Monasticismo Evangélico – Parte 1

KAPSANIS Georgios, Arquimandrita
tradução de monja Rebeca (Pereira)




O Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é uma boa nova, porque traz ao mundo não apenas um novo ensinamento, mas uma nova vida para substituir a antiga. A vida antiga é aquela dominada pelo pecado, pelas paixões, pela corrupção e pela morte, e governada pelo diabo. Apesar de suas alegrias “naturais”, deixa um gosto amargo, porque não é a vida real para a qual as pessoas foram criadas, mas uma vida corrompida e doente, e é por isso que é marcada pelo sentimento de absurdo, vazio e ansiedade.

A nova vida é oferecida às pessoas por nosso Cristo teantrópico como um dom e um potencial para todos. Os fiéis estão unidos a Jesus Cristo e, portanto, participam de Sua vida divina e imortal, isto é, eterna = vida real.

Um pré-requisito para que as pessoas se unam a Cristo e sejam ressuscitadas é que primeiro morram, por meio do arrependimento, em relação às pessoas que eram anteriormente. Devemos, primeiramente, crucificar e sepultar nosso antigo eu (isto é, egoísmo, paixões e vontades egoístas) na Cruz e no Sepulcro de Cristo, para que possamos com Ele ressuscitar e "andar em novidade de vida" (Rm 6, 4). Esta é a obra do arrependimento e da aceitação da Cruz de Cristo. Sem o arrependimento, isto é, a crucificação contínua do próprio eu anterior, é impossível que os fiéis creiam de maneira evangélica, isto é, que se entreguem inteiramente a Deus e amem “o Senhor Deus com todo o coração, com toda a sua alma, com toda o entendimento e com todas as forças” (Marcos 12, 30).

É por isso que o Senhor faz do arrependimento o fundamento de Sua mensagem do Evangelho e uma condição de fé. “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1:15). Ele também não escondeu o fato de que a vida de arrependimento é uma luta árdua e penosa. “Estreita é a porta e cheio de tristeza o caminho que conduz à vida” (Mateus 7:14). E que, ao trilhá-la, revelais que carregastes a cruz do arrependimento. Porque o nosso antigo eu não recua sem violência, e o diabo não é derrotado sem uma batalha árdua.

Um monge ou monja promete seguir o caminho estreito e doloroso do arrependimento por toda a sua vida. Eles se libertam das coisas do mundo para adquirir a única coisa que desejam, quer dizer morrer para a sua vida anterior a fim de viver a nova vida que Cristo lhes oferece por meio da Igreja. Os monges buscam o arrependimento perfeito por meio de esforço ascético contínuo, vigílias, jejuns e orações, juntamente com a renùncia da vontade e a obediência inabalável ao seu Ancião. Com tudo isso, se empenham em negar sua própria vontade egoísta e amar a vontade de Deus. Os monges são "uma força contínua da natureza". Assim, cumprem a palavra do Senhor: "O reino dos céus é tomado pela violência, e os violentos o apoderam" (Mt 11, 12). Através das dores de parto do arrependimento, nasce gradualmente a nova pessoa que vive segundo Deus.

Parte integrante da luta pelo arrependimento é a luta pela vigilância contínua sobre os pensamentos, para que eles [os monges] possam se livrar de todo pensamento perverso e diabólico que tenta manchá-los. Dessa forma, procuram manter seus corações limpos, para contemplar a Deus - "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus".

A vitória sobre o egoísmo e as paixões torna os monges gentis, pacíficos e humildes, literalmente "pobres de espírito", e participantes de todas as virtudes das Bem-Aventuranças. Também os torna como crianças, como aquelas que Cristo abençoou e pediu a todos nós que imitássemos se quiséssemos entrar em Seu Reino.

Toda a vida dos monges e monjas é um estudo sobre o arrependimento, sua conduta moral é a dos penitentes. O luto e as lágrimas de arrependimento são o sermão mais eloquente.

Todo o seu modo de vida [ou "hábito", um trocadilho com o Ancião] julga "as pessoas no mundo". E, a menos que as pessoas que são silenciosamente julgadas pelos monges compartilhem do arrependimento destes últimos, isso os repele, eles o desprezam, o consideram tolo. Mas Deus escolheu o que é tolo no mundo, o que é fraco, o que é baixo e desprezado, a fim de envergonhar os sábios (1 Coríntios 1, 27).

De fato, os monges, sábios nos caminhos de Deus e tolos segundo o mundo, são estrangeiros no meio do mundo, como o Filho de Deus. Ele veio para sua casa e seus parentes não o receberam (João 1, 11), não o compreenderam. Às vezes, até mesmo as pessoas na Igreja, as sábias e ativas, também não o compreendem.

Suas vidas místicas e silenciosas são um mistério de sete sêlos para aqueles que não compartilham de seu espírito. Estes últimos consideram os primeiros socialmente inúteis e desprovidos de qualquer obra na frente missionária. Portanto, suas vidas estão escondidas com Cristo em Deus e serão manifestadas em glória quando Cristo, sua vida, também for manifestado (Cl 3, 4).


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