Rentabilizar espiritualmente nosso tempo livre

ATANASIOS de Limassol, Metropolita
tradução de monja Rebeca (Pereira)


Querendo o homem ou não, mais o tempo passa, mais ele envelhece, mais ele vê que o tempo corre e que os anos crescem, quer dizer que o passado aumenta e o futuro ameniza. E a própria consciência deste fato pode nos ajudar a compreender muitas coisas e ter um justo julgamento para usarmos espiritualmente o tempo que dispomos. Um dos elementos em função dos quais seremos julgados é a questão do tempo. Vemos isto junto a pessoas santas. Estas têm uma enorme sensibilidade em relação a questão do tempo e não querem de maneira alguma perdê-lo. Os grandes Santos são aqueles que colocam em valor até o último segundo de seu tempo.

Muito geralmente, as pessoas dizem: “Que Deus me dê anos a fim de que meus filhos cresçam, que eu me case, arranje meus afazeres, realize boas obras, tenho coisas a fazer que ainda não conclui”... Mas, podemos nos perguntar se esta demanda é justificada pois me parece que mesmo se vivêssemos mil anos estaríamos ainda a fazer nada. Começamos algo continuamente e não o concluímos, vivemos na angústia e não encontramos repouso.

O que compreendemos por “encontrar repouso”? Quando o homem se repousa realmente? O repouso real para o homem consiste em se consagrar, não seria pelo menos um pouquinho, à oração. Depois de um dia tenso, se um pouco de tempo é consagrado à oração e se o homem se comunica com Deus, com o Espírito Santo que se encontra presente em abundância na Igreja, ele ressente então muito repouso, pois que este não consiste somente em dormir durante horas e fazer muitas viagens. Tudo isto, certamente, é um tipo de repouso corporal, no entanto, o repouso da alma, o repouso espiritual é bem mais significativo e importante. Em efeito, o homem se repousa realmente quando aprende a ter uma relação viva com Deus. Sabemos a que ponto o espírito do homem encontra o repouso nos serviços divinos de nossa Igreja, tais como o Cânone de Suplicação à nossa Toda-Santa Mãe de Deus durante as duas primeiras semanas do mês de agosto (período do Jejum da Dormição). Sabemos em que ponto estes santos tropários contribuem para que o espírito do homem se eleve a Deus e comunique com o Espírito Santo, dado por Deus àqueles que O querem e O pedem. Estes tropários foram escritos por Santos. Estes fizeram a experiência do Espírito Santo, da presença de Deus em suas orações e experimentaram exatamente esta experiência nas melodias e nos hinos da Igreja.

É assim que temos a percepção correta do repouso, a percepção correta dos divertimentos, pois creio que o homem pode repousar por uma oração, um ofício, por uma mistagogia, de forma que não conseguiria nem num dos melhores hotéis ou centros de diversão, onde as pessoas vivem e saem, por muitas vezes, mais cansadas e angustiadas do que entram.

Eis um fato paradoxal hoje: passamos dias e noites em centros de distrações, hotéis e cafés, em lugares cheios de calma, de alegria e sorrisos e no fim das contas, extenuados. Desde a manhã, despertamos clamando, jurando, prontos ao combate... Isto não se passa na Igreja. São João Crisóstomo proferiu as seguintes palavras a este respeito: “Queres ver o que a Igreja é? É muito simples. Entre na igreja e verás que é um lugar onde entras como lobo e sais como cordeiro, entras salteador e sais santo, entras colérico e sais manso, entras homem e sais deus por graça”.

Eis a Igreja! É não podemos duvidar que o homem no espaço eclesial, na atmosfera dos hinos, não adquira muita serenidade. Eis porque a Igreja Ortodoxa possui numerosos ofícios; é uma Igreja litúrgica por excelência e toda influência terapêutica que ela exerce sobre o homem e sua alma é uma influência litúrgica.

Eis porque é uma benção para o homem colocar corretamente em valor seu tempo, encontrar um pouco de tempo para se repousar realmente, mas principalmente consagrar seu tempo a Deus e aprender a orar. Em nossa vida cotididana, encontramos muitas dificuldades e decepções, muitas pessoas se encontram face a impasses, muitos pontos de interrogação e problemas existem nas almas dos homens e muita angústia. E ainda, esta obscuridade que entra na alma e faz com que o homem ignore o que ele realmente é, o que ele faz e para onde vai, ele não sabe o que quer. Todas estas coisas podem ser tratadas quando o homem começa dar o correto valor ao seu tempo e a orar, pois que a oração lhe dá forças e luz; eis que Deus, Ele-mesmo é Luz, e a Luz Divina começa pouco a pouco a dissipar as trevas espirituais.

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