Afinal, Bob Marley foi ortodoxo ou não?
PEREIRA monja Rebeca (2017)
Questões de ordem terminológica em função do dogma da natureza de Cristo implicaram em conflitos e por conseguinte no primeiro cisma no interior do Cristianismo. Vale também salientar a rixa das escolas teológicas de Antioquia e Alexandria e a tensa atmosfera gerada por opiniões divergentes.
O Rastafarianismo, ou religião Rastafári, ou ainda movimento rastafári, foi um fenômeno da segunda metade do século XX que misturou elementos religiosos, políticos e musicais em torno da figura de Haile Selassié I (1892-1975) — imperador da Etiópia entre os anos de 1930 a 1974. Selassié considerava-se herdeiro direto do rei bíblico Salomão e da rainha Sabá, dos quais, segundo a tradição etíope, haveria se formado a dinastia salomônica que reinou naquela região durante a Idade Média. Seus seguidores consideram-no o próprio Jah, corruptela da palavra Javeh, isto é, o próprio Deus.
O fato da conversão do grande astro
e pai do reggae, Robert Nesta Marley ao Cristianismo e a repercussão que um
post tomou aqui no Brasil levou-me a dedicar um tempinho as seguintes linhas.
Bob Marley se converte ao
Cristianismo em 1980, sendo batizado e aceite como membro da Igreja Ortodoxa
Etíope de Tewahedo. Esta igreja faz parte do grupo das Igrejas Ortodoxas
Orientais, incluindo ainda a Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, a Igreja Ortodoxa
da Armênia, a Igreja Ortodoxa Siríaca, a Igreja Ortodoxa Malankara da Índia e a
Igreja Ortodoxa Eritreana de Tewahedo. Estas igrejas são não-calcedonianas. O
que quer dizer isto? Quer dizer que se separaram do pleroma da Igreja Cristã
(ainda indivisa, no sentido do cisma de 1054) na altura do IV Concílio
Ecumênico na Calcedônia, onde a heresia do Monofisismo foi condenada.
templo etíope |
clérigos etíopes |
Questões de ordem terminológica em função do dogma da natureza de Cristo implicaram em conflitos e por conseguinte no primeiro cisma no interior do Cristianismo. Vale também salientar a rixa das escolas teológicas de Antioquia e Alexandria e a tensa atmosfera gerada por opiniões divergentes.
Quanto ao astro do reggae, sabe-se
que sua mãe (jamaicana) lia frequentemente a Bíblia em casa e frequentava os
serviços na igreja cristã com os avós. Seu pai era um inglês muito mais velho
que a conheceu num de suas passagens pela Jamaica.
Bob Marley não se aproxima desta
piedade vivida no seio de sua família em sua adolescência e vem abraçar o
Rastafarismo enquanto adulto. Ele se casa com Alpharita Anderson (famosa Rita
Marley) que também se converte aos Rastafari após a visita do Imperador etíope
Haile Selassie I a Jamaica. Os rastafari adoravam Selassie como o Messias e
Salvador. Bob Marley se dedica por inteiro a esta crença que misturava o uso da
cannabis com filosofias do gênero, expondo suas crenças em muitas de suas
músicas e principalmente em seu estilo de vida. Vale lembrar que as cores que
remetem ao reggae são justamente aquelas da bandeira da Etiópia e não da
Jamaica. A bandeira Rastafári leva as cores daquela da Etiópia mas estampa
o leão de Judá, fazendo referência a figura de Haile Selassie, o Rei dos Reis,
da descendência de David , fruto da relação da rainha de Sabá com o Rei Salomão.
bandeira da Etiópia |
bandeira da Jamaica |
bandeira Rastafari |
O Rastafarianismo, ou religião Rastafári, ou ainda movimento rastafári, foi um fenômeno da segunda metade do século XX que misturou elementos religiosos, políticos e musicais em torno da figura de Haile Selassié I (1892-1975) — imperador da Etiópia entre os anos de 1930 a 1974. Selassié considerava-se herdeiro direto do rei bíblico Salomão e da rainha Sabá, dos quais, segundo a tradição etíope, haveria se formado a dinastia salomônica que reinou naquela região durante a Idade Média. Seus seguidores consideram-no o próprio Jah, corruptela da palavra Javeh, isto é, o próprio Deus.
O imperador etíope ficou conhecido
mundialmente em 1936, quando discursou para os representantes da então Liga das
Nações a respeito do avanço dos conflitos e das teorias racistas que
culminariam na Segunda Guerra Mundial. Sua postura contra a violência fez com
que ele recebesse a denominação de Ras Tafari, que significa “Príncipe da Paz”.
Os negros jamaicanos do início do
século XX, descendentes de escravos africanos que foram levados para a Jamaica
pelos ingleses, viam na figura de Salassié – o único rei soberano do continente
africano – um caráter messiânico, ou seja, entendiam que sua realeza entre as
nações africanas era a manifestação da divindade em sua pessoa. Essa crença em
Selassié como sendo o Jah difundiu-se
entre a população pobre jamaicana e tomou contornos bastante idiossincráticos
nesse país.
Outras
características do rastafarianismo são os hábitos alimentares, basicamente
fundamentados no consumo de vegetais, leguminosas, frutas, etc., bem como o uso
da marijuana (maconha) como elemento integrante do
ritual rastafári. A fundamentação para esses hábitos, segundo os seguidores do
rastafarianismo, está toda na Bíblia, em livros do Antigo Testamento.
Tal adoração a Selassie é um pouco
irônica visto ser ele próprio cristao. O Imperador etíope pede até ao Arcebispo
da Igreja Etíope de Tewahedo que se dirigisse a Jamaica para dar início a uma
igreja que adorasse Cristo e não sua figura, com a esperança de que os
jamaicanos passasem a conhecer Cristo. Tal Arcebispo – Yesehag – tornou-se a
referência da missão da Igreja Ortodoxa Etíope em Kingston (capital da
Jamaica).
O próprio Arcebispo conta que Bob
frequentava a igreja e ao expresser seu desejo em fazer-se batizar tenha sido
alertado por pessoas influentes em sua vida professional ser um ato sem
medidas, visto apresentar aspectos diferentes as crenças do Rastafarismo. Ele
esperava o bom momento…
Muitos dizem que Bob ficou muito
tempo fora da igreja, enquanto Rita com as crianças se convertem em 1972. Bob
se encontrava sob os conselhos espirituais do Arcebispo mas somente é batizado
pouco antes de sua morte, recebendo finalmente o sacramento na Igreja Ortodoxa
Etíope em New York, sob o nome de Berhane Selassie – cujo significado exprime
"luz da Trindade”.
Registro de seu funeral no YouTube: https://youtu.be/8uhK4YVv_aw?list=RD8uhK4YVv_aw
Uau! Muito obrigada por esse texto, Irmã Rebeca. Jamais imaginei tal fato.
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