SERÁ O CORONAVÍRUS UM SINAL DO APOCALIPSE?

DOLGIH Arcipreste Vladimir
tradução de monja Rebeca (Pereira)



Desde o início da disseminação da infecção do Coronavírus, e também, consequentemente, do pânico inflamado pelos meios de comunicação de massa, expectativas apocalípticas foram despertadas entre as pessoas da Igreja. A situação é exarcebada pelo fato de que, no território canônico da maioria das Igrejas Ortodoxas, toda esta lástima deu-se início durante a Grande Quaresma, e o pico do número de casos de infecção se espalhou por altura da Festa das Festas, a Páscoa.

Em dada situação, involuntariamente, vêm à mente as palavras de Cristo: Porque se levantará nação contra nação, e reino, contra reino, e haverá terremotos em diversos lugares, e haverá fomes. Isso será o princípio de dores” (Mc. 13: 8). No entanto, é necessário dizer que estamos longe dos primeiros cristãos ortodoxos que se encontraram em uma situação semelhante. Por exemplo, “O regulamento relativo às quarentenas, composto pelo Código de Leis (do Império Russo) – edição de 1857 – e pela Continuação de 1876”, parágrafo 1378, descreve o fechamento/abertura de igrejas (Serviços Divinos) de acordo com a observação de autoridades locais. Com isso, parágrafos 831 e 835, a quebra das medidas de quarentena propõe uma penalidade grave, até a morte por execução. Existem também diretrizes do locum tenens do Trono Patriarcal, o Metropolita Pímen da Diocese de Stavropol, número 24/11, 1970, ligado à disseminação de epidemias, proibindo a comunhão dos fiéis, a veneração de ícones e da cruz de benção (como beijo), bem como outras medidas já conhecidas.

Os tempos atuais parecem ser particularmente extraordinários. Portanto, por esse motivo, para se acalmar um pouco, faz-se necessário dizer algumas palavras sobre o que nos é dito no Livro do Apocalipse de São João, o Teólogo. Eu gostaria de começar pelo final, especificamente pelas palavras: “Amém! Ora, vem, Senhor Jesus! A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós. Amém!” (Ap. 22:20-21).

Vamos pensar sobre isso. Suponha que um de nós vivesse até os últimos tempos, experimentando apenas uma pequena parte daqueles terríveis eventos preditos sobre os últimos tempos, mas nem todos em sua totalidade. O Apóstolo João, no entanto, viu tudo com seus próprios olhos – apesar disso, ele não teme nem entra em pânico, antes termina seu relato com uma exclamação maravilhosa. Ele ainda coloca a ênfase final em nosso Salvador, e não no Anti-Cristo.

Hoje, ouvimos falar acerca de fantasias de alguns estudiosos, filósofos e escritores sobre o passado cósmico ou a cibernética, o futuro tecnocrático da humanidade, alinhando possíveis planos e cenários, mas tais discussões deixam de fora o aspecto mais importante – o significado e o ponto de vista de tudo isso. Para onde vamos? Por que as pessoas existem? Por que o mundo existe? Tudo realmente termina com um túmulo bruto para cada pessoa e vazio, sem espaço, para a vida no universo além do túmulo?

Entendemos muito bem que isso não é assim. Portanto, o Apocalipse, como parte da Sagrada Escritura – também é um livro de significados. Precisamos ver nele o colapso de nossa civilização enferma, à qual estamos tão apegados, e é por isso que tememos, não a destruição de nossas esperanças e planos de férias, e nem mesmo, por final, as dificuldades que os últimos cristãos na Terra enfrentarão, mas a vitória de Cristo sobre o diabo, a vitória da vida sobre a morte, a destruição de todo mal causado por mãos humanas e patas demoníacas.

Precisamos esperar não pelo “focinho do bode”, pensando que ele, o diabo, está de certa forma no controle de algo aqui, separado de Deus, mas nosso foco deve estar no Criador que nos ama infinitamente. Após o Juízo Final, chegará o tempo em que a esperança cristã se dissipará, tudo já estará decidido, mas até então viveremos com a esperança da eterna alegria com Aquele que deu a vida por nós.

Retornemos à situação de hoje. No que diz respeito aos problemas do fim do mundo, foi suficientemente e claramente declarado, e todos conhecemos mui bem tais citações. No entanto, aqui está a pergunta: Pode o Coronavírus ser considerado 100% um sinal da vinda do Anti-Cristo?

Eu acho que a resposta é não. De maneira nenhuma, isso significa que devemos abandonar a oração e a sobriedade, ficarmos fracos, “presos” à internet e aos jogos de computador durante a quarentena.

Eis um exemplo. No sexto capítulo do Apocalispe, lemos o seguinte: “E olhei, e eis um cavalo amarelo; e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o Hades o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra” (Apoc. 6:8). Eusébio de Cesarea menciona que muitos cristãos associaram tais palavras não ao futuro distante, mas ao tempo das perseguições de Maximiano.

A menção dos problemas pode ser vista em tais palavras: “E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, e o seu reino se fez tenebroso; e os homens mordiam a língua de dor. E por causa de suas dores e chagas, blasfemaram do Deus do céu e não se arrependeram de suas obras” (Apoc. 16: 10-11). Tal discurso é sobre úlceras pelas quais as pessoas serão reduzidas pelo Anti-Cristo, ou seja, uma punição física muito específica que dificilmente pode ser atribuída ao Coronavírus, 80% das pessoas que sofrem da forma mais branda e 3-4% da forma mortal, além disso, as pessoas atingidas em média entre 70 e 80 anos de idade. No décimo segundo capítulo, lemos sobre a aparência de certa mulher, com uma coroa de estrelas, vestida com o sol e a lua aos seus pés, que “estava grávida e gritava com ânsias de dar à luz” (Apoc.12: 2). Alguns comentaristas veem nesta imagem a Mãe de Deus, mas luminares tais como Hipólito, Metódio e André de Cesarea interpretam como representando a Igreja. Assim “dores de parto” - essa terminologia clara, significa os sofrimentos que os cristãos enfrentarão durante o fim dos tempos. Eis aqui uma analogia direta com as palavras do Apóstolo Paulo: “Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão” (I Ts. 5: 3).

Para resumir um pouco. No Apocalipse, de fato, há indícios de doença, mas eles parecem, de muitas maneiras, muito mais concretos e assustadores do que o pânico exagerado em torno do Coronavírus.

Dizer que os acontecimentos mundiais de hoje são uma espécie de ensaio para o futuro da sedução de pessoas pelo Anti-Cristo, é totalmente possível, mas isso ainda precisa ser realizado com base nas consequências do que acontecerá no futuro.

Por enquanto, não é necessário afirmar algo assim com um grau significativo de probabilidade. Devemos, cristãos, temer possíveis provações futuras? Claro que não. Não estamos esperando pelo Anti-Cristo, mas por nosso Salvador, e se alguém vir o fim do mundo, esse tempo, apesar de todas as dificuldades, deve ser um tempo de feliz e paciente expectativa de encontrar-se com Cristo: Amém, vem, Senhor Jesus! MARANATHA!

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