COMO O PECADO AFETA NOSSO CORPO? parte 3

 

TKACHENKO Alexandre , psicólogo
tradução de monja Rebeca (Pereira)



Gula

Falemos dos pecados diretamente relacionados ao corpo: fornicação e gula. Vamos começar com a gula. Parece que seu efeito no corpo é mais evidente: quem gosta de comida em excesso ganha peso e pode desenvolver problemas de estômago ou intestinos. Mas isso é toda a influência? Isso afeta de alguma forma sua alma?

— Para o psicólogo, a gula é um sintoma que indica uma tentativa do paciente de “devorar” algum estado emocional negativo. Pode ser depressão, ansiedade, medos de vários tipos. Pessoas com baixa autoestima, que sofrem de solidão e incompreensão estão frequentemente envolvidas na gula. O fato é que alimentos altamente calóricos, gordurosos e doces promovem a produção de serotonina, o que faz a pessoa sentir alegria e segurança. Esse sentimento dura pouco, mas é real. Portanto, uma pessoa tenta obtê-lo repetidamente por meio de refeições repetidas. Ao mesmo tempo, ele entende que está se prejudicando, mas não consegue se conter. Com isso, além da depressão e da ansiedade, acrescenta-se um sentimento de culpa e vergonha pela falta de vontade. Se isso pode ser considerado um reflexo da gula na alma, então vejo assim - quando vários mais se somam a um infortúnio.

 

Fornicação

A fornicação também é um pecado corporal. Mas também existe uma influência na alma. O que é?

— Em qualquer contato sexual, mesmo casual e de curta duração, uma pessoa desenvolve uma atitude de apego ao seu parceiro. Isso acontece contra a vontade, tal automatismo emocional. E se não fosse acompanhado de um sentimento de amor, de confiança no seu valor para o outro, como acontece no casamento, então tal apego parece pairar no vazio. Parece existir, mas acontece que ninguém precisa disso. E então o apego acidentalmente despertado por outra pessoa deve ser extinto, suprimido, empurrado para o inconsciente. Mesmo uma única ação desse tipo já perturba o funcionamento normal dos sentidos e os distorce. E se a fornicação se tornar habitual e repetida muitas vezes, a capacidade de criar relacionamentos de apego estáveis ​​​​pode desaparecer completamente da pessoa. E então você precisará fazer um grande esforço para tentar recuperar essa habilidade necessária para uma vida normal - experimentar sentimentos afetuosos pela única pessoa próxima no casamento. Não estou dizendo que esses sentimentos não acontecerão. Mas experiências pródigas anteriores irão inevitavelmente “sujar” o relacionamento. Podem surgir flashbacks do passado, uma transferência inconsciente de sentimentos de relacionamentos de longa data para o cônjuge. No entanto, a fornicação também é apenas consequência de alguns problemas psicológicos graves desde a infância. Mas em qualquer caso, não acrescenta saúde mental.

 

Nosso arrependimento e libertação do pecado garantem a cura?

— Livrar-se do pecado é a cura, a restauração da nossa integridade natural, violada por este pecado. E o arrependimento é uma mudança de mentalidade, um novo olhar sobre a própria vida, uma nova compreensão de si mesmo e das causas dos seus problemas, a adoção de novos valores e o abandono dos antigos que levaram à doença.

Essa mudança pode acontecer no templo, ou talvez no consultório de um psicólogo ou médico. É importante apenas compreender que qualquer bem que nos acontece é sempre um ato de graça, um dom do Deus Todo-misericordioso pelo Qual vivemos, nos movemos e existimos. E sem o Qual não podemos fazer nada de bom nem para nós nem para os outros. É esta consciência, arrependimento e gratidão pelas boas mudanças recebidas que deve ser levada a Deus - já na igreja, tendo-as testemunhado nos sacramentos da Confissão e da Eucaristia. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos como os nove leprosos que foram curados, mas não vieram agradecer ao Senhor por isso:

Indo para Jerusalém, Ele passou entre Samaria e Galiléia. E quando Ele entrou numa certa aldeia, dez leprosos O encontraram, que pararam à distância e disseram em alta voz: Jesus, o Mentor! tenha piedade de nós. Quando os viu, disse-lhes: Ide, mostrai-vos aos sacerdotes. E enquanto caminhavam, eles se purificavam. Um deles, vendo que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se-lhe aos pés, agradecendo-lhe; e era um samaritano. Então Jesus disse: “Não estão dez purificados?” onde está o nove? como não voltaram para dar glória a Deus, exceto este estrangeiro? E ele lhe disse: levanta-te, vai; sua fé o salvou (Lucas 17:11-19).

 

- Mas nem sempre isso acontece... De que depende? Existe alguma lei espiritual aqui?

— O arrependimento não garante a cura física. Todos esperamos por um milagre, mas não devemos tratar um milagre como uma espécie de tecnologia: se você se arrepender, receberá o que pediu. Pela história da Igreja sabemos que mesmo os grandes santos sofreram de doenças, por vezes até à morte. Por que isso acontece, não posso dizer.

Provavelmente existem leis espirituais sobre este assunto. Mas eu não as conheço. E duvido que todos os casos possam ser explicados através de leis e regulamentos. Aqui entramos na esfera oculta, onde o próprio Senhor atua. Por exemplo, na história do justo Job, vemos que uma pessoa pode sofrer sem qualquer ligação com seus pecados pessoais. Job simplesmente não tinha nada do que se arrepender para receber cura. As causas dos seus problemas e doenças residiam numa área completamente diferente – Deus permitiu que Satanás testasse a justiça de Job com uma crueldade verdadeiramente diabólica. E este é apenas um exemplo desse tipo, que só conhecemos porque Deus teve o prazer de revelá-lo às pessoas e preservá-lo na história. Acho que há outros casos que dificilmente serão explicados pela compreensão humana. Deus disse isso diretamente: Meus pensamentos não são os seus pensamentos, nem os seus caminhos são os Meus caminhos... Mas assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os Meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os Meus pensamentos são mais altos do que os seus pensamentos (Isaías 55: 8-9).

E onde a razão é impotente, começa o domínio da ação da fé. Nossa fé cristã de que tudo o que acontece conosco está nas mãos de Deus. E que mesmo onde nós mesmos não conseguimos ver nenhuma saída, Deus já preparou para nós algo  mais valioso e alegre do que poderíamos imaginar.

Esta é provavelmente a lei espiritual mais importante.

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