordo ou consentimento Deus mandou-nos ser, e nós não somos livres a não ser. Nós não podemos retornar ao nada. Danação não é o retorno ao nada. Cair nas trevas exteriores não é retornar ao nada. É continuar a existir, ao mesmo tempo em que deixa de estar vivo. O ato da criação, o comando dado por Deus de que nós deveríamos ser, é a primeira limitação da nossa liberdade e não nos permite andar para trás ou para fora disto. A liberdade nos é dada. Agora nós sabemos que no fim de nossa vida privada e individual, bem como no fim da história quando todas as coisas estiverem consumadas, nós estaremos sob julgamento. Nós não somos livres para fazer o que Ivan Karamazov queria fazer: devolver a Deus seu “ticket” para a vida e dizer: “Eu rescindo o contrato e eu vou”. Nós não somos livres para dizer a Deus: “A vida que Você imaginou, planejou e desejou não é a vida que eu quero; fique com ela que eu vou seguir meu caminho”, porque não há caminho. “Eu sou o Caminho”, e não há outro. Há trevas exteriores, mas não há caminho dentro dessas trevas. Então novamente, nossa liberdade é limitada (na própria conclusão das coisas) – no próprio fim das coisas pelo fato de que o que quer que nós pensemos do ato da criação de Deus, nós permaneceremos e seremos responsáveis, ambos pelo que nós tivermos feito na vida e, se você quiser colocar deste modo, pela decisão de Deus de nos criar. Nós enfrentamos isso: há duas forças, Deus e nós inseparáveis, e não há caminho fora disto.

Em terceiro lugar, tudo que é a nossa vida, nossa própria existência, nosso corpo, alma e o resto, mesmo as circunstâncias que nos cercam, na forma de outras criaturas, são também elementos dados por Deus. Toda esta linha entre o comando de Deus “Seja” e a pergunta de Deus, “O que você fez da sua existência?” Também é determinada, dentro de certos limites. E então, se eu colocar isto da forma em que eu coloquei certa vez em uma transmissão na Rússia, nós nos encontraremos como um besouro num copo. Em todos os lados há limitação. Há um fundo do copo, há um lado e outro. Onde está nossa liberdade, então? Mover-se desta forma, isto é liberdade? Dificilmente, mesmo se o copo é grande, mesmo se você não puder imaginar seus limites. É limitado, e não há liberdade mesmo se houver um possível limite, mesmo que longe. Alguém pode consolar outro dizendo o que muitas vezes se diz, que liberdade é a capacidade de escolher, de escolher direito ou esquerdo, para cima ou para baixo. Isto é liberdade? Isto é a liberdade de um ser normal? Isto é liberdade real, estar entre o bem, o mal e hesitar? É normal, saudável, são, estar entre morte, vida e hesitar? Esta é a marca de um ser intacto, ver Deus e Satã e não saber qual deles escolher? Esta forma de liberdade não é liberdade, essencialmente. Esta é a liberdade da criatura decaída que não sabe como ir diretamente à Verdade, à Vida, a Deus, e hesita. A liberdade de escolha já é uma marca da queda. Não é liberdade.

Agora deixe-me dizer rapidamente alguma coisa sobre liberdade trazendo à tona três palavras que, eu acredito, nos dá uma saída da determinação, uma saída desta prisão da vida. A primeira é a palavra latina libertas, liberdade. A palavra significa o estado de uma criança nascida livre em uma família livre. O liber é uma criança nascida livre em contraste com o puer, o pequeno escravo, o que nas colônias chamam “um rapaz”, apesar de sua idade. No interior desta relação de uma família de pessoas livres e uma criança nascida livre, a criança é educada para ser livre, estar na posse de si e de bens. E a vontade do seu pai não é uma compulsão externa, uma limitação, é o limite na direção que tende à expansão de todas as habilidades e capacidades da criança. Ele é ensinado a ser livre, ele mesmo. Isto é verdade em nossa relação com Deus.
Deus não nos criou escravizados. Ele é A Suprema Liberdade que nos chama a ser tão livres quanto Ele é, ensinando-nos como alguém é livre. Originalmente, no Pacto com Adão, um pacto de amor mútuo e confiança, mais tarde, por vários pactos que limitam a arbitrária e destruída liberdade do homem com o objetivo de dar à liberdade um novo formato e uma nova direção. Khomyakov, um escritor russo do século XIX, diz: “A vontade de Deus é liberdade para os anjos e os santos. Esta é a lei para aqueles que estão no processo de formação. Esta é a maldição dos demônios, a mesma vontade de Deus”.

Então uma outra palavra, a palavra Russa sloboda que significa “liberdade”. Esta palavra sloboda também significa “ser um eu, um eu real”. Isto segue o que eu disse sobre liberdade. Deus nos criou para isto, nós devemos ser nosso eu real, isto é, na perfeita imagem do Filho de Deus; para atingir a plena estatura de Cristo. Não é uma imitação; é uma expansão definitiva. Finalmente, se eu posso tomar a liberdade de falar alguma coisa sobre a palavra inglesa “liberdade” você pode achar em um dicionário etimológico que “livre” vem de uma velha palavra inglesa que significa “amado”. “Meu livre” significa “meu amor”, meu amado. E aqui está o último termo neste sistema de relações, neste caminho em que a experiência humana tem expressado esta realidade. É uma relação com Deus como aquela de uma criança com seu pai e não de um escravo, uma relação na qual a vontade de Deus tende a nos fazer o que nós verdadeiramente já somos, na medida de Deus mesmo, Encarnado e também o Amado de Deus. Obediência então não nos parece como submissão, como sujeição, ela nos parece como a atitude criativa de alguém que ouve atentamente à voz que sozinha pode dizer-lhe o que ele realmente é, que verdadeiramente pode conduzi-lo a perfeição a qual ele é chamado a ser; que pode dizer-lhe como ele pode cessar de ser um criado, um ser denso a fim de tornar-se o homem do céu. Este é o caminho para cima; os três lados são limitados: resta somente um caminho.

O homem pode crescer dentro desta liberdade de Deus tornando-se o que Cristo é e nesse ponto nós descobrimos que definitivamente nós podemos achar nosso caminho  somente na extensão do que Deus revela, e na extensão do que nós ouvimos. As Sagradas Escrituras nos dizem que no Reino de Deus cada um de nós receberá uma pedra branca com um nome escrito nela; um nome conhecido apenas por Deus e por aquele que a recebe – isto representa a única relação que existe entre toda pessoa e seu Deus, uma relação que é tão profunda para qualquer outro ser perceber ou entender, e um abismo em nós que é tão profundo, tão grande, que ninguém, mas somente Deus pode penetrá-lo. Um nome – não o nome pelo qual nós somos conhecidos, mas o nome pelo qual nós fomos chamados do nada para o ser e para eterna companhia com Deus, para o mistério da nossa semelhança com Cristo. Este nome que se resume numa palavra, uma palavra indizível, o que nós somos, é a chave do nosso próprio ser, a raiz e a pedra de esquina do nosso ser. Esta é nossa relação final com Deus. Tão misteriosa como Ele, na imagem e semelhança de Um que é ambos cognoscível e incognoscível, revelado e além da revelação. Nosso abismo está além do atento olhar humano. Nosso abismo somente pode ser penetrado pelos profundos olhos de Deus. Aqui estão as várias categorias do “ser” que eu desejava dispor a todos vós.

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